memória olímpica
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Eu não ligo pra esportes. Na verdade, me aborreço e me irrito com competições em geral. Então é compreensível que eu não esteja nem aí pra campeonatos, copas e até para o buxixo da hora, as olimpíadas. Mas apesar disso, eu tenho algumas memórias relacionadas a este popular evento esportivo.
A primeira memória foi nas olimpíadas de 1992, quando eu estava desmontando a minha casa para me mudar para o Canadá e tenho uma cena gravada tão nítidamente na minha cabeça, que posso quase sentir o cheiro, o friozinho da época, o excitamento e o medo com relação ao nosso futuro. Eu estava deitada num colchão na sala vazia do meu apartamento em Piracicaba, lendo um livro e ouvindo sem prestar muita atenção um jogo de volei do Brasil numa televisãozinha em preto & branco. Eu estava matando o tempo e esperando o Ursão chegar para finalmente socar as últimas coisas no carro e irmos pra casa dos meus pais em Campinas, de onde sairíamos para a nossa aventura estrangeira sem volta.
A segunda memória é das olimpíadas de 2000. Eu tinha decidido, num daqueles meus impulsos inexplicáveis, ficar com a gata da minha amiga que estava se mudando para Palo Alto e não tinha achado alguém que quisesse o animal. Ela estava quase indo ao SPCA quando eu topei com ela nas minhas caminhadas diárias. A gata tinha um nome horrível e eu quis mudar. Mas que nome dar para ela? Pensa daqui, pensa dali e foi então que eu ouvi na tevê a notícia sobre a nadadora americana Misty Hyman vencendo a australiana Susie O’Neill, que era a favoritíssima na competição nos 200 metros de Borboleta. Foi um choque mundial, os australianos de rabinho entre as pernas e a Misty super na dela, modesta, singela e vencedora. Quietinha, levou todas! É a Misty, pensei! Juntei o nome da nadadora com o sobrenome de uma das cantoras que eu mais gosto, Macy Gray, e batizei a gata: Misty Gray. Depois descobrimos que a gata era gato numa longa e atrapalhada história. Mudou o sexo, mas o nome ficou.