o último sopro

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De repente, frio e chuva! Deve ser o último sopro de inverno. O aquecimento da casa já estava desligado e tivemos que religar. E acender lareira, vestir meia, tomar chá e sopas, desentocar o guarda-chuva e o parkas. Justo agora que eu já estava engatando no uso das saias, dos chinelos e sandálias. Mas a meterorologia já avisou que dias lindos virão ainda esta semana. Estamos só dando um abracinho de despedida no frio, com quem reencontraremos novamente só lá pra novembro.

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gone shoppin’

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O passatempo favorito da Reidun é ir às compras. E faz parte da profissão dela [antique dealer] fazer a geral nas thrift shops. Eu estava com ela numa Good Will quando ela achou dois quadros de um pintor famoso aqui na Califórnia, que ela revendeu por uma grana preta. Eu também estava com ela numa Salvation Army quando ela comprou uma pulseira de marfim por três mangos, que pode revender por trezentos. Ela tem olhos de lince. Eu fico só atrás dela, observando sua técnica das barganhas e fazendo mil perguntinhas [o que você acha disso?]. Não tenho a menor pretensão de alcançá-la nessas aquisições fantásticas, mas faço minhas comprinhas sem intenção de lucro, só por diversão.
Hoje eu e a Marianne vamos encontrar a Reidun em Novato, para uma super sale, tudo a dois mangos dentro da loja. Vamos ver o que a sorte me reserva!

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um dia na vida de…

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Lavou o cabelo com condicionador, tropeçou em todos os tapetes da casa, cortou a ponta do dedo invés do talo da rosa, espirrou água na cara quando molhava as plantas, deixou um cabide cair da arara de roupas de uma loja cinco vezes seguidas, escreveu uma palavra errada em público, cortou-se com uma folha de papel, levou duzentos choquezinhos na porta do carro, engasgou e a água que estava bebendo saiu pelo nariz, derrubou comida na roupa, fez duas bolhas no mesmo calcanhar, teve um ataque de coceira, achou um vômito do gato no meio da sala, chorou vendo um musical, esqueceu de pagar a conta, respondeu em português a um good morning, chegou muito cedo à um encontro, recebeu só junk mail no correio, dormiu antes de ver o final do filme.

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bug off!

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Mais uma vez vou precisar daquela ajudazinha alcóolica na minha luta contra as pragas da horta. Eu não vejo as ditas cujas, mas encontro sinais de que elas andam por todo canto. São tantas folhas comidas, um pé de alface simplesmente desapareceu. Está uma farra, pois até agora eu não fiz nada. Minha horta está um banquete para as lesmas, caramujos e outras pragas. Vou ter que afogá-las na cerveja, como fiz no ano passado….
Mas não é só na horta que eu vejo sinais das pragas. As roseiras também têm bichos e fungos. Eu espirro um jato de água forte com o esguicho, pois li que essa é a melhor maneira de se livrar deles [ou trazer joaninhas para o roseiral, pois elas comem esses aphids]. Já os fungos, não posso fazer nada além de cortar as folhas infectadas. Eu não quero jogar nenhum veneno, por causa do gato e porque não acho legal. Então vou tesourando tudo, esguichando água e em breve, farei as – arghghthughecablergh – sopas de caracol!

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the gourmet poseur

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Minha comida é frugal. Não tem nada de especial e não pode me tomar muito tempo, pois me condicionei a não fazer nada que leve mais de trinta minutos para ser preparado. Não vou dizer que minha comida não seja criativa – usando os legumes e verduras que eu compro da horta orgânica, ou mesmo saborosa – quando consigo não salgar muito, nem deixar queimar nada.
Mas quem vê a minha coleção de livros de cozinha com certeza pensa que eu sou aprendiz de chef ou uma sofisticada cozinheira, uma gourmet. Eu adoro livros de cozinha. Mas os coleciono muito mais por um prazer voyeur do que pelas suas qualidades práticas. Eu me inspiro nos livros, mas não cozinho baseada neles e raramente sigo uma receita ao pé da letra. Tenho uma tendência quase neurótica a mudar os ingredientes, as quantidades e depois ficar reclamando como uma ranzinza quando a receita vira uma gororoba incomível.
Pra não dizer que não uso receitas, até que andei fazendo algumas coisinhas da fantástica revista da senhora Martha Stewart, Everyday Food [que recomendo fortemente, apesar dos enroscos legais da sua criadora]. E quando me entusiasmo com um livro ou com um estilo de comida [como foi com a cozinha tailandesa], acabo seguindo algumas receitas. Mas tenho que fazer um esforço, também porque sempre falta um ingrediente ou esqueço de deixar a manteiga na temperatura ambiente ou de descongelar a carne, detalhes geralmente essenciais para o sucesso da empreitada.
Minhas aventuras na cozinha são mais divertidas do que saborosas. Como aquela inesquecível sobre a receita de chucrute com salsichas da minha mãe! Mesmo não sendo a cozinheira que gostaria de ser, continuo comprando livros, colecionando revistas e me deliciando com programas de culinária na tevê. Um dia, quem sabe, vou escrever o meu livro de receitas, que virão com certeza acompanhadas de muitas histórias.

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fonfon

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Não foi uma visão. Era eu mesma dirigindo aquele carro cinza.
Meu carro finalmente vai ser consertado, depois daquele acidente do estacionamento. Decidimos esperar por uma vaga num dos body shops da cidade marcada apenas para esta semana, baseados em excelente recomendação e elogios do serviço que esse lugar faz.
Enquanto isso o seguro nos deu um carro alugado. É tão estranho pegar um carro diferente assim de repente. Estou tão acostumada com o meu carrinho. E ficou tudo lá, os meus cds, canetas, água, até o remoto da porta da garagem. Fico toda atrapalhada com o relógio do carro alugado, que ainda está em horário regular e também fico toda confusa olhando no painel e procurando por coisas que estão em lugares diferentes. Hoje chegando em casa já fui tateando pelo remoto, que obviamente não estava lá. Até o cheiro do carro é estranho. E ele é mais baixo, mais duro, ainda não estou dirigindo confortavelmente nele.
Até eu me adaptar no carro cinza, meu carro beige já deve estar de volta. Portanto não se acostume com essas visões, pois minhas passeadas em cinza têm dias contados!

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Davis

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Eu vivo numa cidade onde os carros param para uma família de patos atravessar calmamente a rua.

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eu rio por último….

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Rir é a melhor maneira de expurgar idéias ou sentimentos negativos. Quem pensa que a comicidade das minhas histórias biográficas é depreciativa, está muito enganado.
Rir é terapêutico e nos ajuda a ver uma determinada situação sob uma nova perspectiva. A visão do ridículo é purificadora e mostra que até os mais absurdos defeitos podem ser divertidos.
É por isso que eu escrevo sobre as minhas patetadas com freqüência. Se elas me fizerem rir, todo o efeito negativo de sentir-se um peixe fora d’água, uma esquisita, uma atrapalhada, sempre metida numa gafe, se diluí.
Histórias não faltam. Tenho material para um livro. Dá pra não rir do episódio em que eu beijei a boca de uma mulher sem querer, enquanto tentava cumprimentá-la desengonçadamente numa festa? E quem não se identificou com a talentosa Splashy e suas estripulias aquáticas? Quantas vezes eu revi na minha memória, como se fosse um filme pastelão, a cena que protagonizei quando visitei uns amigos no Brasil: fui descruzar a perna e chutei uma bacia cheia de casca e sementes de mixiricas, que voou pelos ares e aterrissou do outro lado da sala, fazendo uma sujeirada tremenda no chão.
Depois que eu escrevo e dou muita risada, não me sinto mais tão esdrúxula, não acho que sou diferente, problemática, que estou sempre dando foras ou espetáculos grotescos, caindo das cadeiras, tropeçando, rolando pelas escadas, batendo com a cara no poste. Depois que eu choro de rir e gargalho alto, tenho certeza de que sou abençoada com essa capacidade de ser naturalmente espirituosa e de saber rir saudavelmente de mim mesma.

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o passado não condena