comida de sonho e de vida

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Acordei de um sonho, no meio da noite, onde eu estava almoçando no Shambhala, um centro de meditação aqui em Davis. Lá não tem almoço e o local do sonho não era o real Shambhala. Mas sonho é sonho, ninguém discute. Mas nele eu colocava arroz e outras preciosidades vegetais numa caneca branca de cerâmica bem comprida e comia com hashis azuis. Acordei com uma sensação incrivelmente boa, e levei um tempo pra pegar no sono novamente. Nesse interim, algumas histórias de comida começaram a pipocar freneticamente na minha mente, como se o sonho tivesse aberto uma gaveta fechada há muitos anos. Tive até que cantar um mantra pra conseguir dormir novamente, tal o estado de animação mental que fiquei.

Fui visitar uma amiga da Etiópia que tinha tido um bebê. Levei presentes, flores e fui recebida com comida. Ela tinha preparado uma carninha desfiada imersa num molho vermelho super apimentado, um refogado de batatas e pão achatado caseiro. Eu fiquei pasma! Ela me disse que era essa a tradição do país dela, a recém-parida servir comida para as visitas. E me ensinou como comer, cortando pedacinhos do pão macio com as mãos e usando para pegar bocados da comida.

Minha amiga indiana cozinhou um festim de comidas típicas para mim. Almoçamos juntas e eu não sabia nem por onde começar – era tudo uma delícia, vários pratos, tudo vegetariano. Comi muito um cozido de grão-de-bico, os pães fritinhos crocantes de lentilhas e as samosas.

Fui com minha amiga chinesa a um templo budista coreano. Era aniversário do Buda e após o ritual e celebração da manhã, teve um grande almoço. No fundo do templo armou-se toldos e muitas mesas e cadeiras. A comida era fora desse mundo de deliciosa. Tudo vegetariano. Infelizmente não lembro os detalhes, pois já faz muitos anos, mas lembro de como fiquei encantada com tudo. O detalhe é que eu era a única ocidental no lugar – altona, cara de Ana Magnani, com esse meu jeito típico desengonçado, me sentindo a girafa perdida no reino dos pinguins. Mas minha amiga sorria e dizia, fica tranquila que você é muito bem-vinda aqui.

Tempos depois voltei a esse templo com a minha mãe – as duas sozinhas dentro do templo, mais estranhas e estrangeiras impossível. Uma senhora muito pequena e amável nos aproximou de nós, falou algo com gestos e nos ofereceu laranjas enormes, super suculentas. Agradeci imensamente…

Muitos anos depois conheci um casal do Sri Lanka e fui convidada para outro aniversário do Buda, desta vez num templo bem pequeno e humilde onde teve a cerimônia e depois um almoço. Foi tudo muito simples, dentro do templo mesmo, que era na verdade uma pequena casa. Na cozinha muitos pratos vegetarianos, um com a aparência mais apetitosa que o outro. Pegamos os pratos e o casal todo sem graça veio me dizer – nós não usamos talheres, comemos com as mãos. Sentamos no chão com nossos pratos no colo e eu novamente a única cara de ocidental, mal ajambrada pois tenho certa dificuldade em me sentar no chão, comi feliz da vida aquela comida deliciosa em homenagem ao Buda.

»agora trazendo textos fortes de lá para cá.

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uma manteiga derretida

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É constrangedor chorar descontroladamente dentro do cubo, virada para a janela pra ninguém ver, só porque escutei na NPR um depoimento singelo sobre uma mãe ou o do dono do motel que ajudou o pai de família desempregado. Sem mencionar o mar de lágrimas borbulhantes dentro do avião, quando tocamos o chão da Itália. Nem mesmo os baldes e baldes chorados assistindo à filminhos bobos da sessão da tarde ou comerciais de automóvel ou mesmo aquela marejação silenciosa que aflora sem controle enquanto leio as notícias da política, da morte do gato de alguém ou simplesmente quando olho fotos daquela certa família.

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teje preso [por favor!]

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Não conseguia me conformar nem parar de dar risada [desculpa ai] depois que ouvi uma notícia na NPR. Um feliz canadense dirigindo seu carrinho atravessou a fronteira do Canadá com os EUA e foi parado por um policial americano. O policial mandou o canadense sair do carro, mas o canadense não saiu porque o policial não disse “por favor”. O policial deu nova ordem pro canadense sair do carro, mas este continuou insistindo que o policial precisava pedir “por favor” [the magic word—please]. O policial foi até o carro, espirrou spray de pimenta nos olhos do canadense, o algemou e o levou para uma delegacia mais próxima, onde o já-não-tão-feliz canadense mofou dentro de uma cela por mais de três horas.

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brilho

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o passado não condena