Matraquilhos

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“A tia Dé estende na bancada de mármore as azevias que recheia com o puré de batata doce e canela que fez na véspera. A minha mãe, num estado de ansiedade que ninguém compreende, frita os cuscurões que, pouco depois, polvilhará, em gestos apressados, com acuçar e canela. Na sua mesa, a Madalena faz bolinhos com um bocadinho de massa que a avó lhe deu. No escritório, o meu pai lê, pela segunda vez, o Diário de Notícias. De vez em quando, não resiste e vem até à cozinha provocar a minha tia e a minha mãe.
-Ó Adelhia (ele transforma o “l” em “lhe” e, por isso, o nome da minha tia ganha uma sonoridade diferente na sua boca), este ano, estes fritos não prestam para nada !- diz, provando uma azevia que ainda não foi polvilhada.

De vez em quando encontramos verdadeiras preciosidades neste mundo de blogs. Gente que escreve tão bom de ler, assim como a Ana do Matraquilhos. Ela escreve um texto melhor que o outro e me fez sorrir e viajar pra um Portugal que ainda não conheço e relembrar um Brasil que já ando esquecendo….

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muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!

o passado não condena