Lembro que quando passávamos férias em família em algum lugar diferente, na volta eu sempre estranhava pequenos detalhes da minha casa e da minha cidade. Duas semanas viajando já eram suficientes para dar essa sensação de estranheza e exigir um certo reajuste. Lembro de surtar com o desenho da cerâmica do chão da cozinha da minha casa. Lembro daquele sentimento gostoso de reconhecer coisas familiares e ir-se reajustando à velha rotina novamente.
Quando abri a cortina da janela da cozinha pela manhã e vi os caminhantes e corredores do Arboretum, com suas caras americanas, seus chapéus, meias brancas - caras mais famíliares para mim do que a das famílias arrumadinhas dos shoppings da Barra da Tijuca - tive a sensação de que estava reentrando no meu cotidiano.
A principio estranhei a brancura da minha cozinha, a claridade da casa, o verde entrando pela janela. Assustei com o matagal se alastrando pela horta, os tomateiros tomando conta de tudo, já lotados de tomatinhos ainda verdes. Estranhei o estranhamento do gato, a bagunça da casa, o cheiro de verdura podre na geladeira, o gosto da água, o cheiro do sabonete, o barulho do trem, o cotidiano que não parou enquanto eu estive fora.
Fomos almoçar num dos nossos "carne-de-vaca" de sempre. Escolhemos o chinês. Dirigimos pela cidade enquanto fazíamos a digestão e decidíamos o que fazer. Minha cidade, Davis. Ela está crescendo, mas como eu nem tinha reparado? Fomos à nossa livraria favorita enquanto esperávamos dar o horário para pegarmos uma sessão de cinema. Ganhei um livro, que ele insistiu em me comprar. Vimos o filme na sala lotada de pipocudos, de mãos dadas, rindo muito. Depois, fomos comprar uma pizza para o jantar. Fiz uma tour pela cidade que ainda estou vendo com outros olhos. A casualidade dos chinelos, a tranqüilidade, as centenas de SUVs, os preços em dólar, o calor seco, a rotina de uma cidade pequena cheia de charme.
Essa sensação de estranhar, reconhecer e reajustar é a melhor coisa do mundo! Pena que dure tão pouco e aconteça somente quando viajamos.
Fer Guimaraes Rosa - June 13, 2004 09:16 AMAh, vc teve aqui pertinho de casa na Barra... eu moro no Recreio, do ladinho...
Fer, saudades! Não conseguimos nos ver mas quem sabe um dia! Seu post de retorno ao lar me emocionou muito porque eu vejo em vc a felicidade de estar em casa. Seja ela onde for! Davis é seu lar porque vc criou ai seus laços, porque ai estão seus amores: Uriel e Gabriel! Seu jardim, sua horta, sua vida. Nunca me senti assim na França. Eu punha os pés em casa e me sentia perdida. Chorava dias e dias sem parar. Hoje eu me sinto em casa em Sorocaba. Eu adoro cada canto da cidade, eu gosto dos cheiros, das pessoas, nada me é estranho. Mas durante anos eu não tive um lar. Mesmo quando pequena. Nós mudávamos muito e eu nunca me sentia em casa em nenhuma cidade. Desculpe...o cometário se estendeu muito. Welcome back. Beijos
A sensação de voltar pra casa é mesmo sempre muito boa. É a volta pro ninho, pras nossas coisas, pra nossa vida...
:o*
É! Eu também não sabia que aí tinha trem. Mais um som para compor o cenário geral.
Que bom que chegou a passar aqui em Barão. Deu para dar uma passeadinha ou foi só até a unicamp? Eu gosto muito daqui.Dá para resolver a vida sem ir para o centro.
Concordando com todo mundo: esse seu post está uma graçula, terno e sincero.
Beijos
Cléu
Welcome back, Fer! Devagarinho tudo vai voltar ao normal. Obrigada por aquela mensagem, que só me fez, é claro, muito bem ! Estou pensando em tudo isso, uma descrição muito bem feita dessa ida e volta. Vou guardar algumas das tuas frases num cantinho pra reler de vez em quando. Um abraço.
Fer, que texto lindo, mesmo!
E os patinhos, já encontrou com algum? ;)
Beijo!
Texto maravilhoso.
Conseguistes expressar tão bem esse sentimento estranho de ser por alguns segundos, minutos, horas...estrangeiro em nossa própria rotina.
Oi Fer, tudo bem?
Fiquei muito feliz em saber que já está em casa e que está tudo bem.
Fotos lindas de uma família muito bonita e feliz. Adorei os pequenos.
É verdade, seus textos estão melhores do que nunca.
Poraqui, tá tão frio. Brrrr!!!
Estou saindo para enfrentar o frio, depois te escrevo.
Beijos,
detesto aquelas pipocas fedorentas e seus comedores e seus ruídos no cinema, me enlouquece. bom é alugar vários filmes e assistir sozinho ou com uma pessoa discreta (rs)
bem vinda!
estah vendo como viajar tem um lado magnifico?
beijo grande, fer,
Que lindo. Acho que esse vai passar a ser meu texto predileto. Talvez melhor que a "cronica de um sábado qualquer".
Sem palavras.
Um beijão, com saudades.
P.S.: Eu vi o Bob lá no meio das fotos do Brasil??? É ele o "needy"? :^))
eee... saudade!! :-)
é engraçado, vc sempre me lembrou o jeito da minha irmã, e agora, lendo que vc decorava suas cartinhas com adesivos, como ela, confirma-se minha intuição. rs. beijos!!! muito bom te ler.
Fe, esqueci de perguntar como o gatonildo te recebeu. E não sabia que aí tinha trem.
beijo
Fer,
bom regresso!!! Estas férias fizeram um bem danado e estás mais inspirada do que nunca; que texto maravilhoso!
Gostoso por demais ver tuas fotos com a família, quanta felicidade!