agenda da quarta

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Sorriso limpinho….ahhhhh, colgate!!! A nova higienista me tratou como se trata uma criança. Minha fama vai se espalhando. Eu sou aquela que é super sensível, que treme e chora, quando não tem ataques epiléticos, na cadeira do dentista. Eu não ligo de ser tratada assim, contanto que eu não sofra nem um tiquinho, nem com o geladinho da água nos dentes. Já comi o pão mofado que o diabo amassou … agora chega!
Este é o meu marido: me deu de presente de Natal um gift certificate para uma manicure/pedicure no salão X. Escolhi um dia, dirigi toda feliz até o salão X e chegando lá me disseram que não era ali, era no salão Y, do outro lado da cidade. Já fiquei com a pulga atrás da oreia. Finalmente aportei no salão Y e a pessoa que me atendeu me levou até uma tendinha e disse, entre ali e tire toda a roupa, inclusive o sutiã. Ah???? Mas meu presente é uma manicure/pedicure! Não, está escrito aqui, o seu presente é uma massagem de corpo inteiro. Eu xinguei, esgüelei e dei chicotadas mentais num tal Ursolino distraído e confuso. Mas entrei na tendinha, tirei toda a roupa, inclusive o sutiã e me submeti a noventa minutos de massagem – da cabeça aos pés, frente e costas.
Fiz torradas com pão francês outro dia e me lembrei que comíamos muitas dessas quando éramos crianças. Eu gosto dessa idéia de gerenciamento da cozinha aproveitando tudo, reciclando, transformando restos de uma refeição em uma outra, completa. Fico passada com desperdício. Quando jogo algo no lixo, o faço com um sentimento de culpa misturado com tristeza. Lembrei da tal nata, que hoje nem sei se ainda é possivel comprar um leite que tenha nata. Mas o leite na minha casa era fervido diariamente e a nata era coletada e armazenada no freezer. Quando o pote de nata enchia, ficávamos na expectativa do maravilhoso sorvete que iria aparecer nas caixinhas de gelo. Sorvete de nata! Quem imaginaria uma coisa dessas nos dias de hoje!

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relatório da terça

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Inacreditavelmente, amanhã – véspera do feriado mais importante neste país, eu tenho hora marcada pra ver a minha dentista! Estava querendo esquecer esse famigerado compromisso, mas a secretária – Angie, eu odeio essa pentelhilda – me ligou às oito e meia da manhã pra refrescar a minha memória. E se eu não for, tenho que pagar uma multa. Afirmo isso baseada em experiência própria, pois já desmarquei uma consulta fora do prazo e tive que morrer com noventa e dois dólares. Eu danço miudinho com a minha dentista e sua corja de assistentes e secretárias. Nada contra ela, que é um doce de pessoa, nem contra o batalhão de Angies, Jennifers e Annies que a cerca, mas eu abomino essa profissão…
Compras no Trader Joe’s só podem ser feitas de UMA maneira: deixando a muquiranice de lado e abraçando todas as novidades, vontades e desejos. Chocolates europeus, bota no carrinho. Vinhos italianos e franceses, bota no carrinho. Champagne, claro que bota no carrinho! Queijos suiços, alemães, espanhóis, bota no carrinho. Tomates carésimos pra fazer a tal torta, bota no carrinho. Snacks japoneses, yorgut grego, suquinhos deliciosos, bolachinhas de chocolate em formato de gato, cranberries com sabor de laranja, panettones, pães indianos, pistachios, manteiga inglesa, azeitonas pretas gregas, sopas, salmão recheado com cuscus, tomates secos, eteceterá. eteceterá. Na hora de pagar, hey, how are you today? i feel excellent, and you?
Mini-faxina com um gato pulando pra lá e pra cá e dando botes na vassoura, no rodo, no pano de chão, espalhando a sujeira e a poeira recém-varrida, dando pinotes e bagunçando o que você acabou de arrumar. Outro dia me toquei que me comporto com os meus gatos como se eu fosse uma avó e não uma mãe. Enquanto eles zoneiam tudo e fazem só o que eles querem, eu dou gargalhadas e me divirto!

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menu da segunda

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Ontem eu estava tentando lembrar quantos Thanksgivings nós já passamos com a Reidun. Hoje fiz as contas e vi que este será o nosso quinto ano dizendo ‘thanks’ com ela, na companhia dos nossos filhos. Eu sempre levo panettones, sobremesa e vinhos. Este ano vou levar um bolo de nozes, feito com nozes fresquinhas colhidas no quintal da Juliana. E uma torta de tomate, pois ela pediu pra eu levar a torta que fiz no Natal do ano passado e acho que era uma torta de tomate. Tenho uma receita nova, que vou poder testar!
Passei a tarde de domingo tricotando. Terminei uma echarpe cor-de-rosa, desmanchei outra que já tinha até usado, mas não tinha gostado e começei uma touca. Tricotei a touca por umas três horas, que estava ficando bonitona, mas de repente saquei que o tamanho não estava bom. Fui medir com outra touca que fiz e percebi que deveria ter colocado pelo menos uns dez pontos a mais na agulha. Com o cabeção que eu tenho, essa touquinha não vai me servir nunca. Toca desmanchar tuuuuudooooooooo……. Essas coisas que me irritam em costura, tricô, crochê, etc…. desfazer.
Eu não sei onde tenho arrumado coragem pra me meter na piscina todo santo dia. Apesar do céu azul, um vento gelado que não é bolinho tem soprado incessantemente. Eu caminho do vestiário para a água e da água para o vestiário aos pulinhos. Ou melhor, aos pulões, pois eu não sou do tipo de faz nada no diminutivo.
Estou tentando arranjar alguém pra cuidar dos quatro gatonildos da família [os nossos e os do Gabe] para podermos viajar no Natal. Essa é uma época difícil, pois todo mundo viaja. Como Davis é um university town, chega final de ano, acaba o quarter de outono e todo mundo se manda daqui. A cidade fica um deserto.. Neste ano, nós também vamos nos pirulitar por uns dias!

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offline

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Amanheci desconectada. Isso ainda me irrita um pouco, mas já não tenho sintomas de abstinência tão fortes. Fui ler o jornal, invés de ler e-mails e blogs. Fui colher limão e rosas no quintal, fiz um monte de coisinhas, fui nadar – nem o vento ridiculamente gelado me segurou – almoçamos um ‘já-te-vi’, pegamos a correspondência, fomos caminhar no Arboretum e tirar fotos das árvores coloridas de outono, assistimos tevê, bebemos xícaras de chá preto com sabor de maracujá e mordiscamos pão com manteiga, eu fiz tricô, comi balas de caramelo, vi um prrograma de receitas de Thanksgiving. A conexão voltou, viemos checar e-mail e tal. Acho que não sou mais tão net junkie como outrora. A cura foi natural!

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lembrando no chuveiro

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» Eu escrevi este texto nostágico já faz uns anos. Quando não se tem nada novo pra escrever, vale reciclar. Ainda mais quando é uma lembrança boa como esta…..

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Eu vou pro chuveiro, que é lá que faço minha meditação, estou pensando em mil coisas, sei lá e então lembro de um episódio do passado.
Nos anos 80 tinha aquela turma de engenheiros agrícolas se formando na Unicamp. Eles eram conhecidos como os ‘engenheiros soft’, porque não tinham a pose e a empáfia dos engenheiros de outras espécies. Eram os que estavam sempre de chapéu e botas de sertanejo jogando truco e bebendo pinga somente entre eles ou com as garotas da Pedagogia. Na cerimônia chic de formatura, que inaugurou o ginásio de esportes – onde eu fui num show do Legião Urbana uns anos depois – estava o Benito Juarez e a Orquestra Sinfônica de Campinas tocando O Guarani e toda a galera formanda de beca e chapéu de cartolina. O patrono era a Cora Coralina e a turma de engenharia agrícola estava, como sempre, destoando. Todos de roupa comum, esportes, camisetas, tênis e até uns de chinelo de dedo. Foi em 1984. Esqueceram o discurso, improvisaram. E a festa de comemoração foi um churrasco, pra variar, na chácara de alguém (que não me lembro quem).
Bom, o que eu lembrei no chuveiro foi a hora que todo mundo já bebum começou a jogar o outro resto, bebum também, dentro de uma piscina atrás da casa. Estava formando um baita toró no céu e a festa estava uma rebordosa geral. Jogaram um, jogaram outro, correria, luta de capoeira, cada um resistia como podia. O Ursão foi um dos últimos. Ele era o ‘papi’ e o status da paternidade o protegeu até um certo ponto, quando começaram a jogar a mulherada também. O Helmut, melhor amigo do Ursão, passou por mim e disse com uma cara séria -“vai pôr o maiô se você não quiser molhar a roupa… ninguém escapa hoje, nem você.’. Enquanto isso escutei uma comoção do outro lado da casa. Corri e vi o Ursão sendo carregado esperneando, seguro pelas pernas e braços por quatro outros fulanos. E atrás ia o Gabriel – quantos anos tinha o neguinho? uns dois anos e pouco? – que berrava furioso, punhos erguidos, pronto pra luta, segurando o choro com orgulho e fazendo uma cara muito feia:
– Larga o meu Pai! Larga o meu Pai! Deixa Ele! Deixa Ele!!
Eu fui lá segurar o guri efurecido e tentar explicar que era tudo era uma ‘brincadeira!’ e que todos iriam entrar na piscina. Ate nós! Vesti o maiô nele e em mim e entramos na piscina voluntariamente. Começou a chover e toda a população da festa acabou dentro da piscina, todos tremendo de frio embaixo da água e do temporal.
Histórinha boba, né? Mas eu contei ela agorinha pro Ursão e nós dois choramos de rir! Nós não lembramos muita coisa… Acho que passamos os anos da infância do Gabriel numa loucura adolescente retardada (de tardia!). Precisamos agora sentar e relembrar!
Viu, daqui a pouco já vou estar até tocando o pandeiro e cantando….lady sings the blues, she’s got them bad she feels so sad wants the world to know just what the blues is all about

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o passado não condena