releituras

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14 DE DEZEMBRO DE 1979
17 HORAS
SOL EM CONJUNCÃO COM NETUNO
E EM OPOSICÃO A VÊNUS
Subi numa pedra e gritei:
– Aí Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarcado.
Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeca no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin.

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Ainda estou com dificuldade para dormir à noite, pois meu corpo pensa que ainda não é hora de ir pra cama. Pro soninho chegar, uso a alternativa pra minha televisão no quarto: a leitura. Nas estantes da casa dos meus pais têm – sempre teve – muito livro. Alguns deles são meus, resquícitos das minhas muitas mudancas que ficaram para trás. Ontem peguei um especial – Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva. Esse livro é especial por muitas razões. A mais importante é que ele fazia Engenharia Agrícola na Unicamp quando se jogou no lago e se estrepou. Ele estava na turma um ano na frente da do Uriel. Então lemos o livro em 1982, porque pessoas que o Uriel conhecia estavam citadas nele. E também porque aquela história de estudantes em Campinas no final da década de 70 era a NOSSA história. Felizmente não tivemos nenhum acidente. Engravidamos e casamos, enquanto o Marcelo vivia sua tragédia no hospital. Participamos de muitas festas e churrascos loucos, onde acidentes estavam destinados a acontecer. A Engenharia Agrícola da Unicamp era famosa pelas suas festas e ambiente descontraído. Uma excecão no mundo dos engenheiros!
Lendo o livro, fui fazendo uma viagem no tempo. Estou nostálgica já há uns dois anos. Ontem falei com uma amiga que conheci aos 12 anos. Ela tem uma filha chamada Fernanda por minha causa. Tudo isso causa uma porrada de sentimentos confusos, pois eu já me acostumei a ser uma imigrante sem passado! E lendo Feliz Ano Velho lembrei das repúblicas, como elas podiam ser diferentes, quantas delas eu frequentei e também morei [experiência obrigatória naquela época!]. A história do Marcelo todo mundo sabe, pois o livro virou best-seller, peca de teatro e filme. Eu dei risada quando ele escreveu que ouvia discos na vitrola! Como tivemos mudancas drásticas nestes últimos vinte anos! E reparei que o livro está todo sublinhado, bem de levinho, com lápis. Reparei que as partes sublinhadas eram as que ele citava nomes. Hoje, depois de vinte e dois anos, não consigo nem imaginar o que me fez fazer isso…. Quem sabe até eu terminar de ler, eu me recorde!

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Para Paulo e Iri

o passado não condena