what is and what should never be

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Na hora do almoço corri para desentupir a privada. As da minha casa entopem fácil, não precisa muito. Uma vez uma visita entupiu a do banheiro social e apareceu na cozinha pedindo panos de chão. Eu fui atrás para ajudá-la. Não posso descrever aqui o que vi, para não chocar os que não suportam cenas escatológicas. Mas minha visita estava tranquila, limpou tudo. Se fosse eu, na casa de alguém, teria desmaiado de horror e vergonha dentro do banheiro. Não iria pedir ajuda com tanta calma.
Depois de meses com aquele cabelo de louca das cavernas, finalmente peguei o cartãozinho com o telefone da pequena e ruiva Justine e fui lá cortar a juba, enquanto ela cantarolava—lará-lá-lálá. Cansei de tudo e mandei ela tosar. Ela mediu com o dedo, aqui? Não, pode cortar BASTANTE. E assim saí de lá dez quilos mais leve e com um corte de cabelo que não me permite mais usar rabo de cavalo.
Tudo está relativamente bem. Eu queria que estivesse melhor, porque ansio muito voltar a ser um ser humano normal, que pode mergulhar numa piscina e nadar sem constrangimentos, pode montar na bicicleta e pedalar sem preocupações de será que vou encontrar uma vaga na sombra? But it takes time.
Ando deitando lá pelas 7:30 pm pra tentar, às vezes em vão, ler umas páginas de um livro, ver um filme. Capoto às 9pm, não acho isso muito normal, mas parece que meu corpo anda pedindo, implorando, descanso. Tem que aceitar.
Esse verão já deu, já encheu, se acabasse repentinamente amanhã, eu não ficaria triste. Infelizmente ainda temos muitas semanas de calor pela frente. Esta particularmente bem quente, o que desperta a monstra que vive enclausurada dentro de mim e que reclama, pragueja, chuta latas. Tudo pra nada, como é de praxe.

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Frankly, my dear, I don’t give a damn

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Será que isso é sinal da idade avançando, porque eu costumava me importar com muita coisa que simplesmente já não me importo mais. Costumava gostar ou desgostar de pessoas e objetos, que hoje não me dizem mais nada. Eram outros tempos, outra mentalidade, outra eu que não existe mais—ou melhor ponderou e andou pra frente sem olhar pra trás. E deve ser por isso que eu sinto tão pouca saudade, de lugares, gentes e histórias, pois o que se viveu já passou e se foi bem vivido não precisa ficar reprisando.

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com a língua de fora

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Na verdade eu já estava cansada há algum tempo. Achava que era um cansaço relativo ao trabalho, à acordar cedo e correr o dia inteiro, pedalar ida-volta-ida-volta, fazer mil coisas nos intervalos, cozinhar, organizar, fotografar, escrever. Até fiz piada dizendo que tinha dois empregos—um oficial e com salário das 8 às 5 e o outro sem pagamento das 5 às 8 unoficialmente desempenhado nos headquarters do Chucrute com Salsicha. Eu andava cansada, muito cansada. Mas agora estou EXAUSTA. Naquele ponto de acordar cansada, passar o dia cansada e à noite fazendo o jantar sentir um cansaço tão extremo que chega a perturbar o pensamento, a coordenação motora, o bom senso. Quando você começa a chorar porque não consegue recolocar a tampa na lata de azeite e sente que vai desabar em consequência de uma fadiga galopante que está tomando conta de tudo, é hora de admitir que algo está errado. Estafa pós-operatória ou estafa de tudo mesmo? Não sei. E sinceramente não quero saber. Quero mesmo é poder voltar a funcionar normalmente, de preferência das seis da manhã às dez da noite. Seria possível?

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nem vimos passar os anos

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Fui consultar os arquivos do blog—viu como é bom ter blog? Porque eu tinha quase certeza que o Roux tinha chegado aqui em casa num final de julho. E foi mesmo. Ele chegou no dia 23 de julho de 2004, era uma magreleza só. Hoje, quem te viu, quem te vê! A criatura é robusta, com uma pança de fazer inveja. E continua tentando ser amigo do gato Misty, que não quer, nem nunca quis, ter nenhum tipo relacionamento com ele. Mas o que teria sido de nós sem esses quatro anos de convivência com o Roux, suas estrepolias, suas caras engraçadas, sua maneira carinhosa de conversar com os humanos? Eu adoro ter ele aqui. E já são quatro anos. Realmente, nossa casa ficou mais feliz e animada depois que ele chegou.

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dias de jejum forçado

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A primeira e última vez que dormi num hospital foi quando meu filho nasceu, há vinte e seis anos. Portanto não posso me considerar uma pessoa experiente em estadias hospitalares e nem me sinto muito animada com a perspectiva de tubos, macas, enfermeiros, monitores. But a woman’s gotta do what a woman’s gotta go, então hoje pela manhã me internarei no hospital para fazer um tratamento chamado embolização uterina.
No ano passado uns exames detectaram entidades invasoras residindo no meu útero. O aparecimento dos famigerados fibromas parece ser uma coisa normal em mulheres de mais de quarenta anos. Eles são considerados tumores benignos e não causam nenhum risco, mas se desenvolvem e se multiplicam, evoluindo rapidamente para um quadro de sintomas realmente duros na queda. Eu já estou hospedando muitos, inúmeros, incontáveis fibromas e eles já estão fazendo a minha vida bem miserável. Na busca por uma solução fui colocada frente a frente com a possibilidade de fazer uma histerectomia, que é o procedimento de remoção do útero. Fiquei muito perturbada com a idéia de remover uma parte do meu corpo e eu e o Uriel fomos atrás de mais informação. Descobrimos que noventa por cento das operações de remoção do útero relacionadas à problemas com fibromas são totalmente desnecessárias e que há tratamentos alternativos. Tive várias consultas com minha ginecologista e, depois que optei pela embolização, também com a radiologista que vai comandar a ação e que me explicou todos os micro-detalhes desse procedimento muito menos traumático e agressivo.
Vou pro hospital em jejum, levando comigo minha malinha com alguns objetos pessoais e meu indefectível e robusto mau humor matinal. Estou ciente de todos os pormenores e de como meu corpo deverá reagir a esse tratamento. Já sei que vou ter que ficar uns dias de molho, sem poder cozinhar ou inventar muita moda. Tirei uma semana de licença saúde, que é o tempo que me disseram que vou precisar para me recuperar. Mas estou na expectativa de estar boa antes disso. Até breve então!

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hei!

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*Pés nas Nuvens [05/10/99]

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*se eu não publicar alguma coisa aqui, este blog vai sumir, então reciclo um texto do século passado, porque recordar também é viver.

Nós somos uma família de massagistas desajeitados e amadores. O marido massageando os pés da esposa. A mãe massageando, beijando e admirando os pezinhos do filho, antes deles virarem pezões e partirem. Massagens de pescoço, de braços, de costas. Tudo sem pretensões terapêuticas. É tão bom.
Depois de ler uma mensagem ‘zen’, me inspirei e fui fazer uma massagem nos meus pés, porque fazia tempo que eu não fazia isso com cuidado. Mas tem que usar um creme bem bom e cheiroso e depois colocar meia—e sair pisando em nuvens.
Eu parei de ter dores nas costas quando deixei de ser magrela e quando parei de estressar pelo futuro. Agora estresso só o ‘agora’. E logo ventilo, pra não acumular nó no pescoço. Tem ajudado. Faz alguns anos que não preciso de quiroprata.
Precisava mesmo dessa massagem nos pés. Os coitados agüentam tanto. Já pensou o peso, a responsabilidade de não deixar o corpão cair? E correndo pra lá e pra cá o dia inteiro? Hoje à tarde eu andei milhas dentro do playground da minha escola. Amaciando minhas novas botas de jeca-tatu-trabalhadora, estou mentalizando ondas positivas para meus pés não fazerem bolhas. Senão vou ter que voltar pros tamancões ortopédicos [cloc cloc cloc] por todo o inverno. Não, meus pés estão cansados, mas estão inteiros.
Estreamos a segunda-feira de estação nova. Grama plantada fresca no playground e chão forrado de folhas amarelas. Alguém me disse olhando pras arvores e abraçando meus ombros :
—Que coisa mais bonita essa natureza…
A rotina não muda, mas a paisagem encanta os olhos. Outubro é realmente meu mês favorito! Ontem cortei umas abóboras em guirlanda, que as crianças adoram colorir. E fiz tinta laranja pra pintura. E massinha de modelar cor de abobora com purpurina brilhosa. Girei um fantasminha feito improvisadamente com um filtro de café, preso numa cordinha… BOOOOO….BOOOOO….. As crianças correram pela sala às gargalhadas!
Um ventinho sopra e vem uma chuva de folhinhas douradas. Uma criança sai gritando:
—o inverno está chegando! o inverno está chegando!
Vamos com calma!, vamos com calma, que por enquanto ainda estou curtindo o Outono.

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o passado não condena