Stuck Outside the Mobile – Verão de 2000
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[*recontando uma experiência bizarra….]
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Saí à tarde para ir à piscina e nadar um pouquinho. Nadei, encontrei a Ju, papeamos, voltamos pra casa lá pelas 6:30pm. Eu nem tirei o maiô nem tomei banho, porque sempre caminho com a Bia lá pelas 9pm. Fiquei de cloro mesmo…
Então fui caminhar e o Ursão ficou jantando. Eu nunca levo a chave da casa comigo, pois ela tem uma bolinha ying/yang de metal no chaveiro, que fica fazendo um bilingbilingbiling irritante. Mas sempre aviso o Ursão que ‘não tô levando a chave!’.
Mas ontem não sei por que cargas d’agua nao falei nada…
Caminhei com a Bia por uma hora, papeamos um pouquinho e lá pelas 10pm eu fui correndo pra casa, pra tomar um banho e relaxar. Encontrei a porta trancada e o Ursão sumido pro meio dos campos de tomate.
Ele está numa fase dura, que tem que estar nos testes com uma colheitadeira de tomates e às vezes tem que ficar rodando os campos à noite (que a colheita nao pára, é 24hs direto..). Muitas vezes ele fica por lá até 5am, outras vezes levanta às 4am e vai pro campo.E justo ontem ele tinha que estar no campo às 10:30pm pra fazer umas medidas.
Eu esmurrei a porta o quanto pude. O ar condicionado estava ligado e as luzes acesas. Me dá um nervoso, porque eu penso que ele pode estar lá dentro caído, desmaiado, sei lá… Corri pra casa da Bia, liguei pra minha casa, ninguém atendia. O marido da Bia foi bater na porta também. Nada. Eu toda suada, ensuvacada, de maiô por baixo da roupa de caminhar, uma bolha gigante doendo no calcanhar direito.. So queria um BANHO! Mas estava trancada pra fora da minha casa.
Ligamos pra outro amigo, que às vezes ajuda o Ursão nos campos. Ele disse que não sabia em qual campo o Ursão estava. Foram ele e o marido da Bia de campo em campo atrás do Ursão. Eu fiquei três horas sentada no sofá da casa da Bia… Acabei tomando um banho lá e vestindo umas roupas dela. Eu estava me sentindo podre. É até engracado, porque eu sou toda frescona com meus objetos pessoais, meus creminhos, meus óleozinhos, todos os detalhes da minha rotina e de repente, por causa de uma pequena chave, tudo isso ficou inacessível. Percebi que essa ‘normalidade’ em que vivemos com tanta naturalidade e que tomamos ‘for granted’ pode desmoronar em questão de segundos, por qualquer razão mínima. Sentada na casa da Bia eu imaginava a minha casa trancada, com tudo lá dentro, luz acesa, meu computer ligado, a aromaterapia queimando no abajour e eu lá fora, impossibilitada de entrar no meu mundinho.
Nem preciso dizer que os rapazes NãO acharam o Ursão (porque são muitos campos de tomates, e um é longe do outro) e que quando ele apareceu eu já estava de pijama, calcinha e pantufas da Bia, preparada pra dormir na caminha do filho dela. Voltei pra casa e fiquei me sentindo estranha. Ainda estou…. Nao pude parar de pensar na fragilidade de tudo… Um dia estamos aqui, no outro nao estamos mais e tudo mudou. Sei lá, mil coisas… Hoje é dia de ficar só morgando e pensando na vida (e fazer uma cópia extra da chave pra deixar num lugar secreto e seguro!).
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