pensa que é gente

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O meu gato tem uma personalidade estranha. Ele não gosta muito de ser tocado, a não ser que ele tome a iniciativa e peça carinho. Mas gosta de ficar sempre por perto, a não ser nas três horinhas diárias em que ele capota e some, pode abrir lata de sardinha, chamar, berrar, assobiar, bater bumbo, que ele nem dá as caras. E ele ADORA comer. Quando eu limpo o chão da cozinha, não posso tirar a comida dele do lugar, senão ele fica todo nervoso. Quando ele dá uma saidinha no quintal, volta correndo e vai direto pro pote de comida, dar umas mastigadinhas. A comida é a vida dele.
Outro dia estávamos fazendo um lanchinho e eu resolvi dar um pedacinho de presunto fininho pra ele, porque fiquei com pena da cara de coitado que o gato fazia. O Uriel me avisou, não faça isso, mas eu não ouvi.
Num outro dia fiz pior, abri uma lata muito grande de atum pra fazer uma salada niçoise e resolvi dar um terço do peixe para o gato. Foi uma comoção! Primeiro ele devorou tudo ávidamente, fazendo um barulhao [slarp,slarp] com a boca. Comeu sem parar por longos minutos, até ver o fundo do pote. Depois sumiu do mapa. Fomos procurá-lo e achamos o fulano todo enrolado num dos cantinhos do meu desk. Cutucamos o bicho, pra ter certeza de que ele não estava passado. Aquela porção de atum de gente [caviar de gato] foi o ápice do dia, ele dormiu direto até o dia seguinte.
Agora toda vez que sentamos para comer, o gatonildo já fica de plantão e tenta lucrar um ranguinho extra. Ele usa três bem pensadas estratégias: fica como uma estátua ao lado da cadeira olhando o infinito [pra nos comover] ou põe uma pata na cadeira e outra na mesa, tipo pedindo esmola [pra nos comover] ou senta numa das cadeiras e fica com aquela cara de gato tonto, parecendo que está esperando ser servido como se fosse um membro da família [pra nos comover]. Eu e o Uriel damos muita risada. Todo dia é a mesma história. E é parte minha culpa, eu admito!

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o passado não condena