Aqui eu ainda tenho uma desculpa para os meus embananamentos com nomes. Não é fácil colocar todos os jotas com os agás, tês com esses, os dáblius com ipisilones e ter sempre os Jim, Janet, Dave, Mitch, Susan, Steve, Marylou, Jon, Judith, Carl, Pete ou Martin na ponta da língua. Mas quando o problema já é recorrente, até na língua mãe, há de se convir de que o caso é mesmo perdido.
A Dona Lucy costurava pra mim nos anos que morei em Piracicaba. Ela tinha uma paciência de jó, era um doce de pessoa, sempre muito educada e gentil. Eu levava meus panos e minhas idéias malucas pra ela, que coçava o queixo, ficava com uma cara de quem estava prestes a afundar num poço de areia movediça, mas sempre respirava fundo seguia em frente com coragem e determinação e fazia tudo o que eu pedia, por mais esdruxúlo que fosse o pedido – e eles sempre eram. Eu adorava a Dona Lucy com seu jeitão simpático. Fui fregueza dela por anos, sempre falando Dona Lucy, Dona Lucy, levei até a minha mãe e irmã lá, que vinham de Campinas trazendo os panos para a Dona Lucy transformar em lindas roupas. Eu já estava de mudança, cascando fora de Pira e do Brasil, quando descobri que o nome da Dona Lucy não era Lucy… Era um nome totalmente diferente. E eu nunca entendi como foi que comecei a chamá-la de Lucy, nem por que, e à aquela altura do campeonato nem adiantava mais tentar remendar. Fui me despedir da Dona Lucy, chamado ela de Lucy, um equívoco que ela nunca, nunca, nunca contestou.