Aquele canto ali
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Tem um canto do meu quintal que eu sonho em transformar no melhor e mais aconchegante lugar para sentar e ler um livro, beber um chá ou uma limonada. Ele fica exatamente ao lado da cerca que divide a minha casa com a dos meus vizinhos com duas crianças, um cachorro e um gato. Ali também fica uma árvore ancestral, que não pôde ser derrubada quando construiram as casas, então ela ficou, com uma cerca enroscada em volta. Uma excelente fonte de sombra, embora ela seja daquelas árvores imensas que perdem TODAS as pequenas folhinhas no outono e faz uma sujeirada do outro mundo. Mas tirando isso, ali debaixo da árvore e acompanhando a cerca está o melhor lugar do quintal. O único problema é que agora aquela área está um lixo—literalmente, com tijolos de concreto empilhados, abandonados pelo outro dono da casa, várias latas de lixo que a prefeitura não aceita mais, capa da churrasqueira, outras duas churrasqueiras pernetas resgatadas de não sei onde, mais uma pilha de entulho verde, que eu acumulo das podas e limpezas de mato e que precisam ser colocados na sarjeta toda quinta-feira, mas nunca são, então ficam lá, uma pilha crescente e apodrescente. Além do fato que a árvore impede o crescimento de grama, e eu queria estender o caminho de tijolinhos até lá. E podar o matagal. Tudo isso, apenas no meu pensamento, sem botar nada na prática, sem o apoio do cara-metade, sem mexer uma palha. Fico olhando fotos de quintais lindos para serem aproveitados durante o verão nas revistas. E enquanto isso tem lá o meu cantinho, praticamente jogado às moscas. Ou melhor, deixado para o filhote de coelho e o esquilo que agora moram no meu quintal.