June 13, 2004

eu moro numa cidade chamada Davis

Lembro que quando passávamos férias em família em algum lugar diferente, na volta eu sempre estranhava pequenos detalhes da minha casa e da minha cidade. Duas semanas viajando já eram suficientes para dar essa sensação de estranheza e exigir um certo reajuste. Lembro de surtar com o desenho da cerâmica do chão da cozinha da minha casa. Lembro daquele sentimento gostoso de reconhecer coisas familiares e ir-se reajustando à velha rotina novamente.

Quando abri a cortina da janela da cozinha pela manhã e vi os caminhantes e corredores do Arboretum, com suas caras americanas, seus chapéus, meias brancas - caras mais famíliares para mim do que a das famílias arrumadinhas dos shoppings da Barra da Tijuca - tive a sensação de que estava reentrando no meu cotidiano.

A principio estranhei a brancura da minha cozinha, a claridade da casa, o verde entrando pela janela. Assustei com o matagal se alastrando pela horta, os tomateiros tomando conta de tudo, já lotados de tomatinhos ainda verdes. Estranhei o estranhamento do gato, a bagunça da casa, o cheiro de verdura podre na geladeira, o gosto da água, o cheiro do sabonete, o barulho do trem, o cotidiano que não parou enquanto eu estive fora.

Fomos almoçar num dos nossos "carne-de-vaca" de sempre. Escolhemos o chinês. Dirigimos pela cidade enquanto fazíamos a digestão e decidíamos o que fazer. Minha cidade, Davis. Ela está crescendo, mas como eu nem tinha reparado? Fomos à nossa livraria favorita enquanto esperávamos dar o horário para pegarmos uma sessão de cinema. Ganhei um livro, que ele insistiu em me comprar. Vimos o filme na sala lotada de pipocudos, de mãos dadas, rindo muito. Depois, fomos comprar uma pizza para o jantar. Fiz uma tour pela cidade que ainda estou vendo com outros olhos. A casualidade dos chinelos, a tranqüilidade, as centenas de SUVs, os preços em dólar, o calor seco, a rotina de uma cidade pequena cheia de charme.

Essa sensação de estranhar, reconhecer e reajustar é a melhor coisa do mundo! Pena que dure tão pouco e aconteça somente quando viajamos.

Fer Guimaraes Rosa - June 13, 2004 09:16 AM
comments

Ah, vc teve aqui pertinho de casa na Barra... eu moro no Recreio, do ladinho...



Dasher - June 15, 2004 10:39 AM

Fer, saudades! Não conseguimos nos ver mas quem sabe um dia! Seu post de retorno ao lar me emocionou muito porque eu vejo em vc a felicidade de estar em casa. Seja ela onde for! Davis é seu lar porque vc criou ai seus laços, porque ai estão seus amores: Uriel e Gabriel! Seu jardim, sua horta, sua vida. Nunca me senti assim na França. Eu punha os pés em casa e me sentia perdida. Chorava dias e dias sem parar. Hoje eu me sinto em casa em Sorocaba. Eu adoro cada canto da cidade, eu gosto dos cheiros, das pessoas, nada me é estranho. Mas durante anos eu não tive um lar. Mesmo quando pequena. Nós mudávamos muito e eu nunca me sentia em casa em nenhuma cidade. Desculpe...o cometário se estendeu muito. Welcome back. Beijos



Gisela - June 15, 2004 07:48 AM

Fe, tô com saudades, de você e dos seus posts! :O)

beijo



Lu - June 15, 2004 06:17 AM

A sensação de voltar pra casa é mesmo sempre muito boa. É a volta pro ninho, pras nossas coisas, pra nossa vida...

:o*



Alê - June 14, 2004 06:23 PM

É! Eu também não sabia que aí tinha trem. Mais um som para compor o cenário geral.
Que bom que chegou a passar aqui em Barão. Deu para dar uma passeadinha ou foi só até a unicamp? Eu gosto muito daqui.Dá para resolver a vida sem ir para o centro.
Concordando com todo mundo: esse seu post está uma graçula, terno e sincero.
Beijos
Cléu



Cléu - June 14, 2004 02:32 PM

Welcome back, Fer! Devagarinho tudo vai voltar ao normal. Obrigada por aquela mensagem, que só me fez, é claro, muito bem ! Estou pensando em tudo isso, uma descrição muito bem feita dessa ida e volta. Vou guardar algumas das tuas frases num cantinho pra reler de vez em quando. Um abraço.



Tereza (Bruxelas) - June 14, 2004 02:32 PM

Fer, que texto lindo, mesmo!
E os patinhos, já encontrou com algum? ;)

Beijo!



garota urbana - June 14, 2004 01:26 PM

Texto maravilhoso.
Conseguistes expressar tão bem esse sentimento estranho de ser por alguns segundos, minutos, horas...estrangeiro em nossa própria rotina.



paula - June 14, 2004 11:37 AM

Oi Fer, tudo bem?
Fiquei muito feliz em saber que já está em casa e que está tudo bem.
Fotos lindas de uma família muito bonita e feliz. Adorei os pequenos.
É verdade, seus textos estão melhores do que nunca.
Poraqui, tá tão frio. Brrrr!!!
Estou saindo para enfrentar o frio, depois te escrevo.
Beijos,



gutogalli - June 14, 2004 10:01 AM

detesto aquelas pipocas fedorentas e seus comedores e seus ruídos no cinema, me enlouquece. bom é alugar vários filmes e assistir sozinho ou com uma pessoa discreta (rs)



ricky - June 14, 2004 08:25 AM

bem vinda!
estah vendo como viajar tem um lado magnifico?
beijo grande, fer,



carola - June 14, 2004 04:55 AM

Que lindo. Acho que esse vai passar a ser meu texto predileto. Talvez melhor que a "cronica de um sábado qualquer".
Sem palavras.
Um beijão, com saudades.

P.S.: Eu vi o Bob lá no meio das fotos do Brasil??? É ele o "needy"? :^))



Moa - June 13, 2004 03:45 PM

eee... saudade!! :-)
é engraçado, vc sempre me lembrou o jeito da minha irmã, e agora, lendo que vc decorava suas cartinhas com adesivos, como ela, confirma-se minha intuição. rs. beijos!!! muito bom te ler.



Bia Badaud - June 13, 2004 01:12 PM

Fe, esqueci de perguntar como o gatonildo te recebeu. E não sabia que aí tinha trem.

beijo



Lu - June 13, 2004 10:47 AM

Fer,
bom regresso!!! Estas férias fizeram um bem danado e estás mais inspirada do que nunca; que texto maravilhoso!
Gostoso por demais ver tuas fotos com a família, quanta felicidade!



Lia - June 13, 2004 10:41 AM