afreakyaccident

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Cozinha é um local perigoso. Um prato de cerâmica encardido de queijo derretido, água e uma esponja. Numa fração de segundos o prato quebrou, a carne se dilacerou, o sangue jorrou em bicas e lá fui eu correndo pro ER do Sutter Hospital, em Davis.Na triagem a enfermeira diz “você vai sobreviver, mas vamos ter que te costurar um pouquinho”. A pressão, que já estava baixa caiu de vez. Fui pra uma cadeira de rodas, porque não se podia correr o risco de um desmaio súbito e mais danos – desta vez pelo resultado de cair de cara no chão.
Primeiro faz a papelada. No meio do ‘nome-sobrenome-endereço’ me deram a lata de lixo pra vomitar. Tive de tudo: tonteiras, quase-desmaios, vômitos e até um peido desinibido, tal o nervoso de ver tanto sangue. O atendente, afetadíssimo, que escrevia meus dados num computador pergunta “você nasceu na Califórnia ou no México?”. Eu levanto a cara da lata de lixo e limpando a baba de vômito respondo com visível desdém “eu nasci no Brasil…”. Só fui melhorar dos enjôos e das tonturas quando uma senhora, voluntária, veio conversar comigo e perguntar o que tinha acontecido. “Me cortei num ‘freaking accident’ lavando um prato…”. Ela diz que já viu isso acontecer antes, só que com um copo.
Depois de duas horas entro na sala para ser costurada. Estou tremendo de frio. O ajudante de enfermeiro – chamado Patrick e com cara de estar muito puto por estar trabalhando num sábado – me colocou um roupão e me cobriu as costas com uma manta. Me fez perguntas como “você já foi vacinada contra tétano?”.
Mais um tempão esperando e entra o médico – a cara e a voz do Sam Elliott!!! Que sorte! Me espinetou com a injeção de anestesia, fez as costuras, eu reclamei que tava doendo, owch! Ele deu mais uma espinetada, disse que estava sangrando muito, deu as instruções gerais e disse com aquela voz de hollywood que a enfermeira viria limpar a bagunça.
A enfermeira me fez sangrar e quase desmaiar de novo. Ela chamou o Dr. Sam Elliott, que veio dizer novamente com aquela vozona de cinema que estava tudo bem. O Ursão disse “nós ainda temos que ir a um show hoje à noite…” e ela nem respondeu, claro, pois o que ela tinha a ver com isso? Embolotou meu dedão num curativo horrorildo e me mandou embora. “você está okay!”. Ah é? Como você sabe?
Sabe quantas vezes eu repeti a mesma história – tava esfregando o prato sujo de queijo pra colocar na dishwasher e ele quebrou na minha mão? Ninguém imagina o que é passar três horas dentro de um hospital dando essa explicação pra todo mundo. E vou viver com isso por dez dias…. explicando tudo de novo pra amigos, conhecidos, família, colegas de trabalho e – imagine se não – as crianças!

owch!

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o passado não condena