a história da minha vida

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Gostei imensamente de uma saia numa loja, não tinha meu número. Fiquei chateada. Meu marido me viu comentando o triste infortúnio e fez um arranjo. Pediu pra ver se tinha meu tamanho numa outra filial da mesma loja, eles tinham. Trouxeram a saia do meu número, minha amiga foi lá buscar e ele me deu a saia de presente, foi a maior surpresa! Vesti a saia toda pimpona, mas olha só que joça, apesar de ser meu tamanho ficou apertada na cintura. Não suporto nada apertando a cintura. Vesti a saia algumas vezes, não dava. Levei a saia na costureira chinesa, pedi pra alargar a cintura, mas não medi nada direito. A costureira chinesa disse—você tem certeza que quer fazer isso? vai ficar MUITO LARGA! [ela falou isso bem alto e com uma cara feia] Sim, tenho certeza—eu respondi, pode fazer! E ela fez. E ficou MUITO LARGA, tipo de cair a saia no chão. Tive a ideia de usar com cinto. Não deu certo. Então tive outra ideia, de mudar dois botões de lugar. Deu certo, mas a saia ficou torta. Só dá pra vestir com blusa por cima e blusa comprida. Usei algumas vezes assim, ninguém reparou. Coloquei a saia pra lavar na máquina, o tecido encolheu, o forro não encolheu. A saia ficou com um pedaço enorme do forro aparecendo. Ainda não sei o que vou inventar pra resolver esse problema. Mas certamente darei um jeito.

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take 3

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Todo aquele papo de encontros familiares show de horror no Thanksgiving é tudo verdade. E o contrário também é. Tenho saudades de neve. Mas não tenho saudades de neve. Me entende? Gente que mente, pior tipo de gente. Outono, a cidade está linda. Sou a reencarnação do Buster Keaton. Só isso me explica. Cair vestindo a calça. Ficar presa no braço invertido do roupão. Tropeçar no próprio sapato. Enroscar o vestido na maçaneta. Eteceterá. Depois fui me meter a reformar dois vestidos tamanho XL que comprei numa super liquida e ja destruí um. No mundinho da moda me parece que––todo mundo fuma, todo mundo é bronzeado. Fui colher maçãs já no final da temporada, porque não consegui ir antes. Mas que maçãs! que delicia, que frescor, que doçura, que textura!

Me contaram que minha amiga foi na festa de halloween no trabalho com um bigode falso colado na cara. Bigode feito com pelos do cachorro dela. E eu perdi essa! Também me contaram que o meu chefe foi com algo inflável na cintura que meu parco inglês e ignorância nerdica não me permitiu entender exatamente o que era. Eu de luto, de jet lag, zureta com mudança de horário e as pessoas vem me descrever fantasias loucas de halloween? E nem contei pra ninguém que meu marido tinha sugerido que eu fosse nessa festa vestida de tinker bell.

—vamos ver um filme no cinema?
—vamos sim! mas espera só um minutinho que vou recolher as f o l h a s.

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· …Tchau feriadão!…
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a morte não é nada

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No dia 22 de outubro este blog fez 14 anos. Neste dia eu não comemorei nada. Neste dia, no momento em que meu pai estava sendo enterrado, nublou. Eu entrei na piscina e nadei, chorei, nadei, chorei, nadei, chorei, nadei e chorei até meu coração parar de doer. Quando eu e meu filho decolamos de Sacramento em direção ao Brasil o céu estava todo vermelho. Meu pai era um leitor entusiasmado deste blog, foi por muitos anos. Ele achava tudo divertido e adorava seguir minha vida por aqui.

No dia 21 de outubro eu acordei chorando e chorei o dia todo. À tarde recebi o telefonema que eu sempre temi receber. A voz do meu irmão me dando a notícia ainda ecoa na minha cabeça:

Fer, o papai morreu, o papai morreu.

Nós conversamos muito sobre ele, revimos centenas de fotos, dezenas de filmes caseiros com festas de família e viagens. No primeiro filme quando ele apareceu sorrindo e acenando, todo mundo chorou. Depois vai ficando mais fácil. Meu pai foi um homem extraordinário que viveu pra família dele e viveu a vida que ele queria viver. Morreu dois dias antes de completar 84 anos e nos pegou de surpresa. Quero deixar registrado aqui essa história, pois pode ser que ele queira ler e vai achar muito bom que deixei isso escrito. Com todo o meu amor, descanse tranquilo pai!

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small talk

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A pessoa que denuncia os grandes clichês óbvios é também um grande clichê óbvio. Ninguém admite, mas somos tudo a mesma coisa.
Voltando de viagem, a sensação de que cheguei em casa pra mim é ver da janelinha do avião o patchwork agrícola da minha terra. #puroamor
Sonhos aos montes—com horta de alface, mala, hotel, elevador, vertigo, saindo descalça, minha mãe, minha irmã, meu pai caminhando novamente.
Sempre tive o maior cuidado quando vou usar louça que estava guardada por um tempo em armários, mas depois que tive que beber champagne numa taça com poeira e um inseto seco boiando na bebida, meus cuidados foram redobrados.
Alegrias de coió—nadar & cozinhar.
Salada com pickles de cebola, hambúrguer no brioche, vinho branco gelado, show de jazz na farmácia vintage da esquina, me senti muito feliz!
Vejo videos de maquiagem dizendo que mulher madura não pode usar sombras coloridas e brilhantes [fuén]. Dai que uma colega de trabalho bem mais velha do que eu, aparece super linda com uma sombra azul topázio glitter. Eu achei simplesmente divinomaravilhoso e vou copiar!
Vou ver instagram de gente que não conheco—minha vida é um tédio.
Vou ver instagram de gente que mora em cidade grande—vivo na roça.
Vou ver instagram de gente que mora na Europa—vivo no Wild Wild West.
Ventania e fui caminhar com um lenço bem longo.
| ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄|
| I CAN’T GIVE |
| YOU ANYTHING |
| BUT LOVE! |
|_________|
∧__∧ ||
( ´ω` ) ||
/   づ”.

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viajantes

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na ida:
Voo doméstico Sacramento–Dallas, um indiano viajou no assento da janelinha ao meu lado. Quando serviram as bebidas ele abriu a mesinha, tirou um saco de papel marrom não sei de onde, dentro do saco de papel estava acomodado um outro saco de plástico cheio de arroz com misturas que ainda parecia estar quente. Ele abriu um pacotinho metálico e jogou um punhado de coisinhas crocantes dentro do saco com arroz e mistura, descolou uma colher de plástico e se fartou de comer o farnel caseiro. Logo depois abriu um livreto todo em sânscrito e ficou rezando em voz alta. Eu tinha trazido um sanduíche de ovo e uma salada de edamame comprada por uma fortuna no aeroporto de Sacramento que não consegui comer de tão ruim. Da próxima vez, já sei.
na volta:
Voo internacional São Paulo—Dallas, eu abri o compartimento de bagagem e caiu uma mala em cima da cabeça do viajante atras de mim, um americano. Foi um festival de desculpas da minha parte e de caras de tromba da parte dele. Mas a culpa não foi minha, a mala [da própria vítima] estava muito mal ajeitada lá em cima. A longa jornada noite adentro estava apenas começando. Durante o jantar derrubei vinho na mesinha, empastelei arroz no vestido e passei mal, acabei tendo que vomitar no banheiro. Cheguei bem, o enjoo passou depois de três dias.
nas idas e nas voltas:
Já notei que tem sempre uma monja viajando no mesmo avião que eu. Será que isso é um bom sinal?

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sabichona

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—mãe quero ir morar nos Estados Unidos.
—por que minha filha?
—porque la não precisa passar roupa.
—como você sabe disso?
—é porque o Tio Caco tá sempre com a camisa amassada.
[alguém usa camisa sem passar há mais de 20 anos. até a sobrinha de 10 anos já repara.]

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o passado não condena