um lindo dia de céu azul
*
Acordamos confusos achando que tínhamos dormido muito, mas ainda era cedo. Explicação, saímos do horário de verão e ganhamos uma hora de sono!
Saímos também da temporada dos chinelos, saias esvoaçantes, camisetas sem manga. Busquei no armário da estação oposta – onde eu guardo roupas de inverno durante o verão e vice-versa – por ítens mais quentinhos. Botas e meias, casacos, blusas de gola rolê.
Fomos ontem à melhor festa do ano em Davis! Bebi meio copo de vinho tinto, meio copo de vinho branco, ambos deliciosos, e passei o resto da noite bebendo água. Detesto ficar levemente bebum e com os dentes roxos de vinho em festas. Gosto de conversar, ouvir histórias e se beber muito fica tudo nublado. Eu quase não como em festa, mas na de ontem eu comi. Foi realmente a melhor festa, com muita gente legal, papo legal, até o Urso que tinha trabalho e não iria ficar, ficou!
Iniciei o dia feliz inundada por fotos deliciosas da minha família. Ver meu sobrinho vestido de esqueleto para o halloween me fez ganhar o dia!
E falando em halloween, como sempre, ainda não fiz nada, não comprei doces, não decorei a porta da casa, não mexi a bunda. Todo ano é essa novela e o halloween é uma das minhas festas prediletas. Senti saudades da Juju e da Paula, pois elas estavam aqui catando abóboras no pumpkin patch comigo no ano passado…..
saskatchewan, porca miséria!
*
Certa vez tive o desprazer de ter que conviver com umas figuras abomináveis que passaram longos e intermináveis meses aqui em Davis. Eles se achavam, entre outras coisas, o fino da bossa porque já tinham vivido por um tempo no exterior. Para brasileiro, exterior é Europa ou Estados Unidos e no caso desses tipos, exterior era Utah. Então tive que ouvir infinitos monólogos sobre a vida naquele estado maravilhoso, inclusive como lá tem o inverno mais frio do muundoo! Já pensaram? Minha inicial cara de blasé foi ficando verde de enjôo, amarela de saco cheio e finalmente vermelha de putice. Eu já não agüentava mais aquele papo aranha deslumbrado de quem tentava me explicar o que era frio. Um dia meu piquá transbordou e num tom de voz distintamente mais alto que o meu normal falei, eu sei o que é frio, já morei em Saskatchewan, sabe lá no norte do norte? olha no mapa, você vai entender o que eu estou falando! Depois disso não ouvi mais nem um piu sobre o tal inverno rigoroso no Utah.
Mondavi é o centro para as artes
*
Quando eu escolho os shows em que quero trabalhar a cada nova temporada do Mondavi Center, não arrisco muito. Vou tateando pelo Jazz, Gospel, teatro, shows internacionais, como os japoneses, os africanos, os brasileiros. Claro que se tem uma Margaret Cho ou o Rock Horror Show, eu estarei lá, mas pulo as sinfônicas, as óperas, os balés clássicos, acrobatas chineses e palestras em geral. No começo eu arriscava mais, porém aprendi que não ver show nenhum é muito melhor do que enfrentar um show chato, com uma platéia chata e ficar irritada ou bocejando por duas horas.
Terça-feira eu arrisquei e ganhei. Sei lá por que me inscrevi num show que nem sabia que tipo de música era. Acho que li rápidamente a sinopse e achei que valeria a pena. Foi realmente interessante, três shows em um. Uma opereta moderna do argentino Osvaldo Golijov, interpretado pela soprano Dawn Upshaw e o grupo eighth blackbird. O programa estava confuso, mas foi bem diferente. Outro argentino, radicado em Los Angeles, Gustavo Santaolalla, apresentou quatro canções muito bonitas, duas acompanhadas pela linda voz da Dawn Upshaw. Depois o grupo eighth blackbird apresentou uma composição ultra-moderna do compositor Derek Bermel e finalmente Dawn e os blackbirds interpretaram Ayre do Golijov. Muita gente não gostou do enfoque moderno que o argentino deu para a música clássica, mas eu gostei bastante.
Ontem trabalhei numa performance clássica do McCoy Tyner Trio. Piano, violoncelo e bateria, numa apresentação suave, sofisticada e concisa. Tyner foi amigo, compositor e pianista do John Coltrane. Só esse detalhe do curriculo dele já bastava para levar centenas de pessoas ao teatro. Eu particularmente gosto muito do público de Jazz, pois eles têm uma vibração legal. Claro que sempre aparece um chatonildo irritante, como o casal que trocou de ingressos três vezes porque não gostaram do lugar designado e no final acabaram sentando reclamando que ainda não estavam satisfeitos, mas, for peter’s sake, não dava mais tempo de fazer outra troca.
nem preto, nem branco
*
Eu ando um tanto irritada com patrulhas que dividem tudo em preto e branco e que não admitem a possibilidade de inúmeros tons de cinza. Me dá nos nervos as rotulações, como se só existissem duas maneiras de ser e pensar, nada intermediário, nenhuma nuance. Estou cansada das ditaduras das idéias, se você não pensa assim é porque pensa assado, se não é cozido com certeza é refogado. E quem é que pode dizer o que ou quem está certo ou errado? Nem Salomão, meus caros, nem Salomão.
pedalando
*
Estou muito pessimista com relação ao futuro deste planeta. Mas como não faz o meu estilo ficar só comentando ou chutando latas e não fazer nada, eu me concentro em solidificar pequenos hábitos, como reciclar, consumir alimentos orgânicos e locais, não desperdiçar água e energia, eteceterá. Uma coisa porém me incomoda: moro numa cidade pequena e faço coisas demais, cobrindo distâncias pequenas demais, com o carro. Mas com a bicicleta estou tentando mudar essa situação. Quando dá, estou tentando substituir a direção pelo guidão.
Tenho ido trabalhar todos os dias de bike. No campus não se tem muita escolha, é bicicleta ou caminhada. Mas de casa ou do trabalho pra piscina ou de casa pra a I-House não tem mais história – agora é na pedalada. Hoje enfrentei chuva de chapéu e rain coat, e entendi a necessidade de um pára-lama traseiro, pois fiquei com a barra do casaco toda espirrada de terra molhada. Outro acessório para a lista! E ontem usei a luz pela primeira vez indo ao Mondavi de bicicleta. Eu moro a quinze minutos à pé do teatro, mas com a bike eu faço em cinco. Agora que já não está mais calor, chego intacta, nem um pouco suada ou descabelada. Vou chique, de calça e sapato social, camisa branca e casaco de veludo, pedalando informalmente a minha magrela. Just lovely!
um, dois, três…
*
O Caio me contou que a Rosa Parks morreu. Li com atraso, no final de setembro, sobre a morte do RL Burnside, o bluesman punk. É sempre triste quando alguém querido e talentoso morre, mas nunca fiquei tão chateada com a morte de uma celebridade ou artista, como quando li sobre a Nina Simone…..
Agenda social da semana lotada até sábado. Num almoço dos docentes da I-House no inicio do verão, fui conversar com uma senhorazinha de uns quase oitenta anos que é uma fofa e ainda se chama Pearl. Acho que iniciamos um papo sobre os eventos dos teatros da cidade e eu mencionei algum show legal no Mondavi, quando ela abriu a agenda para checar se iria ou não. Fiquei de queixo caído, pois nunca tinha visto uma agenda tão cheia de compromissos.
Fui comprar carne e vinho e voltei com o dvd do filme do Martin Scorsese No Direction Home. Certas coisas são imprescindíveis nesta vida!
Eu tenho o prazer do cozinheiro olhando as pessoas comerem com entusiasmo e gula. Se alguém não está comendo o que eu preparei vou logo perguntando, tem algo errado? Mas também sempre acho que está faltando sal, ou está muito salgado, ou passei do ponto. Já cometi gafes imperdoáveis, como esquecer de colocar o azeite no tempero da salada e deixar meu convidado com a boca toda marrenta.
Quando eu decido, tá decidido – i ain’t gonna work on maggie’s farm no more.
ainda de roupão
*
Mudei o local dos potinhos de comida dos gatos. O Roux é muito sem modos, tira a comida mole do pote, põe em cima do tapete e só então devora tudo com a boca aberta, fazendo splashnack, splashnack, splashnack… Não sei como o Misty, que é um lorde, agüenta dividir a mesa com esse brucutucat. Então agora a mesa felina fica na laundry, quase ao lado do dábliúcê deles. Sinto muito, mas era o único lugar disponível. Eles ainda não se acostumaram e todo dia pela manhã correm juntos, derrapando, para o lugar antigo, que ficava num cantinho da cozinha. Nós damos risada!
Levei minha câmera para a festa com as duas baterias arriadas e um par de extras também arriadas. Fiquei xingando a minha falta de competência e não pude tirar nenhuma foto.
Estava vendo uma comédia de cowboys de 1930 e vi que em três canais pra cima, a MTV, estava passando um documentário da turnê de 2004 da Madonna. Fui lá ver e não voltei mais pro filme com o pessoal de calça rancheiro Lee. Gosto de ver certos detalhes, a música dela não faz a minha cabeça, mas ela sempre mostra a intimidade, o que acaba deixando tudo mais interessante. Gostei de ver os filhos dela, o menino Rocco – que deve ser um chatinho mimado, e a menina Lourdes/Lola falando sem parar em inglês e francês – que me fez lembrar a Júlia. Aquela trupe super-jovem que a idolatra e o marido Guy com uma cara blasé dando uns foras nela – ele tem cara e jeito de machão. Mas wha-te-ver…. I could not care less por uma pessoa podre de rica que tenta ser zen depois de anos sendo uma bitch ambiciosa.
Anos atrás li num blog qualquer que até esqueci qual, uma critica à pessoas que escreviam posts longos tratando de vários assuntos. Vesti a carapuça, mas nunca consegui perder essa mania de escrever assim de vez em quando.
blog libriano e maduro não se mete em encrenca
*
Ensaboa nega ensaboa… ensaboa, tô ensaboando…
Cinco anos, nem parece, mas é isso mesmo, cinco anos escrevendo aqui. Dava pra compilar um livro, se fosse viável publicar um livro de blurbs.
Marido trabalhando em casa não dá. No início dá aquele contentamento ver ele alí, singelão sorrindo pra você, mas depois a quebra da rotina vai irritando, ele o tempo todo atrás de você, te perguntando coisas inúteis, bagunçando a sala de jantar com papelada, escrevendo o seu nome com maionese, visitando a cozinha de dez em dez minutos, atrapalhando o ritmo normal da casa.
De vez em quando eu gosto de assistir à trailers no site da Apple. Ontem vi um monte, gostei de poucos. Um Woody Allen dramático, outras comédias de final de ano – com temas de família, thanksgiving, natal. Não gosto da Jennifer Aniston e o filme dela, onde ela descobre que a mãe e a avó foram na vida real as Robinsons do filme The Graduate, é apelativo demais. Forgetabouit… Acho que gostei de uns dois ou três filmes. Everything is Illuminated é um deles. Walk the Line é outro, imperdível porque é a história do Johnny Cash vivida na tela pelo interessantíssimo Joaquin Phoenix. Em Prime, Meryl Streep faz uma psicanalista numa história bem chata e banal, mas eu fiquei de olho nos colares dela, um mais lindo e interessante que o outro. As contas grandes estão de volta e eu já estou uns passos à frente, com os meus de Frida Kahlo!