TGFS – um passeio de índio na hora do almoço
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Minha horazinha de almoço é preciosa. Vou rápidamente pra casa de bike, tiro os sapatos, falo com os gatos, escovo os dentes, repasso perfume, leio correspondência, relaxo. Eu valorizo esse break no meio do dia. Mas hoje fui obrigada a mudar essa rotina, por causa de um evento anual para os funcionários da UC Davis. É o TGFS – Thank God for Staff, quando ganhamos um almoço indígena no parque, com atividades índigenas para o entretenimento da bugraiada. Nada contra os índios, que devem se divertir muito mais que os funcionários da Universidade da Califórnia, naquele picnic lá onde judas perdeu as botas, com uma comida insonsa e sob um sol de rachar coquinhos.
O dia já começou mal quando quase perdi a carona para a fazenda, onde teríamos mais uma reunião chata com os writers, quando eu fico lutando contra mim mesma para não soltar dez bocejos por segundo e tentando desesperadamente fazer com que meus olhos parem de se revirar de sono e tédio. Voltando da reunião chata, perdemos o comboio da turma que iria caminhar brejeiramente até o local do picnic. Adam e eu, deixados para trás, seguimos sozinhos e atravessamos o campus falando amenidades. Quando chegamos no TGFS eu já percebi a fria. Logo na entrada, um carpete vermelho – isso mesmo, com um bando de gente de ambos os lados carregando cartazes com dizeres cafonas elogiativos, e berrando frases estúpidas como – você são os MELHORES! Outro bando entrava na nossa frente e tirava a nossa foto, como se fossemos celebridades e eles paparazzis. Mas o pior ainda estava por vir. Bem na nossa frente, com a cara toda vermelha e a mão toda suada de cumprimentar um por um dos funcionários, estava nada mais nada menos que o chancellor da UC Davis, Larry Vanderhoef.
Entramos no picnic, arrumamos uma sombra pra estender o quilt que eu levei, pegamos água e comida – que estava bem mais pra menos do que pra mais, comemos, conversamos e voltamos, novamente à pé e pelo caminho mais comprido, torrando no solão da uma da tarde. Não comi nada especial, fiquei com o pé sujo, cansada, suada, descabelada, fiz uma bolha no dedinho, estou achando que estou fedendo e ainda tenho que trabalhar mais algumas horas. Já decidi que não vou ao TGFS do próximo ano. Nem pra poder apertar a mão suada do chancellor e dizer com cara de eu-te-conheco-de-outros-carnavais: ahn, helloow….
2 Comments
Não conheço a festividade Fer, mas que programão de índio, literalmente… Eu preferiria a interação com os gatos… Bjos
Totalmente aborígene, Fer. Aqui no Med Center também temos TGFS todo ano. O almoço invariavelmente consiste em um hamburguer pequeno, salada de batata com maionese, algumas frutinhas e uns biscoitos de quinta categoria de sobremesa. Para beber, refrigerante ou limonada. As atrações geralmente são brindes chinfrins com o logo do hospital, algumas banquinhas de artesanato feito por funcionários, e geralmente tem música tocando nos auto-falantes. Tem também alguns sorteios com prêmios bons, mas entre os milhares de funcionários, obviamente eu nunca ganhei nada. Acho que o pessoal vai em peso no TGFS principalmente porque é uma oportunidade de sair do escritório (ou do hospital) por uma hora ou duas, e de repente encontrar pessoas novas ou que você não via há algum tempo, ou então fazer um networking profissional num ambiente mais despojado.