certainly—certainly
*
Saio atrasada de casa regularmente de manhã pelo motivo de ficar trocando de roupa como se estivesse me arrumando pra ir ao baile da realeza. Como se fosse fazer diferença pra alguém [mas faz muita diferença pra mim, alright].
Vi o filme Tom & Viv e fiquei chocada com a história da Vivienne Eliot, a primeira mulher do poeta T. S. Eliot, que passou anos internada e tida como louca por causa de problemas hormonais. Quantas vidas foram desperdiçadas. Mas como felizmente já estamos em outro século, minha médica proclama em modo super assertivo—stop blaming everything on the hormones!
Dirigindo pela estradinha da roça no meu caminho pro trabalho, passei por cima de centenas de corpos de mulheres nuas. Alguém despejou uma coleção de revista de mulher pelada na encruzilhada. E pelo que consegui ver, pareciam ser daquelas da pior qualidade. Teorias sobre os motivos daquilo abundam.
Minha mãe sobre a experiência dela de trinta anos com filho morando em outro país—é muito dificil, é muito dificil. #eeulogosaberei
Na zumba tem um grupinho de meninas que fica sempre no fundão e só falam espanhol entre elas. Uma delas veste umas camisetas bem legais. Uma tinha um grupo de mexicanos desenhado nas costas e na frente escrito––Mexican! Not Latino, Not Hispanic. Outra trazia a marca da cerveja Corona. E uma tive até que ir elogiar, pois era aquela vermelha do Chapolin Colorado––No Contaban Con Mi Astucia!
Uma coisa muito constrangedora é ver gente totalmente bêbada, com aquela cara de mé, em foto publicada em rede social.
Meu marido colocou um ovo cozido inteiro pra esquentar no microondas. E depois me mandou um txt—o ovo explodiu! Nem respondi.
pérolas do dia
*
Decidi vestir uma blusa preta com bolonas brancas, cachecol de lã cor de mostarda, bermuda khaki e botas de cano alto com meia até o joelho. A bermuda é do meu marido. [I have no shame] Assim que cheguei no trabalho alguém comentou que eu estava parecendo uma jóquei. Bem feito pra mim e pras minhas escolhas infelizes de roupas espalhafatosas.
Descobri uma caixa de panetone num canto da minha despensa. Ainda é Natal lá em casa.
Se você comentou algo e a pessoa não perguntou. Se você contou algo e a pessoa não comentou. É claro que a pessoa não está interessada, nem muito menos quer saber. Elementar. Minha senhora.
minha mãe—fulaninha fez 50 anos.
eu—fulaninha sempre teve 50 anos.
meu pai—hahahaha, é verdade!
O problema de comprar roupa pra mim em loja japonesa é que o tamanho XL fica apertado. O mundo encantado das mulheres grandes.
Vi o adesivo colado no carro da moça—National Rifle Association—e me deu o maior bode.
Tiroteio no sul da Califórnia.
i have never been so slapped in the face by a wet fish
*
Julia tinha uma imagem um tanto romantizada de um tal escritor. Mas quando ela o conheceu pessoalmente foi um desastre. Sentiu uma grande decepção, porque o cara não era nada daquilo que ela pensava que ele era—au contraire. O fulano não tinha nenhum interesse por política, artes ou arquitetura, nem queria saber de comer bem ou visitar pontos de interesse histórico na França.
Cair na real com pessoas que de quem gostamos ou admiramos é realmente muito parecido com levar uma peixada molhada na cara. Dói, machuca, nos deixa perplexos e ainda fica fedendo.
efemérides de janeiro
*
É inverno no mundo todo. Estou medindo a intensidade do frio no inverno deste ano pela quantidade de vezes que estou tendo que raspar gelo do vidro do meu carro pela manhã. [#plenty] Quando alguém se mete a me dar aulas sobre o frio porque sou brasileira, só tenho uma resposta—morei cinco anos em Saskatchewan. [#sorry] Expliquem-me como pode estar zero graus lá fora e eu estar suando no suvaco aqui dentro? Sou a pessoa que escreve em garranchos garrafais uma frase completamente sem sentido no cartão de felicitações pela aposentadoria da gerente. Os tours pelo campus, com os guias andando de costas, recomeçaram. Estou [quase] sempre com fome. A pessoa personaliza a placa do carro pra dizer pro mundo —MYPUMBA. O grande problema pra mim não é acordar. O grande problema é me recompor da viagem interplanetária que eu faço todas as noites. O nome do pastor da Igreja dos Discípulos de Cristo em Woodland é Larry Love. Sem brincadeira. Admiro imensamente essas pessoas que pedalam a bicicleta enquanto bebem café na caneca. Parece que tudo já foi dito e já foi feito, agora é só repeteco, repeteco.