No Direction Home

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Martin Scorsese é realmente um goodfella. Não só porque ele é um grande diretor de filmes inesquecíveis, mas também porque nos passa aquela idéia de que é um cara simples, um vizinho ajudando com palpites úteis, um tio carinhoso que dá abracos, um parente simpático que envia cartões de Natal, um amigo que ouve suas histórias com atenção. Acho que eu me sentiria à vontade na frente dele, falando com ele ou para a câmera dele. Penso que Bob Dylan também se sentiu à vontade, pois acho que nunca o vi em filme assim tão feliz, relaxado, falando sem restrições, sem aquela cara de esfinge que é a sua marca registrada.
No filme-documentário de Scorsese No Direction Home: Bob Dylan, que a rede pública PBS está mostrando em duas partes, Dylan se revela. Pra uma fãnática como eu, foram duas horas de puro prazer! O filme se concentra nos primeiros anos da carreira de Dylan, de 1961 à 1966, quando ele se eletrifica e é criticado e chamado de Judas pelos seus fãs.
As pessoas aqui me olham com uma cara de incredulidade quando eu, uma brasileira, revelo a minha paixão pelo Dylan. É realmente inexplicável o que aconteceu comigo desde a primeira vez que ouvi uma das músicas dele – que deve ter sido Lay Lady Lay, quando eu ainda era uma pré-adolescente. A música desse artista tem um poder sobre mim que ultrapassa as barreiras da língua e do entendimento. Eu fui fã do Dylan por anos, sem entender uma única palavra do que ele cantava. Eu sempre digo que o meu único interesse em aprender inglês – que nem vinha carregado de muita dedicação – era para entender o que o poeta cantava. Consegui finalmente, porque acabei acidentalmente virando uma estrangeira. Hoje posso dizer que não só a música, mas a poesia do Dylan fala diretamente para mim. Tudo o que ele canta faz sentido, toca um sino, me faz sorrir ou chorar, me carrega junto.
Exagero, não? Que nada. Ontem, assistindo à primeira parte de No Direction Home: Bob Dylan, tive uma epifania explicativa para essa minha história. Logo no inicio, contando como descobriu a vitrola com um disco de música country dentro, Dylan conta como o som daquela música fez ele se sentir uma outra pessoa, como se ele tivesse nascido em outro lugar. Acho que é exatamente isso que a música provoca: penetra nas profundezas do subconsciente e mostra quem você realmente é, o lugar ao qual você pertence e a sua missão neste mundo.
A música de Bob Dylan provocou esse efeito em mim quando eu ainda nem sabia quem eu realmente era e qual era o meu propósito nesta vida. Muitos anos depois eu ainda não me encontrei completamente, mas com certeza a música desse homem tem me inspirado à beça pelo caminho.

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nodirectionhome.jpg

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  • Querida Fer,
    eu também tenho uma imensa ligação afetiva com o Bob Dylan. Sou mais velha do que você, então acompanhei o seu começo, as musicas de protesto, a primeira guitarra elétrica, seu caso com Joan Baez (muito chata), a reclusão, as brigas com a imprensa. E a maravilhosa e inspiradora musica. que sempre, sempre me acompanha.
    Ja li a autobiografia que foi editada no Brasil claro, e até dei uma nota sobre esse documentário do Scorcese lá no meu blog. O que foi tambem pretexto para publicar uma das muitas lindas fotos que tenho dele.
    Vou te mandar uma.
    Ah, o Scorcese fez, nos anos 70, um maravilhoso documentario sobre o show de despedida de The Band, a banda que acompanhava Dylan. Chama-se The Last Waltz. Você viu?
    Dizem que Dylan e Scorcese começaram uma amizade na época desse filme. Acho que isso ajudou para que ele ficasse tão à vontade nas entrevistas, como vc diz.
    Tou louca pra ver o filme!
    beijo, bom fim de semana!
    (mandei essa msg tb no Cinefilia, está aqui pq não sabia qual vc ia ler primeiro! ;D)

  • Solange, eh exatamente isso! na mosca! 🙂
    Leila, se eu nao tivesse o Dylan hoje, nao sei se teria ninguem…
    Liliane, otima ideia essa do radio! :-))
    Wagner, peo menos Blowin’in the Wind e Like a Rolling Stone voce ja deve ter ouvido. Coloquei uma serie la no Multiply pra voce!
    Meg, esse baixinho eh fogo na cangica! Imagina a qtidade de correspondencia que esses dois recebem? Mas vou pensar no caso…. 😉
    Filipa, acho que vai ser lncado loguinho, viu? Aguarde!
    BeijoS!!!

  • pois, tb eu gosto muito dele. estou a acabar a autobiografia e adoraria ver esse documentário. mas em portugal será complicado… espero pelo dvd. ainda bem que é ass tão bom!

  • Wow!!!!!
    Agora que eu li…putz!
    Que linda, magnífica declaração de vida e amor pela música e – claro – pela vida.
    Que tanto Bob Dylan quanto Scorsese gostariam de receber. Por que não escreve para ele(s)? Falando sério, Fer?
    Muito bonito. E você, eu já lhe disse, hein? está cada vez escrevendo melhor quer sobre o íntimo – quer dando o sabor do humor em seus escritos.
    Lindo, muito, lindo!
    Muitos beijos

  • Fezoca querida, por justiça, eu é que tinha que ser a primeira a comentar.
    Eu soube, me lembrei logo de você e…aaaah!
    Até comentei que o meu baixote Scorsese é mesmo um gigante.
    E o *seu* Bob não podia estar em melhores mãos.
    Olhe, agora que eu vou ler o post hohoho, fiquei tão excited que quis logo comentar:-)
    beijos, minha querida

  • Correndo o risco de ser apedrejado, confesso que nunca ouvi nada (ao menos que eu me lembre) do Bob Dylan — apesar de conhecê-lo muito de nome.
    Espero que a segunda parte do filme-documentário seja tão prazerosa ou mais que a primeira.
    Beijo.

  • Fernanda, adoro música americana. Desde o tempo que não entendia nada, nadinha e até cantava como papagaio. E já avisei que no meu caixão, sim pq não quero mais ser cremada, é preciso que coloquem um rádio ligado na Antena1, que só toca o que gosto. Bob Dilan, é maravilhoso.
    Liliane

  • Tenho certeza que o documentário é excelente. Não vi por falta de oportunidade…
    Poxa, e eu adoraria ser fanática por algum músico ou banda atualmente. Mas nada me desperta as paixões musicais que eu tinha quando era mais nova.

  • E eu, que por uns bons dez anos ‘esqueci’ do tanto que música faz bem a alma. Ô tempo perdido… Mas sei exatamente do que você está falando.
    Como diz meu ídalo João do Méier, “I live an entirely different outter life because of the inner life that I have through music”
    Beijocas

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