Onde andará Clara Crocodilo?

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Eu ainda me lembro do show que eu vi com ele e sua banda no Teatro de Arena de Campinas. Era um teatro aberto – um anfiteatro – onde a Prefeitura da época organizava shows de graça para o povo. Eu fui em muitos desses shows. Dancei numa roda gigantesca ao som da Banda de Pífaros de Caruaru. Vi e ouvi um monte de gente moderna, fazendo música diferente. Íamos sempre em família: eu, Ursão e Gabriel – que dançava também, montado nos ombros do pai ou corria solto no meio do povo, vigiado sempre pelos nossos olhares corujas.
Eu ouvia os discos do Arrigo Barnabé com obcecada dedicação. Essa é a minha marca registrada, que eu pratiquei fanaticamente com Bob Dylan e com alguns outros ídolos seletos.
Clara Crocodilo, e depois Tubarões Voadores , eram duas bolachas que tocaram quase até furar na minha vitrola. Eu cantava junto [na medida do possível!], delirava com as estórias do submundo que Barnabé narrava e até fantasiava uma encenação teatral para toda aquela cornucópia de personagens fascinantes.
Eu vi Clara Crocodilo com Arrigo Barnabé e a sua banda Sabor de Veneno duas vezes no teatro. Na primeira vez, no teatro fechado, pago, com a platéia hipnotizada perante tanto vanguardismo e genialidade. O show ainda teve participação de Itamar Assumpção – que formava com Barnabé a dupla experimentalista mais bacana da década de 80. Na segunda vez, no anfiteatro aberto, vi Clara Crocodilo com o público conversando, rindo e se perguntando ‘que porra de música doida é essa?’. Eu devia ser uma das únicas prestando atenção e querendo que todo o resto da multidão que apinhava o Teatro de Arena entendesse o quanto aquela música era maravilhosa!
Outro dia li notícias de Arrigo Barnabé, que relançou seus trabalhos em cds uns anos atrás. Ele não é um músico comercial, por isso seus discos tiveram pouca tiragem. Mas venderam e como estão fora de catálogo, os que estão por aí valem ouro. Eu tenho esses dois primeiros, que devem estar guardados em algum cantinho na casa dos meus pais. E com certeza vou comprar os cds. Assisti a um show de quase duas horas do Arrigo Barnabé pelo website do Canal Brasil. Chorei de saudades, porque faz muito tempo que eu não sinto paixão por ninguém na música brasileira, como a que eu senti por esse vanguardista paranaense.

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o passado não condena