tudo vale a pena

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Eu já fui mais perfectiva com coisas de limpeza. Agora não sou mais. Sosseguei. Quando eu me dividia entre dois empregos e não tinha tempo pra nada, ouvi – finalmente – os conselhos da minha mãe, que sempre me dizia ‘que se dane a casa, vai fazer coisas pra você!’.
But someone has got to do, what someone has got to do……..
Limpar a casa é imprescindível e como eu não tenho ninguém que faça essa tarefa por mim, tenho que faze-la, mesmo que seja eventualmente.
Ontem resolvi limpar os tapetes….. Eu não tenho muitas habilidades nesta área. Como eu sempre ouvia as pessoas comentarem de boas empregadas e faxineiras, eu NÃO sou um ‘pé de boi’. Eu limpo, mas não fica aquela beleza. Mas isso não importa. O que importa é que eu sempre fico reclamando quando tenho que fazer serviços do lar. Mas ontem, enquanto limpava aqui e acolá, tive uma lembrança de uma amiga canadense que enfrentava uma doença cruel, que foi diagnosticada quando ela estava no auge da carreira, da beleza e da vida, aos quarenta anos. Quando nos conhecemos ela tinha cinqüenta anos e já estava bem debilitada pela esclerose múltipla. Andava pouco, apoiada em duas bengalas, num esforço ímpar, tentando lutar contra a idéia de que mais cedo ou mais tarde ela iria ter que aceitar o conforto de uma cadeira de rodas. Eu tomava chá com ela toda segunda-feira – que preparava tudo e eu tinha a maior paciência de não tentar interferir. Saíamos para ir a museus, comer em restaurantes, visitar amigos. Conversávamos sobre tudo. Ela era uma mulher altíssima, linda e com uma mente brilhante, infelizmente enclausurada num corpo que já não queria responder aos seus comandos. Uma vez ela me disse o quanto sentia saudades do tempo em que podia limpar a própria casa. Ela sentia falta dessa atividade simples, mas que era um prazer, pois ela colocava um disco clássico para tocar e se entretinha por horas com as vassouras, panos e produtos de limpeza. Eu tentei me encantar com as minhas faxinas semanais, querendo imita-la e fazer por ela, que já não podia. Mas não consegui. Vez ou outra eu lembro dessa história e me sinto menos mesquinha, quando reclamo e chuto latas só porque tenho que abaixar e levantar e suar um pouquinho para limpar a minha pequena casa.

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o passado não condena