Comecei a sentir uma dor de estômago na sexta-feira e somente na segunda-feira joguei a toalha e pedi pra ir ao hospital. Como a maioria das pessoas sensatas, eu odeio hospitais. Mas me rendi, porque não dava mais. Pleno feriado, bandinha tocando no parque, pessoas felizes se preparando para fazer picnics e passeios, e eu dando entrada na emergência do hospital da cidade. Entrei às dez da manhã e saí às sete da noite. Passei por todos os exames possíveis, de sangue, urina, raio-x, até resolverem fazer um cat scan. No meio tempo me deram um cocktail de remédios que não adiantou nada, e depois uma dose pequena de morfina que pra mim, desacostumada com medicamentos, foi um verdadeiro nocaute.
Tenho que abrir um parêntese pra falar sobre essa experiência. Alías, sou uma pessoa certinha e só faço drogas legalmente, dentro de hospitais e consultórios médicos e dentários. Fiquei muito impressionada com o poder da morfina. Agora entendo porque essa droga é administrada em pacientes terminais. Ela simplesmente te leva pra outro planeta. Foi uma coisa rápida e totalmente baqueante. Eu senti a droga entrando na minha corrente sanguínea, engrossando o meu sangue e tomando controle de tudo. Fui para xangrilá. Mal conseguia falar, mexer as mãos e manter os olhos abertos.
A vantagem de ter ganhado uma viagem de morfina, foi que consegui passar as muitas horas de espera, para fazer o cat scan e os resultados, completamente apagada. No final, o diagnóstico foi uma possível gastrite, que está sendo tratada e monitorada. O scan achou outras coisinhas—nada sério, mas que vou ter que cuidar em breve. Passei o feriado enclausurada numa prisão, que é como a gente se sente dentro de um hospital, desprovidos das nossas roupas e da nossa dignidade. Tudo por um diagnóstico, que nem sempre é cem por cento exato.