de chapéu

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meu filho foi esquiar–de chapéu.
essa foto é de dez anos atrás, mas o chapéu é bem parecido.

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the trouble with me

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O problema comigo é que quando eu pego entojo, eu pego entojo e não tem volta, não tem jeito. Quando eu pego entojo, tá feito, tá decidido. E quando eu pego entojo de alguma coisa ou de alguma pessoa, eu simplesmente não posso nem mais ver o objeto ou a pessoa na minha frente. Pior, eu não consigo nem pensar, nem mencionar o nome da coisa ou do coiso. Não tem remédio e a única reação que eu consigo ter é de repulsa. Como um disco quebrado, minha mente teimosa não desiste de soletrar com grande ênfase—i don’t like you! É esse o problema comigo, que realmente não tem jeito e que é assim mesmo.

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abracadabra!

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Minha vida deve estar numa fase completamente enfadonha, pois até a minha natural elocução tirou uma folga, escafedeu-se. Mas não é porque nada acontece. Muita coisa acontece, claro. Por exemplo, hoje eu caminhei invés de pedalar a bicicleta, porque chovia muito. Comi pizzelles e bebi suco de cenoura. Chorei mais lágrimas por causa dos animais maltratados. Escrevi e-mails. Amarrei um lenço no pescoço, como a enfermeira Helen Hayes faz em A Farewell to Arms. Marquei hora no médico. Pensei em muitas pessoas. Li algumas notícias. Já decidi o jantar. Se espremer, sai assunto. O negócio é que eu não estou com a menor vontade.

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ninguém contava com essa..

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Pelo vidro emoldurado da janela, olho hipnotizada folhas de jornal voarem e revoarem pelo cimento e gramado. Estávamos engrenando para uma semana de primavera ilusória no meio do inverno, quando começou o vento. Por um motivo alheio ao tempo, eu troquei de roupa na hora do almoço. É muito raro eu fazer dessas, mas quando faço tenho sempre uma desculpa preparada, caso alguém se espante—uai, cê não tava com um casaco de veludinho florido hoje pela manhã? Felizmente nunca tenho que usar minhas histórias esfarrapadas, pois ninguém realmente comenta. E eu voltei mais agasalhada, pois a ventania já tinha começado. Vim pedalando minha bicicleta velha com tal esforço que me fez sentir os músculos do estômago, que eu às vezes acho que não tenho mais. Na caminhada da tarde, lembrei quando eu e o Gabriel lutamos contra o vento numa avenidona deserta daquela cidade que fica na planície gelada. Só ai entendemos por que não víamos ninguém caminhando pelas ruas. Me senti assim caminhando hoje pelo campus, contra o vento que me impunha fazer força e me esticava a cara, ou contra o vento que me empurrava como se estivesse aflito que eu fosse chegar atrasada. Me deu medo. Galhos de árvores ancestrais quebram, alguns já quebraram, mas felizmente nenhum despencou sobre a minha cabeça.

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let the sun shine III

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Fiz a curva, pedalando inclinada pelo círculo e comecei a ouvir o som dos tambores. De longe já pude ver duas figuras com dreadlocks loiros dançando. Eles estavam mesmo pulando, ou melhor, se expressando. Saias longas indianas, torsos nus, cabelos embaraçados, pés descalços dançando ao ritmo pulsante dos tambores no gramado central do campus. Aquela cena me fez mergulhar numa dúvida existencial—quem sou eu, onde estou, viajei no tempo, caí da bicicleta e morri, nada disso pode ser real. Mas é fato que o tempo esquentou e os bichos grilos já sairam da toca para celebrar o sol.

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atração irresistível

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Uma criatura com uma câmera na mão passa na frente de um espelho. Não dá pra evitar fazer esses manjados auto-retratos.

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As cinzas da quarta

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Acho horrivel quem diz que o ano vai finalmente começar depois do carnaval. Dizer isso é como assinar um atestado de falta de idoneidade.
Acordei certa de que estava iniciando uma quinta-feira. A realidade me colocou rapidamente no dia certo.
Não suporto acompanhar apuração de eleições. Por favor, me diz apenas quem ganhou e pronto!
Eu não quero, de jeito nenhum, ser uma pessoa que combina cores.

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o passado não condena