se for uma crise, está tudo normal
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Quando eu olho para este blog diariamente pela manhã, sinto um cansaço e um vazio. O meu primeiro pensamento é – não tenho mais o que escrever, já escrevi sobre tudo, minha vida nem dá um livro, mas como vou escrever sobre ela sem citar pessoas com quem eu convivo, projetos com os quais estou envolvida, reclamações que muitas vezes tenho, opiniões controversas que eu sei que podem causar polêmica?
Por isso tenho quase certeza que estou em crise com este bloguete. Muito ar, muito espaço, muitos olhos, muita liberdade, muita permissividade. Tenho que ter criatividade para superar certos impecilhos que eu mesma me imponho. Não quero que esse espaço vire um reality show. Mas quero que ele persista e preencha as minhas necessidades escrevinhatórias. Se for apenas uma crise, tá limpo! Logo passa.
o menu imita a vida
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Risoto de abóbora com queijo camembert, pão francês grelhado com um fio de azeite, limonada misturada com água gasosa sabor de cereja, banana nanica, amêndoas açúcaradas e defumadas com sabor de laranja.
recapitulando
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Além dos já regulares, agora tenho mais um trabalho que vai me tomar um tempão. Eu tenho esse problema me organizando, que é consequência da minha ansiedade natural, então fico atrapalhada e não consigo pensar direito. Fico sem saber o que fazer primeiro e vou completando as tarefas de uma maneira toda embolada.
Correspondência? Nem sei mais que desculpa esfarrapada dar, então compreendam por favor, meus queridíssimos amigos com quem eu me correspondo, que não é por mal, não é falta de interesse, não é relapso.
Hoje foi um daqueles dias onde eu subi e desci as escadas zilhões de vezes, tropecei em gatos cinco zilhões de vezes, mas pelo menos completei várias tarefas. Estou envolvida num projeto tão legal!
Quando eu não tenho a menor noção do que fazer para o jantar eu frito um bloco de tofu. Corto em quadrados, frito no azeite até ficar crocante por fora, cozido por dentro e rego com molho tandori apimentado. Refogo verdura picada, mostarda, couve ou qualquer outra verdura estrambólica que vier na cesta e voilá! É o meu lado macrô natureba. O Urso já se conformou e come o rango!
Eu penso o tempo todo em assuntos picados, idéias, frases, conceitos. Não sou uma analista, sou uma palpiteira. Não sei analisar nada, mas gosto de dar a minha opinião. Muitas dessas opiniões não se desenvolvem em texto, Por exemplo, não consigo escrever sobre o meu horror ao ver o noticiário na tevê, a proposta de cortes do governo, o investimento na indústria bélica, a cara de ator de filme de terror classe cê desse tal presidente. Também não consigo comentar os programas de tevê da moda, os filmes bacanas no cinema. Eu comento as reprises, os filmes velhos, os programas de culinária, os shows dos japoneses de sunga. Há algo errado comigo!
Ontem saí pra comprar copos, porque quebramos vários nas últimas semanas. Eles batem uns nos outros e tricam. Vão pro lixo, uma pena. Eu também estou procurando uma chaleira maior pra servir chá, pois acho a minha muito pequena. Mas eu não vou comprando a primeira que eu encontro, não senhor! Eu procuro, procuro, procuro, até achar exatamente o que eu quero, num preço que não vai fazer diferença no meu orçamento. Haja paciência, mas pra isso eu tenho. Vi várias chaleiras outro dia, made in china, made in england, de cerâmica, de metal. Não quero gastar mais que dez dólares, então vou ter que continuar procurando. Mas não hoje…..
chegou a hora de cuidar do quintal
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Estamos tendo lindos dias de sol e então chegou a hora de dar uma geral no quintal, avaliar os estragos e os benefícios da chuva. Ontem, quando fui jogar o lixo, já vi montes de florezinhas roxas na trepadeira da varanda. Logo o jasmim que faz moldura na porta dos fundos da casinha de hóspedes vai começar a florir também. Quando isso acontece, é uma beleza!
Mas agora o objetivo principal é avaliar o estrago da chuva – que foi um pouco excessiva neste ano, e o do gopher. Ainda não fui resolver a história da armadilha. Estou sem coragem. Não quero matar o bicho, mas também não quero soltá-lo vivo, dando a chance para que ele vá estragar outros quintais e hortas. Estou vivendo um dilema……
Mas depois que eu me livrar do bicho, será hora de pegar na enxada. Da janela já dá pra ter uma noçào da quantidade de mato crescendo por todos os lados. Meu quintal é lindinho, mas dá um trabalho…….
meditando do meu jeito
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Um tempo atrás a meditação era o must, virou moda, todo mundo meditava. Eu também, quer dizer, eu juro que tentei. Meditei com meus amigos budistas no Canadá, no templo japonês, com um grupo gay, no Shambala aqui em Davis, tentei muito, com vontade, mas não deu. Eu gostei de meditar cantando, mas quase ninguém usava essa prática. E eu não tenho o que se necessita para meditar sentada, quieta, em silêncio.
Agora a onda é praticar ioga. Onde eu vou, vejo roupetas incrementadas, tapetes de material especial, sacolas pra carregar as tralhas, todo mundo capitalizando na moda. Abro uma revista e é ioga, ioga! Me dá até um enjôo, pois me lembro de tooooodas as minhas tentativas de praticar ioga, que começaram em 1982, quando eu fazia as poses vestida num body de malha azul turquesa numa academia no centro de Campinas. Depois tentei ioga mais umas vezes. Em Piracicaba, no Canadá e aqui em Davis. Em Pira, lembro de dormir no relaxamento final e voltar pra casa com o estômago revirado. Aqui em Davis eu enchi o saco, quando tentei ioga pela ÚLTIMA vez no experimental college. Eu não tenho as habilidades meditativas, nem a flexibilidade corporal necessária pra praticar ioga. Foi ficando irritante, pois enquanto os outros praticantes faziam as poses, a professora me corrigia – incessantemente. O meu nome era o mais pronunciado, depois de dois dias todos já me conheciam – Fernanda, a que nào consegue fazer nenhuma pose direito. Parei. Desisti definitivamente!
Hoje voltei ao único exercício sistemático ao qual eu me adapto – nadar. Pra mim é perfeito, pois melhora a minha resistência física, trabalha um pouco a minha falta de flexibilidade, me faz mexer os braços [que na caminhada – outro exercício que eu curto, eu não mexo] e ainda me proporciona um relaxamento mental incrível. Melhor que qualquer meditação sentada, na água eu consigo nào pensar em nada ou me inspirar, dependendo do dia.
hum, yummy!
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Eu assisto ao Food Network onde todos os chefs celebridades, quando preparam suas gororobas – simples ou sofisticadas – em seus shows diários, não economizam humns e ohs. São auto-elogios incessantes, tudo é lindo, maravilhoso, uma delícia, fantástico, saborosissimo, incrível, sensacional, espetacular, yummy!!!
Como na minha cozinha de dona de casa comum, muita coisa queima, fica salgada, incomível, muito apimentada, com um gosto estranho, engororobada, insípido, amargo, aguado, duro demais, mole demais, encaroçado, azedo, torrado, começo a pensar se a propaganda não é mesmo a alma do negócio.
Resolvi mudar a minha estratégia derrotista, que está sempre pedindo desculpa pelos meus erros culinários. Sentamos para jantar e na primeira garfada fiz uma cara de prazer intenso e comecei a murmurar – hmmmm, hmmmmmmm, que delícia de comida, nossa, muito bom, muito bom mesmo!
Não mudou o sabor da gororoba, mas certamente impressionou o Ursão, que comeu com muito mais entusiasmo.