nós na chuva

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Patricia nos explicou no sábado o seu esquema de identificar brasileiro no campus quando chove. É bem simples, se você vê alguém correndo descabeladamente tentando ir de um prédio ao outro debaixo de chuva, a probabilidade desse alguém ser brasileiro é bem alta. Por quê? Simplesmente porque brasileiro nunca lembra de levar guarda-chuva quando saí de casa. E quando lembra, esquece o dito cujo no primeiro lugar que parar. Uma excelente teoria, que hoje mesmo eu já provei verdadeira.
Quando me vi correndo pela chuva, sem o guarda-chuva, que tinha esquecido na minha sala – e que sinceramente, vivo esquecendo em todo lugar que vou, comecei a gargalhar sozinha, abismada com o quanto a teoria da Patricia estava correta. Transloucados e transloucadas correndo desesperadamente pela chuva, só pode ser um de nós. Eu ou você!

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preste atenção, e não se engane

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Ela passaria facílmente por uma americana blue collar de seriado de televisão. Nome e sobrenome americano. Visual perua de Peggy Bundy: roupas coloridas, cabelão, sandália de salto alto decorada com strass, unhas longas pintadas de amarelo, moleton de time de baseball. Maior atitude, falando alguns palavrões e contando detalhes da vida íntima para os colegas de trabalho e pegando no pé de um e de outro com piadinhas sem graça. Sempre segurando uma caneca de café. Mandando e-mail pra todo mundo com a foto do sofazão cafona reclinável que ela comprou, e comentando quanto pagou. Falando sempre bem alto e prometendo pagar um jantar para todos se ela não estiver com um “six-pack” abs até julho. Ninguém duvidaria da nacionalidade dela, se ela não tivesse um sotaque pesadíssimo que denunciasse que ela é uma imigrante japonesa!

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muita coisa pra dizer

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Eu costumava ler umas pessoas que me inspiravam. Umas sumiram, outras ficaram chatas pra carvalho. Vocês sabem, eu não gosto de ler pra ficar refletindo, discutindo, analisando. Eu gosto de ler pra dar risada, me entreter e relaxar.
Quando eu fico cansada, eu choro. Fui trabalhar num show no Mondavi Center na quarta-feira. Meio da semana, já caí na real que não vai dar. Era um grupo de dança indiano, que tocava uma músca hipnótica e cinco bailarinas faziam barulhinho de guizo enquanto davam passinhos no palco. Eram danças sagradas dos templos e uma história de amor entre Krishna e Lakshmi. A primeira parte foi interessante e divertida, mas a segunda foi de lascar a lenha. Comecei a ficar tremendamente cansada e irritada, com vontade de chorar e sair gritando “chega! chega! chega!” pelos corredores do teatro. Eu batia o pé impaciente e uma das voluntárias sentadas ao me lado colocou a mão delicadamente no meu braço, como quem diz “paciência, pacência, já está terminando”. Cheguei em casa delirando de cansaço e irritação, chorei no chuveiro, não vai dar mais. Tenho que trabalhar somente em shows de finais de semana. Ponto final.
Abriu uma Ikea aqui perto, em West Sacramento. Tinha gente acampando na porta há mais de um mês, pra ganhar os prêmios que a loja oferece para os primeiros da fila. Imaginem a rebordosa. Eu quero ir lá, mas vou esperar passar um tempinho. Agora não precisaremos mais ter inveja do povo da Bay Area, com suas casinhas frugalmente mobiliada, nem viajar uma hora pra comprar nossas coisinhas bonitinhas e baratinhas!
Outro dia passei parte do dia trabalhando de casaco. Não sei o que me deu, mas senti um frio descomunal. Pedi desculpas pela situação. Fui à uma reunião com a assessora de imprensa e a gerente geral do projeto vestindo um casacão. O diretor passou por mim e disse rindo – não se preocupe, você tem todo o direito de sentir frio, você é brasileira.

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planos para hoje?

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Agora meus finais de semana são realmente precisosos. Tão preciosos que me embanano querendo fazer tudo o que não tive tempo de fazer durante a semana. O troço é que além das minhas quarenta horas semanais pagas, continuo fazendo quase todos os voluntariados que fazia antes, com um extra que se reúne todo sábado. A little bit too much. Hoje preciso escapar. À noite trabalho no teatro, na apresentação do Grupo Corpo, que está aqui desde ontem, fazendo dois shows. Felizmente está nublado, assim não me sentirei tão horrivelmente culpada por não ir nadar.

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hello, howareyou, goodbye

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Preciso escrever qualquer coisa aqui antes que os arquivos engulam o blog. Fotos já não tem. A vida corre acelerada fora desta caixa de letrinhas. Penso em posts enquanto caminho pelo largo e longo corredor que me leva até o banheiro. E tenho uma história do banheiro, mas ela está apenas no meu post it azul mental por enquanto. Também penso em posts enquando pedalo a bicicleta, de manhã cedinho com os olhos lacrimejando de frio, na hora do almoço driblando centenas de estudantes caminhando ou pedalando. Todo dia eu torço pra não bater em ninguém, nem levar um tombo, nesses breves momentos de rush entre as classes dos alunos. Olho os modelitos, as caras, encontro gente conhecida, amigos, aceno. Como alguém pode pedalar uma bicicleta e falar ao telefone ao mesmo tempo? Aliás, tem momentos que parece que todos os alunos apressados estão falando ao telefone. E eu estou sempre um ou dois minutos atrasada. Ouço as badaladas quando estou virando a esquina do Quad, oito pela manha, uma à tarde. É a vida, gente, pedalando com a cara vermelha e gelada de frio, comendo biscoitos e olhando o movimento pela janela, caminhando pelo longo corredor até o banheiro, bebendo chá e trabalhando, trabalhando.

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resumo da ópera

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Depois daqueles dias supostamente primaveris, voltamos com força total para o inverno. O frio pegou a negadinha de roupetchas verão totalmente desprevenida – quem manda ser besta! Na quarta-feira estava -2ºC às 8 da manhã. Ontem choveu, hoje está uma névoa pesadíssima, estavam prevendo flurries para a região de Sacramento. Deve estar nevando canivetes em Tahoe. Um programador, colega de trabalho engraçadinho disse – se continuar frio assim vou me mudar pra Califórnia… ha ha ha!
Peguei uma gripe daquelas…. Estou me sentindo um saco de batatas com a ponta do nariz vermelha e esfolada, e a voz extra-sensual.
Trabalhei numa peça de teatro muito estranha, apesar de interessante. Ela foi adaptada de um livro escrito por um deficiente mental – que estava lá, na apresentação de estréia, e parte do elenco pertence à um grupo de dança de deficientes físicos. Logo no início dançavam uma moça na cadeira de rodas e outra com muletas. Levei um tempo pra notar que a moça bonita com as muletas não tinha uma das pernas. Fiquei impressionadíssima com a força física dela, com os movimentos, dançando lindamente. E ainda teve mais uma surpresa: a moça bonita, sem a perna, dançando, começou a cantar em português. Era uma brasileira.
Somente um gato, de preferência o Roux, pra me fazer gargalhar as 7 da manhã, depois de uma noite mal dormida por causa da gripe e da preocupação do marido trabalhando e varando a noite em claro [mais uma vez, deja vú…].

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o passado não condena