Porque a piscina estava fechada fui caminhar. Caminhei somente metade do percurso, porque não quis exagerar. Mas exagerei quando fiz meus planos – okay, não sei se vai dar pra nadar durante a semana, mas posso caminhar, chego em casa às 5:10, visto o tênis, caminho uns quarenta minutos no Arboretum, acho que até às 6 ainda não vai estar escuro. Daí me empolguei e comprei tênis novos e um Ipod.
Queria entender por que eu sempre nadei contra a corrente, ou sozinha numa raia sem me enturmar. Sou assim desde sempre, não consigo fazer parte de grupos, partidos, andar em turma, fazer o que os outros fazem, me vestir “na moda”, seguir regras, participar de eventos coletivos, jogar joguinhos, passar correntes pra frente, fazer parte de um time, me integrar. Sou a que corre por fora, do meu jeito, com as minhas regras e etiquetas que me orientam e determinam o meu caminho.
Acordamos com o gato faminto espancando a porta do quarto. Eu levantei e desci para dar comida ao desesperado. A relação do Misty com os humanos é completamente baseada em comida. É uma coisa que me incomoda, pois parece não existir outro elo de ligação. Li outro dia que gatos são muito mais leais aos humanos que os cachorros, só que eles fazem a conexão de uma maneira diferente, e muito mais rigorosa. Eles se conectam com apenas um humano, a quem vão ser leais para sempre. Se acontece um abandono, o gato nunca mais vai se conectar à humano algum, e todos os relacionamentos dali em diante serão baseados em comida. Esse é exatamente o caso do meu gato Misty.
Nove graus, nublado com ventinho, domingo de manhã, vejo muitos passantes pela janela, e eu tô indo caminhar.