boas de papo
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Duas horas da manhã aqui na Califórnia, eu levantei e liguei pra Noruega. Não tava conseguindo dormir mesmo, pra que não aproveitar pra rebater a bola das nossas combinações telefônicas? O telefone tocou, tocou, tocou, tudo igual. Concluí que seria melhor ligar pro celular e aí fui respondida. Do outro lado da linha eram 11 horas da manhã e minha amiga estava num posto de saúde pública norueguês, medindo a pressão. Até nisso nós somos iguais: pés e mãos frias, que indica portador de pressão baixa. Eu ouvia telefones tocando. Conversamos baixinho. Aqui passou uma ambulância [ou carro de bombeiros]. Está tudo bem ai? Está tudo bem aqui! Sonhei com você! Tô pensando em você todos esses dias! Saco de diferença de fuso horário. Já alugou outro provedor de internet? Teve uma festa no sábado, sentimos sua falta! E as crianças tão boas? Peguei uma gripe. Aqui ainda não ta muito frio e ai? Não deu tempo de muita conversa e chegou a vez dela na consulta da pressão. Tchau, muitos beijos, te ligo outra hora [nas piores horas – maldita diferença de fuso!].
Oito e quarenta e cinco o despertador tocou, graças à delicadeza e gentileza do Ursão, que lembrou de fazer os settings pra mim. Enrolo uma meia hora e levanto reclamando. Putsz, tô com uma cara amassada de assustar criancinhas…… Tomo café ou não tomo café? Peraí, Fezoca, você vai tomar café antes de ir tomar café com a sua amiga? Ops, é a força do hábito. Lavo a cara, prendo o cabelo num rabo, visto uma roupa qualquer e me arrasto até o Starbucks da esquina. O solzinho no olho incomoda. Me sinto um zumbi, porque raramente saio de casa pela manhã. Mas acho que vou querer fazer disso um hábito. Tomar café no Starbucks da esquina [apesar de ser um Starbucks….] e bater papo com a amiga que diz que me conhecer lhe deu um certo conforto, uma sensação de que existem pessoas iguais por ai! Reconhecer a normalidade da gente no outro. Pra ficar freguesa desses cafés, só preciso começar a dormir mais cedo.