go tell it on the mountain

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Um dia típico de Fezoca. Saio diretamente do chuveiro, atrasadíssima, para uma reunião importante na UCDavis, sem almoçar, com o cabelo completamente molhado, faço à pé um caminho de quinze minutos em cinco, chego no lugar toda esbaforida e suada, sem mencionar descabelada. Tenho um encontro com o diretor do Public Information Office e o designer chefe, responsável pelos websites da universidade. Manda a regra que se vá bem vestida à esse tipo de reunião, mas eu não consigo vestir terninhos ou saia e blaser clássicos. Eu nem tenho esse tipo de roupa no meu armário. Vou de calça de veludo cotelê de cintura baixa e boca de sino, camiseta branca adornada por um colar da Frida, blaser de veludo preto e minhas velhíssimas botas Doc Martens. Com certeza não é um visual corporativo, mas pra UCDavis está ótimo. Sou entrevistada e interrogada pelos caras, que olham tudo o que eu já fiz de mais moderno e ouço a proposta. O suor seca, volto pra casa com as batidas do coração normalizadas, noto que estou morrendo de fome. Pudera, são três da tarde e eu só bebi uma xícara de café com leite às oito da manhã.

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Saio diretamente do chuveiro, atrasadíssima, para o show mais esperado da temporada no Mondavi Center. Me arrumo nervosamente, pois sei que se chegar no teatro depois das seis e meia, não consigo um parking permit. Está chovendo. Eu faço a maquiagem discreta, passo um perfuminho discreto, blusa branca impecável, calça preta pantalona, prendo o cabelo, solto o cabelo, prendo o cabelo, solto o cabelo, ponho um brinco, tiro o brinco, ponho outro brinco, tiro o outro brinco, começo a suar, noto que o aquecimento da casa está ligado e o quarto está num bafão quente. Coloco os sapatos, olho o relógio – pânico! Chego no teatro em cima da hora, não tem mais coletes para mulheres tamanho large, pego um médio e me sinto vestida num espartilho. Vejo que vou trabalhar no Grand Tier Left, ouço a manager dar as instruções, enquanto procuro frenéticamente por um colete maior. A gravata está torta, meu cabelo está uma maria betânia só, fico louca da vida, penso – se o Moa sabe que eu vim trabalhar no Mondavi de cabelo solto e descabelada, ele me esbofeteia! Subo até o Grand Tier, desço novamente pra sala dos voluntários, pego um colete de homem tamanho small, que me serve perfeitamente e não deixa a blusa aparecendo no vão da calça. Subo, esqueço de pegar a lanterninha, desço, não sei onde está o prendedor de cabelo, eu não posso trabalhar assim como uma louca, o show está SOLD OUT, vamos ter que ficar em pé o tempo todo, espero que valha a pena. Acho o prendedor, prendo o cabelo, bebo água, vou ouvir finalmente as instruções do show. O teatro está quente ou sou só eu sentindo um calorão aqui?
O show foi maravilhoso! Toda temporada eu tenho aquele show especial que eu quero muito ver e The Blind Boys of Alabama era o show especial do outono. E não fiquei decepcionada. Mesmo tendo que assistir aos setenta minutos de cantoria de pé, valeu cada minuto de desconforto. Os rapazes, de mais de setenta anos, arrasam! Eles cantam Gospel e conseguiram transformar canções chatérrimas de Natal em números maravilhosos. Três dos Blind Boys cantavam – George Scott, Jimmy Carter e Clarence Fountain. O baterista também era cego. O resto da banda, dava o apoio. No final do show, Jimmy Carter – com aquela voz que nem dá pra explicar como ele faz – desceu do palco carrregado por um ajudante e guiado por um dos musicos e fez a platéia se levantar. Andou pelos corredores, cantando e dançando. No palco, George Scott e Clarence Fountain também davam os seus passinhos. Foi o melhor show da temporada e compensou pelo dia de atrasos, suores e descabelamentos.

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