a mãe desmemoriada

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Outra história daquelas…..
Eu trabalhei três anos para uma empresa de publicação de San Francisco. Eu fazia meu trabalho em casa, à noite, no meu computador. Os donos da empresa eram jovens empreendedores que mergulharam na onda das dotcoms no meio da década de noventa e foram alguns dos que se deram bem, porque venderam a empresa para uma grande corporação no final da década, antes de tudo começar ir pro brejo. Eu fui somente uma vez à San Francisco para conhecer meu chefe e o pessoal que trabalhava nos headquarters da empresa. Normalmente eu me comunicava diariamente com eles por e-mail, ou se dava algum pau no sistema eu ligava pra Oakland onde o técnico deles morava. Então eu fazia meu trabalho diário, enviava um e-mail pro Mike – que era o meu chefe – contando o que eu tinha feito, se tudo tinha corrido bem, uma mensagem quase padrão porque eu raramente enfrentava problemas.
Mas num belo dia eu praticamente não consegui trabalhar de tão lento que estava o meu computador. De um dia pro outro eu mal conseguia passar de uma página para outra no browser. Como o Gabriel tinha acabado de comprar um computador usado de um amigo e estava ajeitando a máquina, não precisei de muito tempo pra ter uma pulga eletrificada pulando frenéticamente atrás da minha orelha. Só faltava a confirmação, mas eu tinha noventa e nove por cento de certeza que tinha o dedinho do Gabriel naquela história. Fiquei puta da cara, como eu classicamente fico quando as coisas que deveriam funcionar, não funcionam e escrevi pro Mike avisando que naquele dia eu não tinha conseguido fazer o trabalho. Uma mensagem curta e grossa, porque eu estava muito brava até pra me estender no assunto.
No dia seguinte à tarde, quando o fulaninho chegou da escola, eu fui interroga-lo e já ataquei direto no ponto das minhas suspeitas:
– Gabriel, você tirou memória do meu computador ontem?
– sim, tirei! Porque eu estava precisando pra pôr no meu computador.
GRRRRRRRRRRRRRRRRR!!! Eu sabia! Como se eu não conhecesse o adolescente geek que eu tinha em casa! Nem lembro o que foi que aconteceu, mas deve ter rolado um barraco clássico da minha parte, com uma reação explanatória defensiva da parte dele e combinamos que ele teria que devolver a memória JÁ, NESTE INSTANTE, porque eu precisava trabalhar [ora boletas!] à noite e já tinha perdido um dia por causa daquilo [e se eu não trabalhava, não ganhava, né José?!] e que compraríamos memória extra pra ele.
À noite fui checar meu e-mail antes de começar a trabalhar e tinha uma mensagem do Mike perguntando POR QUÊ eu não fiz o trabalho, porque eu não dei explicação nenhuma e ele queria saber os motivos em detalhes. Eu contei a história – meu computador estava uma lesma lerda porque meu filho tirou memória pra pôr no computador dele.
No outro dia recebi resposta do Mike:
” HA HA HA HA HA HA!!!!! This was the funniest story I’ve heard in years!! Your son is a truly child of the 90’s!!!!! ”
Sim, senhor…. Pimenta no PC dos outros é refresco, né???

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