Eu estava escrevendo um artigo sobre Neil Young em 1995, quando li que ele estava trabalhando na trilha sonora de um filme do Jim Jarmusch. E na época eu li que ele compôs todas as músicas enquanto assistia ao filme Dead Man num telão. A guitarra de Young até parece um trabalho de improviso, mas os acordes se encaixam perfeitamente em cada cena do filme. A música de Neil Young é o arremate perfeito para um filme perfeito. Uma obra-prima, na minha opinião.
Mas eu não vi Dead Man em 1995. Vi ontem, na tevê. E me senti como se tivesse perdido um trem, que só passa de vez em quando. Por quê eu não fui ver esse filme no Broadway Theater quando ele passou por lá? Não sei.....
Dead Man é um western em preto & branco. O contador William Blake [Johnny Deep] pega um trem em sua cidade natal, Cleveland, e parte para o oeste onde ele tem uma possibilidade de um emprego. Tudo dá errado. Ele não consegue o trabalho e ainda mata o filho do todo-poderoso da cidade em auto-defesa. E foge. Blake é perseguido, ferido, encontra um índio chamado Nobody [Gary Farmer], que acredita que Blake é o poeta inglês e que se torna um guia espiritual na sua jornada do contador de encontro à morte. O filme é cheio de metáforas, poesia, detalhes curiosos, chocantes e engraçados. A fotografia é belíssima, a música é perfeita, os atores estão impecáveis. Muitas aparições breves, como as de Iggy Pop, Gabriel Byrne, Robert Mitchum, John Hurt, Alfred Molina e Billy Bob Thornton.
O índio Nobody cita pedaços das poesias de William Blake durante o filme. Algumas cenas são intrigantes e remetem ao fato de que Blake está morto ou morrendo. Nobody sempre pergunta se ele " tem tabaco" ouvindo sempre a mesma resposta "não, eu não fumo". O tabaco é uma oferta espiritual que os índios colocam junto com seus mortos.
Dead Man tem cenas hilárias, como os bandidos discutindo o que Blake fazia com seu cabelo para mantê-lo tão macio. Entre eles, Iggy Pop, vestido de mulher. Jarmusch também presta homenagem à Lee Marvin, com dois personagens carecas idênticos, chamados Lee e Marvin. O filme tem algumas cenas grotescas [um dos perseguidores de Blake comendo o braço assado do seu companheiro], outras poéticas [Blake deitando no chão ao lado de um pequeno cervo morto] e muitas cenas simbólicas ou simplesmente bonitas.
No primeiro encontro entre Bill Blake e Nobody, o índio pergunta:
- did you kill the white man who killed you?
E Blake responde:
- i am not dead.
São muitos os detalhes significativos em Dead Man, que conta apenas a história soturna de um homem comum sendo empurrado brutamente em direção ao seu inevitável destino - a morte.
Fer Guimaraes Rosa - 19 de January, 2004 04:10 PMfer, o Jamursch é um dos meus cineastas preferidíssimos entre os preferidos.
E dead man um dos filmes da minha vida.
Mas sua análise é extremamente poética..à altura, mesmo.
beijos
M.
P.S Aliás uma boa idéia era ver os poetas mais citados em filmes e acho que Blake ganha...
Filmaço, assisti outro dia, no vídeo. Você vê... histórias são sempre simples, banais. O que importa é o jeito de contar. Aí também está o prazer de quem conta! :0)
Oi Fernanda. Seu sobrenome eh encantador...:o)) Sua webpage tambem. Saudacoes berkeleyanas! Quando estiver vindo por aqui, mande um recadinho! Alfredo.
Ai Fer, nunca ví nem ouví falar sobre esse filme... mas vou TER que ver, pq acho que vou gostar muito...
Acabei de voltar do cinema. Ví "o retorno do rei", último filme da trilogia do "the lord of the rings". Demorei pra ver o primeiro, pq achei que ia ser idiota (tipo independence day, armagedon) - não sei pq pensei isso. Foi só ver o primeiro que comprei o livro e lí bem rapidinho. Aí só esperei pra sairem as continuações, pra ver se eram uma boa interpretação do livro.
Como sempre, o livro é muuuito melhor, mas a trilogia é MARAVILHOSA, e já está entre meus filmes preferidos - que são muitos, e bem diferentes entre sí. Vc já viu "leningrado cowboys" ?
beijinho
Ana Maria - January 21, 2004 07:50 PM