swimming with Lucille

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Aconteceu de novo! Como a raia onde eu sempre nado já tinha quatro pessoas [e todas tão lesma-lerdas quanto eu], entrei na raia ao lado, onde só tinha um cara e uma menina. Não deu outra: uns minutos de nado livre e o cara já veio me perguntar qual era a minha velocidade. Quando eu respondi ‘bem devagar’, ele sugeriu sem meias palavras que eu passasse pra outra raia, onde estavam as quatro outras fulanas. Eu sempre respondo ‘não se preocupe comigo, pode me passar’ e tal. Mas os dois eram muito mais rápidos do que eu e me deram um baita estresse. Além do esforço de nadar em si, ainda me deu aquela agonia de pensar que eles iriam me alcançar. Fiquei tensa, tentando manter distância e deixando eles me passarem. Chegou uma hora que me deu um desânimo, pois eu nem estava aproveitando o exercício e a minha horinha de relaxamento na água. E não via uma saída pra situação: as raias pra cá eram pros nadadores mais rápidões e as de lá eram pros seniors. As únicas raias plausíveis eram a onde eu já estava, com os nadadores olímpicos e a raia ao lado, com as quatro figuras bafolejantes. Pedi socorro ao coach, que sem ao menos piscar me mandou pra raia dos seniors. ‘Vai naquela onde só tem uma pessoa’. Eu fui. Entrei na água com a maior cara de patza e com todos me encarando. Mas quando vi quem era a pessoa com quem iria dividir a raia abri um sorriso. Era a senhora de 94 anos, por quem eu tenho a maior admiração. O nome dela é Lucille!
Nadei feliz na raia dos seniors, acompanhada pela Lucille, que me fez sentir uma sereia. Deixei pra lá o orgulho ferido de ter sido transferida pro lado dos velhinhos, respirei aliviada por não precisar mais me preocupar com gente chata e competitiva e nadei, nadei, nadei, fazendo muitas bolhinhas de risada na água, afinal de contas não é qualquer um que consegue a façanha de decair tão rápidamente, da raia dos lentos para a raia dos seniors, e ainda merecer o privilégio de nadar com a Lucille.

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