That American in Paris
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An American in Paris é um filme encantador. Um dos mais adoráveis que já vi, dirigido pelo Vincente Minnelli, com Gene Kelly e Leslie Caron cantando e dançando os números musicais de George Gershwin. Posso rever esse filme até o final da minha vida sem me cansar. Mas meu primeiro encontro com ele não foi nada auspicioso.
No inicio dos anos 80 uma das colegas de trabalho da minha mãe tinha uma loja de locação de video—coisa super moderna e bacana na época em que os aparelhos de VHS estavam se popularizando. Mais tarde meu pai descobriu horrorizado que a fulana e o marido alugavam até filmes que eles gravavam da tevê com a vinheta do canal de televisão no canto inferior e os cortes mal e porcamente editados para os comerciais. O negócio faliu e nós nem lamentamos.
Mas antes disso acontecer minha mãe foi convidada para um “chá com filme” na casa da tal colega e me levou junto. O filme programado era Um Americano em Paris. Aguentamos as fofocas e papos idiotas, pois ficamos comendo e nos dando cotoveladas a cada risada ou comentário tosco [que não eram poucos]. Mas quando uma meia dúzia que não queria mais fofocar se ajeitou nos sofás para ver o filme é que a porca torceu o rabo. O dito não era dublado nem tinha legendas. Quer dizer, se você não entendia inglês, azar o seu. Eu e minha mãe, que não éramos fluentes na língua norte-americana, nos entreolhamos com caras de ué e nhoque. Mas continuamos sentadas no sofá afinal de contas ainda salvavam-se os números músicais. Mas a gota d’agua foi quanto algumas delas começaram a comentar o filme com termos de familiaridade de locais—olha só tal rua que subimos naquele dia para ir ao teatro, e aquela ladeira que passamos quando fomos ao bistrô xis, esse bairro é maravilhoso, que saudades de caminhar pelas ruas de Paris! Eu e minha mãe nos entreolhamos outra vez, e eu rapidamente perguntei—vamos embora? e ela concordou em meio segundo—vamos! Nem lembro se nos despedimos, mas lembro do sentimento de absoluto asco com tamanha jecura e pedantismo. Só fui ver esse filme novamente muitos anos depois, quando já morava nos EUA, entendia muito bem o inglês e não precisei da ajuda de legenda. Mas foi por minha própria escolha.
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