i’m not invisible
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Quando ela me conta coisas, minha resposta é sempre efusiva—que ótimo, que bom, que delícia, adorei saber, que coisa boa, gostei, isso mesmo, eteceterá, eteceterá.
Quando eu conto coisas pra ela, a resposta dela é sempre a mesma—ah, é?
Ah, é? Nem posso dizer aqui quem faz isso, porque é muita tristeza.
Eu e minha amiga entramos pra encaroçar numa loja de roupa em downtown Davis, onde tudo custa caro e só tem tamanhos XS, S & M. Fui por insistência dela. Daí a gente olhava as roupetas empurrando ou tirando os cabides das araras e colocando de volta, e a funcionária da loja vinha atrás e arrumava. Foi me dando uma irritação mortal ver a moça atrás da gente arrumando neuróticamente a imperfeição das araras, que pelo jeito só ela via. Fui parando de olhar [não tinha nada pra mim mesmo, sou uma XL] e fui ficando enervada até que falei VAMÔ EMBORA! Lojinha pra rich skinny bitches, com vendedora com TOC, ah, peloamordedeus, é TCHAU e BENÇÃ, né?!
Sinto amor por gente pela qual nunca tinha sentido amor antes. Sinto amor por gente que sempre esteve presente na minha vida, mesmo não realmente estando. Esvaziei pra quem nunca esteve porque não quis, mesmo sempre podendo estar. Não quero mais ser satélite de ninguém, quero viver no meu próprio planeta, onde as regras fazem sentido pois são traduzidas na minha língua.
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