vinte e um

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Eu lembro de cada detalhe daquele dia vinte e sete de abril de mil novecentos e oitenta e dois. Lembro do dia anterior também, a partir do momento que tive a primeira contração. Eu estava vendo tevê, um programa triste sobre uma criança que iria morrer. Fui correndo arrumar a minha malinha. Tomei banho, lavei o cabelo, passei perfume, vesti aquele vestido que combinava com as sapatilhas de bailarina beige. As famílias em total alvoroço. Fomos para o hospital: eu, Ursão, minha mãe e minha sogra.
Lembro de todos os micro-detalhes: de como o médico disse ‘nooossaaa, que barriga mais linda!’, de como eu fiquei surpresa com toda aquela dor, da visita do meu cunhado com os amigos, da minha ida pra sala pré-parto e de como a dor me fez esquecer o que eu estava fazendo ali e do alívio que eu senti quando lembrei que estava sofrendo temporáriamente para ter o meu bebê, que eu já não via a hora de ver como ele era!
E quando ele nasceu eu achei que ele era a minha cara e fiquei preocupada porque nem tínhamos escolhido um nome. Eu queria descansar e as famílias não saiam do quarto, todo mundo olhando pra minha cara como se eu fosse a mãe do menino Jesus.
Tantos anos e eu não esqueci nenhum pequeno detalhe. Tá tudo aqui guardado, como se fosse um filme. E todo dia vinte sete de abril eu acordo e relembro. No aniversário do meu filho Gabriel!

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o passado não condena