Amigo, mantenha-se sempre visível

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Com o final do ano se aprochegando, começam a pipocar aquelas famosas brincadeiras de amigo invisível ou secreto ou oculto. Pra mim esse troço de sortear alguém para te dar um presente secreto é sinônimo de furada. Nunca—e quando digo nunca, é NUNCA mesmo—participei de uma dessas brincadeiras onde eu não tenha acabado com uma cara de tacho e com muita raiva. Sempre ganhei presente lixo. E olha que participei dessa lorota muitas vezes em diversas fases da minha vida e com diferentes grupos. Nunca dei sorte. Então concluí que aquilo não era pra mim e decidi cascar fora forevis. Infelizmente, ainda tive uma última péssima experiencia. Numa evidente recaída fui convencida a participar mais uma vez e entrei de gaiata, recebendo finalmente a lição que precisava e merecia. Pois errar uma vez é humano, duas vezes é até perdoável, mas mais do que isso é assinar o atestado de burrice. E eu assinei. Preparei uma caixa com material de pintura e outras mil coisas legais, pensando na alegria da amiga ao receber o presente e enviei pelo correio, Califórnia—Brasil. Recebi o meu presente por e-mail. Um POEMA feito com as letras do meu nome. Nem preciso dizer que chorei, né? De raiva. E aprendi a lição que a vida me ensinou. Hoje fujo correndo desse negócio. Amigo, se quiser me presentear, fique a vontade. Mas não quero nem espero nenhuma surpresa. E pra quem vier com o argumento que o que vale a intenção, que não é pelo presente material, que o legal é a brincadeira, só tenho uma coisa pra dizer: não sei o que é pior, ser hipócrita ou ser otário.

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diga-me com quem se pareces

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Estou sempre encontrando parecência entre as pessoas que vejo por aí, as que conheço e os famosos. Mas eu mesma não me acho parecida com ninguém, além da minha mãe. Olho no espelho e quando não consigo me reconhecer no reflexo, percebo o quanto estou ficando parecida com ela. Isso acontece também nas fotos. Só que a minha mãe é fotogênica e nunca sai com a boca torta, os olhos piscando ou fazendo nenhum tipo de careta.
Como eu vejo parecência nos outros, eles também vêm parecências em mim. Já ouvi de tudo, até comparações que não gostei ou não percebi a relação. Na minha lista de pessoas com quem já me acharam parecidas não incluí nenhum nórdico. Nunca ninguém me achou parecida com a Bridget Nielsen. Mas na minha lista está o John Travolta quando ele foi o menino dentro da bolha e eu era uma menina fora da bolha. Também estão a atriz francesa Fanny Ardant, a atriz italiana Anna Magnani, a cozinheira celebridade Nigella Lawson, a repórter intrépida Christiane Amanpour, a mãe do menino do filme Cinema Paradiso, além das simples mortais, como a prima do Salim turco, a irmã do Aziz tunisiano, a vizinha da Maheen iraniana, muitas italianas e até uma peruana.

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[nove]

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Gosto de marcar esta data, pois ela mudou muita coisa pra mim. Mudou principalmente a maneira com que passei a me comunicar, contar histórias, me expressar. Logo que encontrei a ferramenta do Blogger, cliquei aqui, cliquei ali e olha só—comecei escrevendo sobre o Steve MacQueen. No inicio não sabia muito bem como fazer, mas logo fui achando outros blogs e outros blogs foram me achando, Não éramos muitos naquele tempo, talvez uns 15, no máximo 20. Escrevendo fora do Brasil era eu, a Graziela e o Cris Dias. No Brasil estavam a Inêz, a Mariana Newlands, a Zel, o Zamorim, o Jean Boechat, o Nemo Nox e a Pink Dress que já contava com participações especiais da Dadivosa. Depois foram surgindo outros muitos, que ainda estão ativos, como eu.
O sistema de auto-publicação dos blogs foi pra mim o achado do novo século, literalmente. Nunca me senti tão a vontade para escrever meus pensamentos, me expressar sem me preocupar se estava ou não incomodando alguém. Porque no blog o espaço é somente seu. Te visita quem quer e quem gosta. Para mim os blogs viraram sinônimo de absoluta liberdade, que ainda permite uma completa customização. Essa foi a primeira cara do meu primeiro blog, que evoluiu e se transformou, saiu do blogger, testou um publicador inovador e migrou definitivamente para onde estou até hoje.
Gosto de marcar esta data, porque foi a partir daquele 22 de outubro que me transformei numa escrevinhadora diária. Meus blogs estão no meu testamento, com a instrução de que eles continuem disponíveis, mesmo quando eu não puder mais atualizá-los. Nunca escrevi um livro impresso em papel, mas tenho certeza que o que tenho online já basta para marcar definitivamente minha presença neste planeta.

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apenas alguns números

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>> hoje, estou muito mais velha do que a minha avó materna, que morreu aos vinte e nove anos.
>> hoje, estou mais velha do que a minha avó paterna, que morreu aos quarenta e dois anos.
>> hoje, ainda sou muito mais nova do que a minha mãe era, quando eu tinha a idade que o meu filho tem hoje.
>> hoje, meu filho é mais velho do que eu era quando ele nasceu.
>> hoje, continuo apenas um ano mais velha que o meu marido
>> hoje, calculei que já vivi muito mais que a metade da minha vida com ele.
>> hoje, me sinto muito mais nova do que realmente sou.
>> hoje, olho no espelho e me vejo com a idade que realmente tenho.
>> hoje, a maturidade me permite compreender que anos são apenas números, nada mais.

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o gato sonso

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Ele fica nos lugares que não deveria ficar com essa cara de sonso. como se nada estivesse errado. Mas ele sabe, ele sabe. Esse Roux!

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um desastre sem precedentes

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Coloquei a massa da pizza para dar uma pré-assada ligeira e peguei o ônibus espacial para Saturno. Quando regressei à Terra, a massa tinha torrado muito mais que o grau regulamentado pelo FDA. Removi a placa amarronzada da forma e coloquei em cima da pia, já quase dando tudo como perdido. But I ain’t no quitter, no sir! Olhei bem dos dois lados da arga-massa e vi que o centro ainda estava com uma cor razoável, achei que dava pra salvar. Quebrei as partes periféricas e sobrou um centro arrendondado, que emplastei com molho de tomate e salpiquei com bastante queijo mussarela. Coloquei por dois minutos no microondas só pra derreter o queijo e não comprometer a massa. Daí levei ao forno e liguei o broiler, só para dar aquela cara bronzeada para o queijo. Quando abri o forno, três minutos depois, a pizza estava pegando fogo—sim, em chamas! Foi uma correria histérica pra retirar e apagar a forma crepitando em labaredas. Fumacê, gritaria, abalo emocional, frustração.
E agora, melhor ninguém fazer perguntas, tá? Circulando, circulando! Ninguém viu nada, não aconteceu NADA, capito?
&raquo:outro texto forte importado de lá, só pra encher linguiça por aqui.

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foi o esquilo que me encarou

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Na frente da porta de entrada para a minha sala no meu trabalho tem um arbusto que se enche de pequenas flores no verão e que no outono viram frutos ovalados com uma cor verde bem escura. Esse arbusto é um pé de feijoa, uma fruta deliciosa também conhecida como goiaba mexicana. Eu levei muito tempo para me tocar que aquelas frutinhas eram feijoas, já que elas desaparecem rapidamente por serem vilmente atacadas e devoradas ainda verdes pelos esquilos.
Voltando da minha caminhada estica-pernas das três da tarde observei uma comoção esquilanesca nas proximidades do pé de feijoa. Foi quando peguei no flagra três esquilos, que já roiam covardemente as tais frutinhas. Minha presença e cara nada amigáveis fizeram com que dois dos esquilos se pirulitassem e fossem procurar por coisinhas comestíveis na grama de outra árvore mais próxima. Mas um deles não se moveu, ficou ali plantado e me encarou. O esquilo me encarou sem piscar, nem disfarçar, não abaixou a cabeça, não vacilou. Ele simplesmente me encarou. E eu encarei de volta, enquando ele subia pelos galhos da árvore, sem nunca virar a cabeça, sempre firme me encarando. O duelo de olhares durou alguns minutos. Foi emocionante. Não sei por que, mas eu tive quase certeza de que aquele esquilo era uma esquila.
»mais um texto migrado de lá.

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o passado não condena