o outono chegou
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Quando sento aqui pela manhã para ler e escrever, nunca sei o que vai acontecer. Vou ter uma luz inspiradora? Vou escrever algo engraçado? Algo interessante? Uma abobrinha sem medida? Não vou escrever nada? Vou ficar encarando a tela com uma cara de ponto de interrogação? Nunca sei. Gostaria de poder empolgar a platéia todos os dias, mas se até o Dylan faz seus shows medianos, eu posso muito bem me conformar com os meus dias desinspirados, não?
Chuva, ventania e FRIO aqui no norte da Califórnia. Fico nervosa, pensando quando vou poder nadar. Com chuva não tem condições…. Ontem foi um dia gloomy. Fui trabalhar na International House, onde tenho um dia por mês como docente. Não é nada excepcional, eu atendo o telefone [I-House, goodmorning, how may I help you?] e passo os telefonemas pra manager, diretor ou pra sua assistente. Cuido das vendas de ingresso, cartões da Unicef, atendo as pessoas que chegam pedindo informação, digo hellow para todo mundo que sobe para o escritório dos fellowships. E leio o New York Times, faço tricô e converso com a Julia, uma inglesa com um sotaque lovely que gerencia a casa. Ela me conta histórias fantásticas. Deve estar nos seus sessenta e tantos, setenta anos. Tem uma filha da idade do Ursão, que vive em New York. Ela me conta que tricotou toucas para os soldados ingleses na WWII, que foi ao Rio em 63 e dançou o carnaval nas ruas [exatamente como no filme Orfeu Negro, ela diz], que trabalhou na primeira agência de propaganda de Londres. Ela morou perto de onde o meu irmão mora hoje. Na época, ela contou, os aluguéis lá eram baratésimos. Alguns dos seus amigos compraram casas lá, que hoje valem milhões.
Óbviamente que ontem o assunto do dia foi A CHUVA! Como ficamos meses sem ver uma gota cair do céu, quando a água desaba é uma comoção geral! Agora vamos assim, com dias bonitos e dias feios, até lá pra abril. Casacos espanados, echarpes em fila indiana, botas lustradas, guarda-chuvas à postos. O outono chegou!