coisas que eu não conto pra ninguém

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Como, sair em prantos de uma loja por causa de um cachorro.
Eu estava na thrift store do SPCA, onde todas as vendas revertem para ajudar os animalzinhos no shelter, e ouvi o pedido das mocinhas que atendiam ao público: quer fazer uma doação para o cachorrinho que precisa ser operado? Eu perdi até a vontade de olhar as bugigangas e quinquilharias da loja. No balcão tinha um vidro com dinheiro, uma cartinha explicando o acontecido e duas fotozinhas do bichinho todo estrupiado, machucado na cabeça e precisando de uma operação urgente. Nem consegui ler direito a história, enfiei uns dólares no vidro e saí da loja correndo, aos prantos, lagrimotas gigantes pingando na minha blusa.
Dirigi por um tempão chorando, sem conseguir me controlar. Eu dou esses bafões sempre, por causa de gente, de animal, até de planta se bobear. É muito duro ser assim, mas infelizmente é assim que eu sou.

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noite junina

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» jantamos mais tarde para poder aproveitar as luzes das lanterninhas acesas no quintal

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singing along

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É muito, muito, muito difícil pra mim escrever aqui. Não é falta de assunto, pois sempre fui famosa por conseguir tirar histórias de pedras. O problema é que eu só sei comentar sobre a vida ao meu redor e por isso a dificuldade de me expressar sem citar pessoas e suas relativas histórias. Vai que a personagem do meu texto entre aqui, se reconheça e não goste, se ofenda. Além do que já ouvi meu marido martelar quatrocentos e cinquenta e sete vezes na minha orelha que não quer aparecer, que prefere a privacidade. Assim não dá…..
Eu custei a admitir que tenho uma alma travesti. Tudo que brilha me atraí. Preciso me controlar pra não sair por aí comprando coisas que irão comprometer a minha imagem classuda minimalista. Mas a verdade é que eu a-d-o-o-o-r-o-o-o um paetê! Ontem caí de amores por umas sapatilhas de bailarina. Tinha dourada e prateada, super confortáveis, super baratas, mas não tinha o meu número [ufaa..!]. Fico enlouquecida, mas depois que a minha compra se frustra, caio na real e penso o que seria de mim andando por aí com uma sapatilha prateada…. Passo os olhos e os dedos sobre túnicas indianas bordadas com fios dourados, echarpes cheias de miçangas e pingentes e chacoalho a cabeça para ver se a vontade de comprar se dissipa….Salva pelo bom senso, no último segundo!
Acho que posso dizer que sou boa em dar o primeiro passo, me aproximar, acolher, abrir o espaço para um novo relacionamento. Mas não corro atrás de ninguém. E não agüento chatices e pentelhices. Não gosto de ouvir críticas não solicitadas, nem analises psicomancóticas da minha personalidade. Sem dizer que valorizo quem ouve e dou três passos pra trás com quem fala demais.
Transtornos de morar em downtown: ouvimos barulhos que os moradores dos suburbios nem imaginam existirem.

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jueves

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realidade besta

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Estamos chegando ao fundo do poço das idéias para essas porcarias de programas de tevê chamados de reality shows. Cada dia aparece algo mais bizarro. Eu pensava que já tinha visto o pior, com Surreal Life, Strange Love e Chasing Farrah, mas ainda consegui me surpreender. Como se ter uma câmera seguindo a demente Farrah Fawcett não bastasse, precisamos de uma câmera seguindo o demente Bobby Brown, em Being Bobby Brown. E outra câmera seguindo duas peruas ricas, mãe e filha, cujo principal objetivo na vida é achar um otário que as sustente, em Gastineau Girls. E outra câmera seguindo uma família de novos ricos cafonas em Growing Up Gotti. Sério, a situação está constrangedora………
Mas o reality show mais deprimente que eu vi até agora, superando de longe até Surreal Life, foi Kept, onde a ex-modelo, ex-senhora Jagger e ex-texana, Jerry Hall procura entre um grupo de rapazes toscos, sem cultura, sem boas maneiras e mal ajambrados, um kept man [tradução: manteúdo?]. Os caras são simplesmente uns boçais, com exceção de dois – um loiro e um mulato – que parecem ter um pouco de cérebro. Os nomes dos gajos variam de Maurizio, a Slavco e Ricardo… Jesus, give me a break, será que esses nomes são verdadeiros ou nomes de guerra? E a Jerry Hall está perfeita como a dona do bordel. Pelo andar da carrugem já estamos em plena derrocada intelectual, rumando para o inevitável declinio do império da tevê norte-americana.

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The Jane Austen Book Club

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um livro bobinho, mas a autora mora na minha cidade e, mesmo sem mencionar nomes, fala da vidinha brejeira de Davis. eu adorei reconhecer certas paisagens.

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mergulho

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Algumas coisas que fazemos naturalmente revelam alguns traços importantes da nossa personalidade. No meu caso, eu nunca fui de botar pesinho na água da piscina e ficar falando ‘que fria!’, enrolando pra entrar, fazendo vai-que-vai, entrando aos pouquinhos. Comigo é tchibun e fim. Entro de cabeça, mergulhando e me molhando inteira. Dou um berro inicial e depois saio nadando. E tenho uma forte tendência para fazer a mesma coisa com praticamente tudo na minha vida. Nunca experimento, nunca planejo, nem vou e volto, fico refletindo, matutando, indo devagar. Comigo é tchibun. Mergulho de cabeça nas coisas e só quando já estou imersa que vou me tocar onde estou, sentir frio, medo, seja lá o que for. Uns me consideram impaciente, outros inconsequente, e outros simplesmente me acham desorganizada e passional.
Como a vida é uma escola, ela nos faz sentar ao lado de alguém totalmente diferente de você, para te acompanhar nesta jornada. E no meu caso eu divido a carteira com alguém extremamente metódico, que precisa planejar com cinco meses de antecedência, adora ler mapas, colocar esquemas no papel, anotando e fazendo contas e cálculos com aquela caneta que ele sempre tem no bolso, ou puxando a calculadora eletrônica da malinha, fazendo pesquisa, tentando descobrir antes a temperatura, a densidade e o nível de poluicão da água da piscina onde ele vai – talvez – entrar e nadar.
Eu aprendo muito com essa convivência, mas quem eu sou sempre se impõe de maneira mais forte e eu acabo desprezando os mapas, os roteiros, os planos, as opiniões alheias e tchibun, pulo na água sem pensar, nem piscar ou olhar pra trás.

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jardim

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um dia normal

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Como é ruim acordar de sonhos estranhos que me deixam confusa e com a cabeça girando. Onde estou? Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? O bendito café-com-leite ajuda na localização: ano 2005, no estado da Califórnia, cidade de Davis, na Cottage Circle, manhã de segunda-feira, meu nome é Fernanda, mas pode me chamar de Fer. Estou pronta para abrir o jornal para ler os quadrinhos que me fazem sorrir. Mas preciso de mais uma dose de café para abrir o feedreader carregado de péssimas notícias do mundo e mais e mais sinopses de assuntos que não me interessam. Leio, escrevo. Perco hora. Banho. Hot-dog. Sinto frio até as três da tarde. Olho as pessoas bufando e se abanando, e eu tremendo, roxa. Cometo um engano, mas não perdi a viagem. Termino um trabalho. Completo uma tarefa. Alguém me pede desculpas. E eu desligo o telefone no meio de uma espera para ser atendida num serviço público. Agora estou com calor. E com cólicas. E pensando o que vou fazer para o jantar. Mais um dia normal pro arquivo da minha vida.

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o passado não condena