mês número dois

*

No final de janeiro abri o weather app e comecei a chorar. Iniciamos fevereiro com a primavera. Temperaturas de 20 a 23C. Levei uns dias pra aceitar que tivemos o inverno mais curto de todos os anos em que já vivi aqui na Califórnia. Fez frio em janeiro. Ponto final. Almoçamos e jantamos no quintal em novembro e dezembro e já voltamos a almoçar a jantar no quintal em fevereiro. Estamos bem ferrados, nem posso imaginar o que vai ser o verão.

Mas como ando olhando o lado bom da vida, o resultado dessa mudança drástica no clima é que voltei a nadar no dia 1 de fevereiro. Comprei um iWatch, depois que meu FitBit morreu e estou novamente animada. Yoga, meditação, caminhadas, natação, organizando meus horários de comer, chá verde, trabalhando em pé, acordo às 5:30am, tomo o café da manhã às 8am, mindfulness training, nem acredito na pessoa que me tornei. E digo isso de uma maneira positiva.

Tenho lido muito. Tenho visto filmes e séries moderadamente. Meu tempo está absolutamente todo tomado com minhas aventuras culinárias, tentando usar a tonelada de cítricos que se acumularam [de repente] na minha cozinha. Limões meyer, siciliano, rosa, grapefruits, kumquats.

Os gatos vivem num eterno duelo. Estou muito ocupada no trabalho. Tomei decisões sem culpa. Pra mim deu, pelo menos por enquanto, estou fora.

  • Share on:

Martin Luther King Jr.

*

“Darkness cannot drive out darkness;
only light can do that.
Hate cannot drive out hate;
only love can do that.”

  • Share on:

mais um ano novinho

*

Hoje são 36 anos juntos. Na passagem do ano falei pra ele—já passamos 36 anos novos juntos! Não lembro do primeiro, só lembro da casa cheia de gente que veio pro reveillon e ficou pro casamento. Lembro da minha prima fazendo ioga no chão do quarto. Ela não ficou pro casamento, se desentendeu com a mãe e nunca mais eu a vi [viva] porque ela morreu um ano depois. Lembro de alguns anos novos, não lembro da maioria. Afinal são 36! Mas lembro do primeiro fora do Brasil, passando de blusa de lã e meia calça preta e saia xadrez vermelho e amarelo. Foi um choque pra mim não ter roupa branca. Passamos num salão de festa de um restaurante com pessoas que não lembro quem eram [brasileiros, eu acho]. Mas lembro que à meia noite nos abraçamos, eu, o Uriel e o Gabriel e ficamos assim abraçados, os três, por um tempo enorme. Nosso primeiro reveillon sozinhos. Nunca mais passamos com família. A partir daquele momento, nos primeiros minutos do 1º de janeiro de 1993, ficou absolutamente claro que a família dali em diante era apenas nós. Agora passamos eu e o Uriel, sempre nós dois, e eu gosto muito disso. A melhor hora da virada do ano novo pra mim é a hora dos abraços e beijos. Quero ficar assim pra sempre, mas temos que parar. E dançar. E beber champagne. Que 2018 seja maravilhoso para nós. Que o passar dos anos faça com que tudo fique melhor, como a gente diz dos bons vinhos.

  • Share on:

on the right side of my pillow

*

No inverno se a gente acorda tarde, o dia parece que não rende. Pisca-se e já é noite. Quero fazer tanta coisa nessa minha semana de férias, que acabo até desanimando. Mas até quer fiz bastante coisas, limpezas gerais, organizações, tenho feito ioga toda manhã e caminhado quando dá. Fomos à San Francisco, fizemos uma trilha linda mas bem difícil no Capay, acho que amanhã vamos tentar ver neve. Se neve houver, já que não chove e estamos tendo o dezembro mais seco desde 1989. A palavra “seca” está em todos os corações e mentes por aqui e deixa a gente meio deprê. Sabemos que tudo é cíclico, mas neste momento parece que estamos apenas despencando, morro abaixo. Mas é tão bom poder passar uns dias com o Uriel que vou ficar realmente triste quando essa semana acabar. E vamos voltar à rotina exatamente no dia 2 de janeiro, quando vamos comemorar 36 anos de casados. E cada um numa cidade. Blé. Mas enquanto durar vou aproveitando—férias de trabalho, férias de noticias políticas, férias de acordar com horário, férias de jantar e dormir sozinha. Aproveitar porque esse bom vai durar pouco.

  • Share on:

mindless

*

Minha vontade neste momento é de apenas ficar olhando uma paisagem com bastante neve em modo mindless.

  • Share on:

walk, don’t run

*

Tenho muitas ganas de andar. Se pudesse andava o dia todo, mas tenho que trabalhar, fazer tarefas domésticas, dormir. Andar é muito bom, é meditativo, ajuda a colocar os pensamento no lugar, sem falar que relaxa e aqui vou vendo a paisagem, as mudanças das estações. Sempre tiro fotos. Às vezes vou andar com colegas durante o trabalho, até acho legal, mas prefiro andar sozinha. Quando ando com o Uriel é a hora de conversar bobagens ou coisas sérias, até choro andando. Andar e conversar sobre política me faz bufar e apressar o passo, fico descabelada e sem folego. Ando com som de jazz, às vezes com som de rock ‘n’ roll. Tenho essa gana de andar e ando muito, só não ando mais porque não posso.

  • Share on:

26 de novembro de 1973

*

No dia 26 de novembro de 1973 eu estava na sala de jantar da casa que meus pais tinham alugado depois de vender a que eles tinham construído, em preparação para nos mudarmos para Campinas. Eles estavam tomando decisões cruciais, muitas coisas estavam acontecendo na vida deles, especialmente no trabalho da minha mãe, mas a gente nunca percebeu o estresse, as preocupações, a tensão. Meus pais sempre foram muito bom nisso. Mas eu era uma criança de 12 anos e aquela casa foi um parque de diversões pra mim durante um ano. Eu estava na sala de jantar com paredes rosadas, a mesa e o buffet de fórmica imitando madeira que eu achava lindo. Nessa sala tinha uma lareira na parede, não sei se era de verdade ou só uma decoração. Meu pai montou a árvore de Natal naquele dia. A gente podia olhar, mas nunca ajudar porque os enfeites de vidro super fino quebravam a qualquer toque mais áspero. Meu pai era um perfeccionista e as crianças eram bagunceiras e arteiras e uma delas [eu] era a mais desastrada. Então olhamos apenas e depois do evento da montagem da árvore de Natal eu fiquei um momento ali na sala e estava me sentindo tão feliz, pensei—vou lembrar pra sempre desse dia! todo 26 de novembro eu vou lembrar desse dia, nunca vou esquecer. E nunca esqueci.

  • Share on:

pre-thanks-giving

*

Eu adoro o Thanksgiving, mesmo não tendo toda a família aqui, sendo só meu marido e meu filho, que sempre escapa e não passa o feriado com a gente. Mas Thanksgiving pra mim é a melhor celebração, porque só envolve ser grato pelo que temos, cozinhar, receber amigos e família e comer. Este ano passaremos com amigos. As pessoas se juntam, mesmo as que não estão próximas dos parentes como nós. Não precisa comprar presente, essa é a melhor parte.

Fomos olhar um aquecedor elétrico pra comprar no sábado. Paramos no Orchard e depois fomos ao Home Depot. O Orch é uma loja que eu até gosto, porque tem muitas utilidades pra mim, além de plantas, coisas de cozinha. Mas com a aproximação do Natal aquilo fica infestado de enfeites, dos razoavelmente bonitos até os ultra cafonas. Já o Home Depot me oprime. Não tem nada que me interesse lá, mas fiquei esperando o Uriel falar com o atendente e comecei a olhar em volta. Pro meu horror, vi coisas pavorosas, como enfeites de Natal gigantes que o pessoal aqui pendura em árvores, feitos de plástico, decorados com purpurinas douradas e prateadas. Me deu um mal estar pensando NÃO PRECISAMOS de nada disso! Badulaques feitos na China ou qualquer país pobre, cheio de materiais tóxicos [se não for eu sempre acho que é], usando mão de obra semi-escrava. E PRA QUÊ? Pra você ter um badulaque a mais enfeitando a casa, que depois vão acumular poeira na garagem ou terminar sendo doados pruma loja de segunda mão. Toda a parafernália do Natal me oprime, me deixa questionando como chegamos nesse nível de consumismo, de superficialismo, gastando com coisas que não precisamos, está tudo errado. Comprei enfeites novos pra minha árvore de Natal em 2011 porque os meus estavam velhos e horríveis e meus sobrinhos estavam vindo me visitar. Todo ano reuso os mesmos enfeites, não vejo absolutamente nada de errado com isso, vou continuar reusando, serão vintage em 30 anos, nunca serei aquela pessoa comprando uma porcaria feita de plástico no Home Depot.

  • Share on:

o passado não condena