The Gospel Experience
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Acordamos às 9:30am pensando que eram 8:30am, porque esquecemos de adiantar os relógios antes de irmos dormir. Eu fiz um American breakfast para a minha mãe – scrambled eggs & bacon [e café, suco de laranja, muffins, waffles, queijo, marmelade e pão sourdough, que é típico desta região]. E fomos correndo para Carmichael, onde tinha um concerto de um quarteto de Gospel numa igreja. Chegamos lá super atrasados e – choque! – era uma igreja de brancos e o quarteto era uma coisa patética, com quatro figuras saídas de um filme do Frank Avalon, vestidos de blasers brilhosos e coloridos e com óculos escuros. Eles cantavam o Gospel imitando baladas da década de 60! Foi o tempo de entrar, sentar, ver os bananas cantando rimadinhos iu-a-ru-tchu-ru-iu e sair correndo, horrorizados. Eu disse pra minha mãe que em igreja de brancos não dava pra ela conhecer o Gospel. E não dá mesmo! Quando eu vi aquele bando de branquelos, me senti decepcionada e frustrada. Mas já que estávamos ali, resolvemos então tentar a igreja de New Highlands que fica mais ou menos perto e onde já tínhamos ido ouvir o Gospel umas três vezes. Uma igreja de negros, é claro! Arriscamos, apesar do horário, pois mesmo que pegássemos só o final do serviço, poderiamos perguntar se eles tinham algo durante a semana. Quando chegamos, vimos o pastor entrando. O serviço tinha acabado de começar. Praise the Lord! Minha mãe conseguir ouvir o Gospel! Um autêntico, não aquela imitação barata da igreja branquela de Carmichael.
Foi a primeira vez que eu participei de um serviço da igreja de New Highlands. Nós chegamos na hora da comunhão, que é no inicio. Os homens vestidos de terno azul, com luvas brancas, passavam pratos dourados com hóstias e bandejas com pequenos cálices de vinho. Quem queria comungar pegava a hóstia e o vinho e esperava, pra se fazer a comunhão todos juntos. Nessa hora eu e a minha mãe já estávamos chorando. Toda vez que eu ouço o Gospel meus olhos choram sózinhos. Eu não posso evitar. A música estava linda e todos na igreja vestiam suas roupas de domingo. Mulheres elegantérrimas de chapéu. Todos muito gentis. Eu morrendo de vergonha, porque sempre me acho uma bicona cara-de-pau, por ser branca e aparecer na igreja dos negros só por causa do Gospel. Numa parte da cerimônia eles saudaram os visitantes e pediram para todos os novos na igreja se levantarem. Minha mãe ficou de pé. Eles passaram microfones para todos os visitantes dizerem de onde eram e como tinham chego ali. Eu livrei minha mãe dizendo com um sorriso amarelo ‘she doesn’t speak english…’. ufa! Mas nossa vizinha de banco no final pegou nas mãos da minha mãe e disse que esperava vê-la lá no próximo domingo. Nós sempre nos sentimos bem-vindos, mesmo não pertencendo à comunidade e ainda por cima sendo brancos. Minha mãe adorou e ficou emocionada, como eu sempre fico. Eu não podia deixar de inicia-la no Blues e no Gospel, né? E fui logo fazendo tudo bem rápidinho, neste final de semana!!