you got it

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Toda vez que eu vejo uma propaganda de tevê chata e que me irrita, uma frase vem automaticamente à minha mente: “odeio essa propaganda…”. Não é sempre que eu realmente curto um comercial, mas às vezes acontece.
Adorei as novas propagandas para televisão da Target. Elas brincam com o branco e vermelho [as cores do logo da loja] e têm trilha sonora de Roy Orbison cantando You Got It.
Anything you want You got it Anything you need You got it Anything at all You got it
A propaganda é tão boa quanto fazer compras na loja, que é outra coisa que eu também adoro!

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é o Misty!

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Eu tenho uma amiga queridíssima que morou aqui em Davis por uns meses. Ela me telefonava e quando eu atendia, ela perguntava:
– quem fala?
Eu sempre ria muito ouvindo isso, porque era óbvio que quem falava era eu, pois só eu e o Uriel vivemos aqui. Se uma voz de mulher atendesse, era eu. Se uma voz de homem atendesse, era o Uriel. Ah, mas tem o Misty, né?
Então um dia, quando ela perguntou:
– quem fala?
Eu respondi:
– é o Misty!
E gargalhamos às lágrimas! Depois disso, toda vez que ela ligava, rolava a mesma cena: “quem fala? é o Misty! HaHaHaHaHaHa!”
Esta história me fez lembrar de outra, também envolvendo o Misty ao telefone.
Um dia, sei lá por que, eu resolvi gravar uma mensagem besta na secretrária eletrônica. Fiz voz de gato e falei com irritação algo como “alô, aqui é o Misty, eu estava feliz tirando uma soneca e voce me acordou. a Fer e o Uriel não estão em casa, mas pode deixar um recado se quiser”. Todos os recados deixados na nossa máquina a partir dali ecoavam risadas ou soavam confusos. O Uriel não gostou nada daquilo, achou ridículo, uma idéia de girico se fazer passar por um gato. Mas eu devia estar vivendo alguma fase de espírito de porco, achando tudo divertido, e o recado ficou como estava.
Um dia, o chefe do departamento de engenharia agrícola da Universidade de Urbana-Champagne ligou para falar urgentemente com o Uriel um assunto de trabalho. A voz do cara soava realmente confusa e hesitante, mas mesmo assim ele deixou o recado. “Eu não tenho certeza se liguei pro lugar certo, mas em todo caso, esta mensagem é para o Doutor Rosa…..”.
Depois disso a mensagem do Misty foi sumariamente deletada e outra, das normais “alô, você ligou para o número tal, deixe o seu recado”, foi gravada.

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i know you…!

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Eu sou péssima para lembrar nomes de pessoas. É um problema que ainda não descobri como contornar. Tenho sérias dificuldades, especialmente com os nomes comuns daqui, como Jane, Ellen, Dana, Judith, Janet, Judy, Carol ou Sarah.
Mas em compensação tenho uma memória visual pra lugares e pessoas que é fantástica! Passo por uma rua uma vez e nunca esqueço. Vejo uma pessoa uma vez e fotografo mentalmente o rosto, a postura. Guardo essas informações num banco de dados competente e organizado, pois é só rever o lugar ou a pessoa que a informação vem à tona – plink!
Andei concluindo que nem todo mundo tem essa facilidade. Eu reconheço qualquer pessoa que tenha passado brevemente pela minha vida, mas a identificação quase nunca é recíproca. Antes eu pensava que o problema era eu, que devo ter uma cara comunzona. Mas a verdade é que nem todo mundo tem essa memória boa para caras e lugares como eu tenho.
Hoje cruzei com uma pessoa no arboretum. Foi um segundo. Ela estava saíndo do trabalho e eu fazendo minha caminhada diária. Eu olhei pra ela, enquanto caminhava a passos largos e reconheci a mulher com quem conversei numa festa, meses atrás. Ela não deu sinal de ter me reconhecido, mas eu lembrei de algumas coisas sobre ela:
– trabalha na UCDavis, no departamento de Textiles;
– é divorciada;
– mudou pra Davis vinte anos atrás, por causa de um namorado na época;
– tem um filho casado com uma vegetariana;
– tem um neto, cuja alimentação vegetariana dada pela mãe a preocupa;
– mora numa town house alugada;
Lembro de todos esses detalhes da vida dessa mulher, relatados por ela durante a conversa que tivemos nessa festa que eu fui meses atrás, mas NÃO lembro de jeito nenhum o nome dela…..

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um, dois, três, quatro….

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Meu pedometer chegou e agora estou contando os meus passos, até quando estou dentro de casa, indo ao banheiro, subindo e descendo escadas. Mais uma obsessão, pra minha já infindável coleção!

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gataiada

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gatos do Gabe
[os gatos na janela, olhando os passarinhos]

gatos do Gabe
[gatonildos dividem o espaço na janela]

thenewcat
[o novo gato, fofão, ainda sem nome…]

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quando nós fomos lá longe…

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No inverno de 1994, minha irmã foi nos visitar em Saskatoon, Saskatchewan, Canadá. Foi uma delícia para nós – a parte da família que estava isolada lá nas planícies canadenses. Não sei se foi tão delícia pra ela, que escolheu a pior época do ano para um passeio por aquelas bandas. Mas mesmo assim nos divertimos com o que havia pra se divertir por lá durante o inverno: nadar nas piscinas internas da cidade, ir à biblioteca, patinar no gelo, visitar os amigos, ir ao teatro e ao cinema, sair pra comer, pra beber, pra ver shows e dançar. Até que a vida era bem agitada, mas fizemos tudo isso na cidade, não viajamos.
Então num belo dia, o Uriel ficou indignado – “Como? não levamos a Le pra viajar ainda? mas ela tem que viajar, conhecer outros lugares, ver outras paisagens!”. Mas viajar pra onde, se tudo lá era tri-longe e não tínhamos tempo, nem dinheiro para planejar uma viagem decente, pras Rocky Mountains, pro extremo oeste [Vancouver] ou pro extremo leste [Montreal ou Toronto]?
“Vamos para La Ronge!” foi a idéia brilhante do Urso, achando que estava abafando e fazendo um super agrado para a cunhada.
La Ronge é uma reserva indígena, mais para o norte de onde estávamos. Deixa eu explicar – mais norte do que onde estávamos, era exatamente a fronteira entre o mundo semi-normal e o desconhecido inabitável. Mas não conseguimos argumentar com o Urso e como minha irmã concordou, nos aboletamos no carro com o imprescíndivel kit de inverno [cobertores, chocolates, velas, isqueiros] e fomos para La Ronge.
Passamos por Prince Albert, uma cidadezinha a uma hora e meia de Saskatoon, ouvindo Bob Dylan no tape do carro, comendo snacks e conversando alegremente. Ainda não tínhamos saído da normalidade. De Prince Albert até La Ronge foram três horas de estrada deserta, ladeada de pinheiros e tudo mais coberto de neve. Nosso entusiasmo de desbravadores começou a arrefecer. Eu, que me transformo num monstro em viagens, já fui ficando calada e de mau humor.
Chegamos em La Ronge [que agora já chamávamos de Lá Longe] mortos de fome. Deixamos as malas no hotelzinho e fomos tentar achar um restaurante na rua principal da cidade, que parecia ser a única e era onde ficava tudo, o hotel, o posto de gasolina, o restaurante. Quando chegamos já estava escuro. E estava tremendamente frio…. Não vou lembrar quão frio, mas foi o suficiente pra assustar a minha irmã, que nunca imaginou que pudesse ter um frio mais frio do que aquele que ela enfrentou em Saskatoon.
Alguém nos disse que havia um restaurante do outro lado da rua. Ficamos animados. Mas atravessar a rua em La Ronge foi mais difícil que andar trinta quarteirões em San Francisco com vontade de fazer xixi. Parecía que estávamos atravessando um verdadeiro deserto de gelo….. e eram apenas alguns metros. E o restaurante estava fechado!! Voltamos, nos agarrando um nos outros, xingando, chorando, isso não é justo, que absurdo, minha retina está congelando, quem inventou essa merda de viagem imbecil?
Usamos o telefone do hotel e descobrimos que um Kentuck Fried Chicken estava aberto na esquina da mesma rua. Fomos novamente, heróica e bravamente, caminhando até lá. Devoramos uns pedaços de frango frito morno e batatas fritas murchas num restaurante cheio de índios. Eles chegavam dirigindo ski-doos, vestidos em roupas de astronautas, que tiravam no meio do corredor, transformando-se novamente em seres humanos normais, com suas calças jeans, botas de cowboy e camisas de flanela xadrez. Nós, os quatro brasileiros comendo o menu requentado do almoço, éramos verdadeiros ETs ali…. Nunca me senti tão estrangeira, tão peixe fora d’água.
Voltamos pro Hotel, onde dormimos como pedras. No dia seguinte, eu e a minha irmã tivemos um desentendimento no breakfast. Olhando o menu do restaurante, com ovos, bacon e um monte de ítens que ela nem conhecia e nem queria conhecer, minha irmã reclamou e disse que só queria um café normal, será que era tão díficil arrumar um simples copo de leite com Nescau pra beber no café da manhã naquele país? Estávamos numa reserva indígena, no norte do nada, e ela queria um copo de leite com Nescau! Saímos do restaurante de cara virada, ficamos emburradas e choramos dentro do carro, enquanto o Gabriel dormia no banco de tras e o Uriel dirigia pra lá e pra cá, num passeio bucólico pela linda cidade de La Ronge.
“Olha que paisagem linda!”
[tudo branco, cheio de neve, um índio cruzando o lago congelado num ski-doo]
“Grmpfg”
Resolvemos voltar pra Saskatoon mais cedo, quatro horas numa viagem em total silêncio, secretamente felizes por estarmos voltando à civilização. Só podia ser coisa de Urso, inventar um passeio de índio desses…….

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33

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Esta matraca é um blog relativamente maduro, assim como a sua mantenedora, a matraquenta que vos escreve. Nos três anos e três meses em que escrevo quase que diáriamente por aqui, os assuntos e a maneira de escrever evoluiram. Três anos e três meses atrás, o conteúdo deste blog era um amontoado desconjuntado de tagarelices cotidianas. Hoje, o conteúdo deste blog é um conjunto conexo e elaborado de tagarelices cotidianas. E eu me orgulho muito dessa evolução!
Mas estes três anos e três meses não são nada, quando eu penso no aperfeiçoamento que a minha eloqüência escrita teve na última década. Imaginem só se os blogs já existissem doze anos atrás, quando eu saí do Brasil e fui morar no Canadá. Lá, todo e qualquer assunto, em qualquer tipo de conversa, escrita ou falada, era gerado, desenvolvido e circulava sempre em torno do clima. Então com certeza esta Matraca teria posts assim:
“Hoje nevou!”
“Hoje está -15ºC!”
“Hoje nevou!”
“Hoje está -20ºC! Que lindo dia, vamos patinar no gelo!”
“Hoje está -30ºC!
“Hoje está -42ºC, mas com o windchill estamos sentindo -62ºC e o ranho congelou dentro do meu nariz quando eu saí na rua!”
Felizmente eu mudei de país, de clima, melhorei o contexto, diversifiquei os assuntos e sofistiquei um pouco a minha maneira de escrever. Hoje elaboro sobre patos, gatos, ursos, tomates, filmes, blues e rock ‘n’ roll. Mas calcula quanta história boa que ficou no passado, sem ser contada? Pois no próximo post eu vou contar uma delas e assim tentar tirar o atraso desta fase tão rica, porém blogless, da minha vida…….

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Neil in Sac

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Eu escrevi sobre Dead Man e nem mencionei que o Neil Young vai fazer um show aqui em Sacramento no final de fevereiro. Ele vai se apresentar junto com a banda Crazy Horse. Eu queria muito ver o Young, mas ando meio duranga e os ingressos são um pouco mais salgados do que eu pensava. Estou numa dúvida horrível, porque não é sempre que o Young está em turnê, quanto mais acompanhado da Crazy Horse.
Isso me fez lembrar das histórias que li sobre Neil e a Horse em Shakey, a biografia quase-autorizada do músico, escrita pelo Jimmy McDonough . Seria uma boa oportunidade de ver de perto se esses músicos tocam mesmo, ou se só enrolam e são paus mandados do Young, como o livro insinua….

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determinação

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Foi uma segundona de feriado tediosa, nublada, feia, escura e gelada. E um casal fazia um picnic, com cestinha de vime cheia de comidinhas e toalha espalhada na grama seca do arboretum. Quando se quer algo com muita vontade…..

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o passado não condena