may I?

*

Uns minutos antes do show da Laurie Anderson começar, um rapaz bem novinho, bem alto, com um sotaque estrangeiro que eu não consegui identificar e sentado na última fila do lado direito me chamou. Apontando para umas cadeiras vazias que ficam um pouco mais acima e que são muito mais confortáveis, ele perguntou se poderia trocar de lugar e sentar numa delas. Eu disse que não, que ele ficasse no lugar dele, pois as cadeiras poderiam já ter donos e até uns quinze minutos depois do show ter se iniciado, serem ocupadas. Ele resolveu ficar quieto no lugar dele.
Já estávamos com uns trinta minutos de show, a Laurie Anderson falando, falando, falando, quando o rapaz ligou o celular e começou a fazer alguma coisa nele. As outras voluntárias já esticaram o pescoção, porque é proibido fotografar os shows no teatro e o celular do guri poderia ser daqueles que tiram fotos. Eu acalmei as sargentas, dizendo – he is playing a game!
E parecia mesmo que ele estava jogando algo como tetris, mas na verdade não estava. Ele me chamou de novo e estendeu o braço na minha direção com o celular na mão, fazendo sinal para eu pegá-lo. Eu peguei e quando olhei para a telinha pude ler a mensagem que ele estava escrevendo pra mim – may i go to the bathroom?
Me deu um ataque de riso! Levantei, abri as portas do teatro e indiquei o caminho do banheiro pro guri, como se faz na escola. Ele disse todo sem graça – someone told me i could not go to the bathroom…. Tentei adivinhar quem teria dito aquilo pra ele, talvez alguma das sargentas que trabalhavam no meu tier. Ou elas falaram outra coisa e o guri entendeu errado?
Mas no final ele conseguiu sair da prisão e foi ao banheiro…. e não voltou mais.

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o passado não condena