as far as I’m concerned, it’s a lovely day

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Aprendi com os anos a gostar do verão. Não pelo calor em si, mas pela grande mudança. As mudanças são o que me interessam, porque provocam uma expectativa, renovam, motivam para coisas novas. Gosto dos dias longos, de acordar com o sol, das frutas abundantes, do agito nas cidades, de poder nadar sem congelar, mudar de cor, vestir sandálias, almoçar e jantar no quintal, colher tomates da horta, beber água com rodelas de limão, fazer churrascos e picnics. O verão é colorido, mesmo nos dias terrívelmente quentes. Gosto do verão, até inicio de setembro, quando já começo a esperar ansiosamente pelas mudanças do outono.

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plain jane

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Porque eu nunca esqueço um rosto, fico lascada quando reencontro pessoas a quem já fui apresentada inúmeras vezes e continuo ouvindo um “nice to meet you/ prazer em conhecê-la”. Suponho que devo ter uma cara incrívelmente comum, de pessoa que não marca, não impressiona, não faz diferença. Com a minha altura, meu nariz, meus olhos, meu sotaque, minha voz, minha conversa engraçadinha e quase desinibida, minha cabeleira descabelada, minha maneira palhaça-desengonçada de ser. Ah, como é insuportável a leveza de ser invisível

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verde

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The best day is today

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Tanto que ele se mostrou blasé, que acabei incorporando a sua maneira desconsiderativa de encarar datas e esqueci do aniversário. Culpa dele, que não liga. Mas eu acordo tão passada, não sei que dia do mês ou semana estamos. Muitas vezes nem lembro quem eu sou, onde estou, qual o propósito da minha vida e da minha presença neste planeta.
Caminhando, tomando banho, meditando na privada, são momentos propícios para se ter idéias, achar soluções, bolar planos, ter as estruturas abaladas por uma epifania. O que me faz pensar que não há melhor hora que esta, agora. Nunca mais vou ter essa idade, nem esse cabelo despenteado dessa exata maneira, nem os pés assim apoiados com essa leveza neste mesmo chão, iluminado por precisamente este raio de sol, neste momento em que pensei que nunca mais voltará e já se foi.

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bem feito!

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Sou friorenta, calorenta e basicamente estou sempre me sentindo desconfortável. Sem falar que sou grande e tudo me incomoda, não posso com nada apertado, nada que me prenda. Todas as minhas roupas são um número acima da minha numeração real, porque eu preciso estar folgada, preciso de espaço. O resultado é que muitas vezes pareco um saco de batata ambulante. Mas eu não me importo. Quando morava nos trópicos passei anos sem usar calça jeans, porque somadas ao calor e a umidade elas se tornam uma peça de tortura física. Voltei à usá-las, mas nunca nos dias muito quentes, como hoje. 41ºC e eu deveria estar vestindo um camisolão de algodão ou uma túnica até os pés. Estou de bermuda jeans e à 1 pm percebi que não iria durar até às 5 pm, porque o meu desconforto é completamente psicoloógico. Enfurnada num ambiente climatizado, mas mesmo assim tudo está apertando, incomodando, sufocando e eu deveria ter ido ao banheiro e voltado enrolada numa toalha. Isso iria causar a minha demissão sumária, mas certas coisas valem à pena. Era assim que eu dormia nos meus últimos meses de gravidez, no final de um longo verão, enrolada numa toalha. Quem mandou nascer assim?

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pra ler com todas as letras

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Desde os tempos em que eu escrevia em lista de discussão que eu percebo esse exasperante fenômeno—cada um que lê um texto faz uma interpretação diferente, infere, concluí baseado na sua visão de mundo particular e experiência própria. A leitura é sempre parcial e altera o significado original. Pra quem escreve isso é uma faca de dois legumes e uma fonte constante de irritação e de mal entendidos tendo que ser contínuamente re-explicados. Pior do que essa mutação pública do seu pensamento é a fragmentação do tal, feita por pessoas que nem se dão ao trabalho de ler o texto inteiro com atenção. Leitura dinâmica sempre dá xabú e ocorre no sujeito fazendo uma pergunta cuja resposta está completamente óbvia e evidentemente escancarada nas linhas do texto.

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o passado não condena