muitos dias seguintes
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No mud, no lotus. Thich Nhat Hanh
A realidade está difícil pra todo mundo, é tanta coisa acontecendo no mundo. Outro dia ouvi uma pessoa dizer—peguem caneta e papel e anotem tudo pois não podemos esquecer tudo isso pelo que estamos passando. Pandemia & tumulto politico, duas situações absurdamente complicadas que pode ser que as próximas gerações não acreditem que tudo isso que está acontecendo realmente aconteceu.
Nas nossas vidas pessoais também são tantas reviravoltas. Quantas pessoas desaparecendo, sendo engolidas numa estatística mórbida, virando apenas números. Quantos mergulharam na pobreza. Quandos no desespero. Quantas profissões desaparecerão, outras tantas seguirão um rumo diferente. Eu ainda não sei resumir num texto coeso as coisas em que estou pensando. Felizmente, aprendi depois de tantas doenças e mortes na minha família, a viver um dia de cada vez. É o que estou fazendo. É só o que podemos fazer.
Neste momento estou realmente exausta, não exatamente por causa da pandemia, mas por todo esse pandemônio político. Estou lendo um livro sobre o presidente Jimmy Carter—His Very Best: Jimmy Carter, a Life [Jonathan Alter] e outro dia chorei, pensando, por que não podemos simplesmente voltar àquela política suja de desde sempre? Agora estamos vivendo um tempo de bandidismo político. Não existe outra definição para o buraco negro que se abriu com a eleição de 2016. Também estou lendo o o novo livro do Barack Obama—A Promised Land, e não posso deixar de lamentar que a ascensão de um politico humanista como ele, trouxe como consequência os horrores pelos quais estamos passando hoje. A esperança de alguns germinou o ódio em outros. E ódio é uma coisa difícil de controlar e aniquilar.
Quando meu irmão morreu enviei um livro pra minha irmã, que também estava doente e se debatia com a dor da perda e o sofrimento da culpa, se questionando por que ela estava tendo a chance de sobrevivência que nosso irmão não teve. O livro era No Mud, No Lotus: The Art of Transforming Suffering escrito pelo monge vietnamita Thich Nhat Hanh. A analogia que ele usa para explicar como a vida brota do sofrimento e de como não existe vida sem ele, é perfeita. Essa é a grande questão que precisávamos entender, para podermos passar por todos os altos e baixos da vida, sem nos desesperar quando as coisas não estiverem perfeitas. Parece simples, mas não é fácil colocar isso em prática quando estamos no fundo do poço. Mas a verdade é que nada é permanente, tudo é cíclico, e a memória se esvai. O que temos hoje, será história amanhã.
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