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Eu sou bem tradicional nessas coisas de relembrar datas e celebrar dias especiais. Todo dia dois de janeiro eu tento comemorar, mesmo sendo um dia típico de ressaca, porque foi neste mesmo dia, quando todos estavam empanturrados da comilança e com dores de cabeça da bebelança do reveillon, que eu e o Urso nos casamos. Foi um casamento divertido, os padrinhos atrasaram, porque dormiram demais, tentando se recuperar da rebordosa da noite anterior. Eu, a noiva, tive que ficar dentro do carro, dando voltas no quarteirão, até nos certificarmos que todos os convidados especiais já estavam à postos no altar. O noivo já estava, ansiosissímo! Um amigo do meu irmão foi o chofer da limusine, a Caravan cinza do meu pai. A pequena igreja lotou e eu senti a maior vergonha de caminhar pelo tapete vermelho de braço dado com o meu pai com todo mundo me olhando com um sorrisão na cara. O padre fez um discurso sobre filhos e depois, soubemos que ele abandonou a batina, se casou e teve os seus próprios filhos. Eu fui uma noiva grávida no início da década de oitenta que mostrou o barrigão de cinco meses na igreja. Hoje eu sei que isso é super comum, mas na época não era. Usei um vestido de gestante curto e carreguei apenas uma orquídea de buquê. Eu tinha cabelos curtíssimos, não usei brincos, nem tiaras e detestei a minha maquiagem. Uma das amigas do meu irmão quando meu viu pronta para entrar no carro, me deu um abraço e me disse sorrindo – você é a noiva mais linda que eu já vi na minha vida! Hoje eu sei que a surpresa foi o vestido curto e a barriga. Eu estava nervosa e só me acalmei quando segurei a mão quentinha do Ursão no altar. Quando a cerimônia terminou, saímos da igreja à passos largos, quase correndo. Nos divertimos muito na festinha, que teve sorvete, bolo e champagne para um grupo colorido de família e amigos. Não dá pra esquecer um evento como esse, que aconteceu vinte e três anos atrás!

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o passado não condena