primeira aula
*
O professor chegou atrasado e pedindo desculpas. Disse pra classe lotada que aquele tinha sido ‘the worst fucking day’ de toda a sua vida….. Foi buscar uma boombox para tocar os cds que ele espalhou pela mesa. A classe, de umas sessenta pessoas, esperou sem reclamar.
Eu cheguei dez minutos antes do horário e a classe ainda estava razoavelmente vazia. Foi enchendo….enchendo. Nem o professor esperava tantos alunos e não preparou material pra todo mundo. Tivemos que dividir os folhetos com as letras das músicas.
O professor é novo, não deve ter nem trinta anos. Cabelos encaracolados e loiros, alto, magrelo. Chegou de camisa social, gravata e colete. Enquanto falava com a classe foi tirando tudo e afrouxando a roupa. Abriu o botão do colarinho e pudemos ver uma corrente grossa que ele usava no pescoço. Ele explicou sorrindo que tem um emprego que exige que ele trabalhe de gravata. Todo mundo riu, porque sabemos como isso funciona. Pelo menos eu sei!
Duas horas passaram voando, enquanto ouvíamos o professor falar dos pre-punks, dos problemas sociais que os EUA e UK viviam na época e ouvindo trechos de Iggy Pop, New York Dolls, Ramones, Richard Hell, The Clash, Sex Pistols, Crass, X-Ray Spex, Siouxsie & The Banshees e Joy Division. Depois assistimos alguns trechos do filme de Julian Temple – The Filthy and The Fury.
A classe é composta de gente de todo tipo e idade. Mesmo o professor, com suas correntes e botas pesadas, não se encaixa em nenhum um perfil estereotipado de ‘punk’ [como o carinha fantasiado que passou na calçada da minha casa]. O legal é que numa classe sobre punk rock, o professor pode falar palavras como ‘fuck’ e ‘shit’ naturalmente, mesmo estando numa sala na UCDavis! Próxima aula teremos hard core, straight-edge, skin heads e anarquistas.