the way we were
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Fazia muitos anos que eu não olhava aqueles dois álbuns com fotinhas do meu casamento. São dois livrinhos pequenos, capinha de papel, as fotos enfiadas em lâminas de plástico. Eu não quis aquelas fotos caretas de casamento, nem álbum cafona e caro. Meu pai então pediu pra um amigo dele fazer uns cliques. Ficou tudo muito simples, casual, bem amador. Mas era 1982 e nem tínhamos mesmo todos esses recursos e parafernálias que temos hoje. Fui olhar as fotos pra mandar pra família do Uriel e compararmos nossas caras, no primeiro casamento da família e neste último que fomos, da nossa primeira sobrinha. Não esperava ficar tão chocada em ver as nossas carinhas de crianças. Nós com vinte anos, a inocência, o amor e a autenticidade. Não fui uma noiva comum. Pra época, fui bem diferente. Não usei vestido longo, nem enfeite na cabeça, meu vestido era de gestante, pois estava grávida de cinco meses. O Uriel com a gravata do terno torta e aquela cara amorosa dele, o tempo todo de mãos dadas comigo, como se não pudesse correr o risco de me deixar escapar. Lembro muito bem de não ter gostado de mim em algumas daquelas fotos, pois não gostei de ter me deixado maquiar [e pentear e manicurar], nem do casamento na igreja pra deixar a família feliz, aquela pessoa não era exatamente quem eu era. Mas agora vejo que era sim. Fiquei nervosa durante a cerimônia na igrejinha, mas curti imensamente a festa, que só teve bolo e champagne num salãozinho simples ao lado.
Ninguém comentou nada, mas quero dizer aqui que achei eu e o Uriel incrivelmente lindos e extremamente fofos em todas as fotos. Tão felizes, com tantos sonhos e expectativas. Fica muito mais fácil admitir hoje, com cinquenta e cinco anos, que não somos iguais a todo mundo, formamos um casal bem diferente, mas acho que no final deu tudo muito certo.
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