how excellent is your name
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Minha religião é a Música.
Eu só estava lá por causa da Música. E eles só estavam lá cantando por causa da religião. Deus e Jesus são a inspiração para toda aquela maravilha. Eu me sinto culpada e envergonhada, porque não estou lá para louvar ninguém. Só estou lá para me arrepiar e aproveitar o som daquelas vozes.
Chegamos atrasados e o coral já estava posicionado na porta, pronto para entrar na igreja. Todos vestiam preto com detalhes em azul. Passamos por eles, que nos sorriram. Nós sempre nos sentimos bem vindos. Achamos um lugarzinho, que duas senhoras gentis nos indicaram. Dava pra contar nos dedos de uma mão o número de pessoas brancas dentro da igreja abarrotada de gente. Era óbvio que estávamos lá por causa da Música. Nossa pele e nossa cara nos denunciavam.
É muito difícil controlar minhas emoções quando eu ouço o Gospel. Eu já estava me emocionando no carro, ao lembrar da última vez que estivemos lá para ver o concerto das Mulheres de Branco e de como eu chorei descontroladamente quando elas entraram cantando e dançando na igreja. Eu não queria ser tão repetitiva nas minhas narrativas, mas com o Gospel não tem jeito, pois eu tenho sempre a mesma reação. Desta vez fiquei engolindo a vontade de chorar e segurando as lágrimas que insistiam em deixar meus olhos molhados. Não podia dar mais essa bandeira, de que estava lá só pela Música.
Foi uma missa cantada – a musical praise service. Eles não falam ‘missa’, eles dizem ‘serviço’. E o padre é um pastor. Eles são Batistas, do Novo Testamento. Eu reconheci algumas das mulheres no coral. As vozes maravilhosas, que mereciam estar gravadas em cds para a posteridade. Não acredito que ninguém ali pretenda seguir carreira artística. Eles cantam para o Senhor e para Jesus. Ali, a Música é somente uma maneira de rezar. “Praises go up, blesses come down”, eles afirmam. “Jesus, how excellent is your name!” é a frase repetida centenas de vezes durante o serviço. E a Música vem da alma e arrepia, faz chorar, dançar, bater palmas e pés.
Tudo aconteceu igualzinho como neste dia , com a diferença que desta vez o pastor deu uma bronca nos que estavam lá somente pelo entretenimento. A carapuça me serviu. Me senti mesquinha e vil, porque não tenho outra religião e não louvo nada nem ninguém, além da Música.