uma pequena grande mulher

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Eu não combino com nada pequeno. Tudo que eu uso tem sempre que ser grande. Bolsas, por exemplo. Lembro de carregar uma bolsa de nylon de viagem, daquelas made in china compradas no Paraguai, quando ia pra faculdade de psicologia nas antiguidades de mil novecentos e oitenta e um. Eu tinha dezenove anos, um metro e setenta e oito, cinqüenta quilos e uma timidez angustiante, que contrastava com o meu visual funkadélico. Eu levava na bolsa-mala, além dos livros, cadernos e mil e uma canetinhas, uma garrafa térmica cheia de ban chá que eu bebia no intervalo das aulas sentada no jardim interno do campus central da Puccamp. Muita gente achava aquilo o máximo: a bolsa, o chá, a minha cara de zen – que era pura pose, é claro!
Essa história é só pra ilustrar a minha fascinação por bolsas grandes. Sempre foi assim, quanto maior, melhor. Eu tinha que carregar o mundo nelas – livros, escova de dentes e fio dental, caixa de primeiros socorros, perfume, cinco cores de batom, dicionário, chaves, caderninhos, canetas, walkman, sementes de abóbora torradas, bon-bons, um par de meias, sanduiche, camiseta, agasalho, garrafa térmica com chá…
Às vezes eu saio um pouco da bolsa grande e vou pra bolsa média. Daí tenho que otimizar o espaço e não é fácil! Quando saio à noite, carrego uma bolsinha pequena, porque não tem nada a ver levar uma mala num bar, show ou festa. Mas normalmente estou carregando o mundo nos ombros.
Nesta semana comprei uma bolsinha. E não é bolsinha de sair… é uma bolsa pro dia-a-dia. Troquei de carteira, pois a minha não cabia lá. Tirei chaves do molho, eliminei a sacolinha de utensilhos de banheiro, tirei fora as moedas, saquei o caderninho, fiz uma limpa. Mesmo assim a bolsinha está estufada. Estou usando, porque inventei a história e agora vou até o fim. Mas aquela bolsinha parece que não combina comigo, sem falar que me dá a maior insegurança: vai que eu PRECISE de um pedaço de fio dental urgente? Ou de um creminho nas mãos? Ou de fazer uma anotação? Tô achando mesmo que esse visual de bolsinha não vai vingar…

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o passado não condena