quem mandou reclamar

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Agora aguenta uma crise de enxaqueca nos três dias que antecedem o Natal. Compra, embrulha, prepara, lava, arruma, cozinha, serve, entretem os convivas, enquanto move-se lentamente e descuidadamente pelas brumas de avalon. Sobreviverei aos jingle bells?

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come in she said i’ll give you shelter from the storm

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A quatro dias do dia N e eu só tenho definições feitas em pensamento. Nada ainda se materializou na prática. Mas tudo bem, sem pânico, porque de uma maneira ou de outra tudo vai acontecer.
Todas as árvores da minha rua estão peladas. As últimas folhas estão espalhadas pelas calçadas, asfalto, gramados. É um cenário triste e desolador. Isso quer dizer que já estamos entrando no inverno—a estação cinza.
Choveu muito, justo no dia da festa. Chuva com vento, daquela que cai enviezada e molha tudo. Quando cheguei em casa à noite, a perna da minha calça ainda estava molhada.
Quando chove cântaros aqui, neva toneladas na Sierra. Pai e três filhos foram soterrados* pela nevasca enquanto procuravam por uma árvore de Natal. Uma árvore de Natal….
[*foram resgatados vivos!]

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flagrante delito

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Terminei de ler um texto, virei pra olhar através da janela e estava enxugando as lágrimas e pensando no que tinha acabado de ler, ensurdecida pelo fone de ouvido que tocava acho que Lou Reed, portanto não ouvi meu chefe chegar. Quando virei, surpresa com um som abafado me chamando, deixei ele me ver daquele jeito, com um lenço na mão, os olhos vermelhos e uma tremenda cara de bunda.
Meu colega me deu um cabide desses que se encaixa entre as paredes dos cubículos. Penduro meu casacão longo e preto lá todo santo dia e ainda não me acostumei com aquele vulto negro bem atrás do meu ombro direito. Já levei dezenas de sustões, daqueles de dar tremedeira e o coração quase sair pela boca. Darth Vader está me vigiando. É apenas um casaco, nega! Mas quem diz eu me lembro?

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pipoca aqui, pipoca ali, pipoca lá e acolá

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Estou vestindo uma calça marrom de corduroy enorme do meu marido, porque estou numa fase horrorriver—não tô suportando roupa nenhuma, nem roupa de baixo, nem roupa de cima. Às duas da tarde tudo me incomoda e a minha vontade é arrancar tudo, vestir uma túnica branca de linho, daquelas iguais a de personagem louca de filme hiper realista, e sair correndo pelo campo de grama verde em câmera lenta, com os braços abertos e a cabeleira esvoaçante.
Tenho que ouvir o Pandora ou o ITunes ou o IPod quando o meteorologista chega com o lanche dele, que ele devora na frente do computador, provavelmente ensebando todo o teclado, pois ele só come junk food. Eu também precisava ter um nosephone ou uma máscara de oxigênio para não precisar sentir o cheiro do que ele come. Hoje parece feijão queimado. Eu sou uma pessoa que gosta de cozinhar com ingredientes de qualidade e comer coisas saudáveis. For Pete’s sake, que raios de gororoba é essa. Só sei que ele compra, em algum lugar, no campus. The hazards of eating. Peligro Will Robinson, peligro!
O Pandora é legal, mas às vezes você começa ouvindo Beatles e quando se dá conta está poluindo as orelhas com The Goo Goo Dolls.
Fui fazer minha limpeza dentária e recebo mil elogios. Tenho os dentões mais bem escovados, fio dentalizados e higienizados de todo o condado. Mas isso não quer dizer nada—quer dizer—quer dizer que limpeza não ajuda quando os genes não ajudam. Mas não vou reclamar. Não vou reclamar. Não vou reclamar.

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o passado não condena