lembrando no chuveiro

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» Eu escrevi este texto nostágico já faz uns anos. Quando não se tem nada novo pra escrever, vale reciclar. Ainda mais quando é uma lembrança boa como esta…..

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Eu vou pro chuveiro, que é lá que faço minha meditação, estou pensando em mil coisas, sei lá e então lembro de um episódio do passado.
Nos anos 80 tinha aquela turma de engenheiros agrícolas se formando na Unicamp. Eles eram conhecidos como os ‘engenheiros soft’, porque não tinham a pose e a empáfia dos engenheiros de outras espécies. Eram os que estavam sempre de chapéu e botas de sertanejo jogando truco e bebendo pinga somente entre eles ou com as garotas da Pedagogia. Na cerimônia chic de formatura, que inaugurou o ginásio de esportes – onde eu fui num show do Legião Urbana uns anos depois – estava o Benito Juarez e a Orquestra Sinfônica de Campinas tocando O Guarani e toda a galera formanda de beca e chapéu de cartolina. O patrono era a Cora Coralina e a turma de engenharia agrícola estava, como sempre, destoando. Todos de roupa comum, esportes, camisetas, tênis e até uns de chinelo de dedo. Foi em 1984. Esqueceram o discurso, improvisaram. E a festa de comemoração foi um churrasco, pra variar, na chácara de alguém (que não me lembro quem).
Bom, o que eu lembrei no chuveiro foi a hora que todo mundo já bebum começou a jogar o outro resto, bebum também, dentro de uma piscina atrás da casa. Estava formando um baita toró no céu e a festa estava uma rebordosa geral. Jogaram um, jogaram outro, correria, luta de capoeira, cada um resistia como podia. O Ursão foi um dos últimos. Ele era o ‘papi’ e o status da paternidade o protegeu até um certo ponto, quando começaram a jogar a mulherada também. O Helmut, melhor amigo do Ursão, passou por mim e disse com uma cara séria -“vai pôr o maiô se você não quiser molhar a roupa… ninguém escapa hoje, nem você.’. Enquanto isso escutei uma comoção do outro lado da casa. Corri e vi o Ursão sendo carregado esperneando, seguro pelas pernas e braços por quatro outros fulanos. E atrás ia o Gabriel – quantos anos tinha o neguinho? uns dois anos e pouco? – que berrava furioso, punhos erguidos, pronto pra luta, segurando o choro com orgulho e fazendo uma cara muito feia:
– Larga o meu Pai! Larga o meu Pai! Deixa Ele! Deixa Ele!!
Eu fui lá segurar o guri efurecido e tentar explicar que era tudo era uma ‘brincadeira!’ e que todos iriam entrar na piscina. Ate nós! Vesti o maiô nele e em mim e entramos na piscina voluntariamente. Começou a chover e toda a população da festa acabou dentro da piscina, todos tremendo de frio embaixo da água e do temporal.
Histórinha boba, né? Mas eu contei ela agorinha pro Ursão e nós dois choramos de rir! Nós não lembramos muita coisa… Acho que passamos os anos da infância do Gabriel numa loucura adolescente retardada (de tardia!). Precisamos agora sentar e relembrar!
Viu, daqui a pouco já vou estar até tocando o pandeiro e cantando….lady sings the blues, she’s got them bad she feels so sad wants the world to know just what the blues is all about

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