he loves you, yeah…

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De vez em quando eu cruzo com um cara na piscina. Ele sempre me cumprimenta sorridente e eu tento ser rápida, para não ter que me atrelar em nenhuma conversinha. O caso é que eu fui professora de um dos filhos dele e esse menino foi o maior problema que eu tive na minha breve, porém intensa, carreira de preschool teacher. Esse menino me deixava literalmente louca, de tanto que ele aprontava. Ele fazia coisas que pareciam planejadas para atrair a minha atenção e levá-lo a castigos. E a situação foi piorando gradativamente. Os castigos tornaram-se mais freqüentes e consequentemente ele fazia mais e mais coisas erradas, desobedecia as regras básicas da classe e desafiava a minha paciência. Ele fazia algo errado já checando com a cabeça virada, sorriso demoníaco na cara, pra ter certeza que eu o estava vendo no ato. Quando eu me virava e caminhava em direção a ele para disciplinar, ele já me esperava me olhando de frente, com a cara mais prazeirosa do mundo. Eu comecei a pensar que aquele menino tinha um problema psicológico, era um masoquista, gostava de ser punido. Eu fazia todos os procedimentos de “time out” permitidos pelas leis do estado da Califórnia e adotados pelo método Montessori, praticado na escola. E ele sempre acabava sentado na sala da diretora, pois eu exauria os castigos e ele continuava sorrindo e me enfrentando.
Um dia, depois de conversar com outras professoras mais experientes e com a diretora, decidi chamar o pai para uma conversa. Eu iria pedir uma colaboração dele, para trabalharmos em conjunto – escola e família – e tentar melhorar a situação, já que eu perdia um tempo enorme dando atenção negativa para ele e perdia de fazer coisas para e com a classe. Quando eu expliquei o caso para o pai, contando todos os detalhes do meu calvário diário com o filho dele, o cara sorriu e disse:
– vamos colaborar sim, com certeza, mas acho que já sei porque ele faz isso com você. ele TE AMA, Fernanda… ele é apaixonado por você! nós estamos cansados de ouvir o seu nome o tempo todo. é Fernanda isso, Fernanda aquilo, Fernanda aquele outro, tudo é Fernanda! ele quer que a gente coloque o nome da baby que vai nascer [a mãe estava grávida] de Fernanda. ele insiste que a baby seja chamada de Fernanda. e estávamos fazendo a lista de convidados para o aniversário dele no mês que vem e o primeiro nome da lista é o seu! ele quis convidar dois amigos e você, ninguém mais!
Fiquei CHOCADA com essa revelação. O menino queria a minha atenção exclusiva e descobriu que a melhor maneira de recebê-la, numa classe com outras onze crianças, era fazendo coisas erradas e desobedecendo. Melhor do que nada, né? Eu me ajoelhava pra conversar com ele, falava o nome dele toda hora [em tom de reprimenda, mas e daí?], pegava na mão dele para levá-lo para os “time outs” fora da classe, voltava toda hora para checar como ele estava se comportanto, conversar com ele sobre a situação. Era o paraíso!
Depois dessa conversa com o pai, as coisas melhoraram, pois eu entendi a dinâmica do comportamento do menino e os pais fizeram a parte deles em casa. Quanto à festa de aniversário, eu recebi o convite, agradeci, mandei um presente, mas não fui. Aí já iria ser um pouquinho demais, né?

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